Estes carros importados marcaram o fim da “era das carroças” no Brasil


“Comparados aos carros do primeiro mundo, os brasileiros são verdadeiras carroças.” O dono da lendária frase é Fernando Collor de Mello, 32º presidente da República, responsável pela reabertura das importações de automóveis no Brasil, em 1990. Vender carros produzidos fora do país era proibido desde 1976, quando o regime militar tentou impulsionar a indústria local com a medida protecionista.

Em mais uma reportagem do especial de 60 anos, Autoesporte andou em três dos carros mais procurados pelos patrões e bacanas na chamada “era da reabertura”: Mercedes-Benz 230E, Volvo 960 e Ford Taurus. Não esqueça de acompanhar também a série especial que lançamos em nosso canal no YouTube.

Até a liberação das importações de veículos, os brasileiros interessados em carros de luxo se contentavam com um Volkswagen Santana, um Ford Landau ou algum fora de série com carroceria de fibra de vidro. Os mais fanáticos podem até recordar do Santa Matilde, um cupê com visual alemão feito sobre a plataforma do Chevrolet Opala. Portanto, imagine a surpresa quando os primeiros carros “gringos” desembarcaram por aqui, com toda a pompa e o garbo dos europeus e americanos.

É o mais antigo dessa tríade. Segundo o dono da coleção, Fernando Arrivabene, o sedã chegou ao Brasil em 1991, por Fortaleza (CE). É quase certo que a unidade que testamos não tenha sido importada 0 km. Isso porque, no início da reabertura, alguns veículos entravam no país mesmo usados, quase todos registrados na capital cearense.

Uma curiosidade que torna esse clássico alemão um carro desejado é o seu pacote de equipamentos. A maioria dos Mercedes 230E chegava ao Brasil na configuração mais cara, com câmbio automático, bancos de couro e vidros elétricos. O carro de Arrivabene tem caixa manual, revestimento apenas de tecido e janelas com abertura pela manivela.

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Ao dirigir, poucos carros me impressionaram tanto. Pude entender por que ele foi um dos últimos Mercedes com “engenharia excessiva”. A plataforma W124 data da década de 1970, mas parece ter sido desenvolvida anteontem, tamanho o refinamento e robustez. O silêncio interno enquanto o motor 2.3 de quatro cilindros e 130 cv ronrona mostra que o isolamento acústico está em dia. Ademais, o ajuste da suspensão é firme e parece adequado para um passeio agradável aos domingos.

A ergonomia do 230E é maravilhosa. É tão fácil ficar confortável que o pomposo sedã aparenta ter ajustes de altura e profundidade no volante (algo que não existia na época). O banco traseiro abraça as costas do passageiro e mostra por que esse Mercedes é usado como táxi em vários países até hoje. Elegante, mas pau para toda obra!

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O sedã sueco chegou ao Brasil em 1995, adquirido por uma empresa como carro de frota para executivos. Por isso, foi blindado e teve o teto solar lacrado com uma placa metálica preta. Após essa geração, a Volvo abandonou o nome 960 (ou Série 900) e passou a chamá-lo de S90, que é a nomenclatura utilizada até hoje.

O acabamento surpreende pelo vasto uso de materiais emborrachados e madeira de excelente qualidade. O banco traseiro tem uma espécie de cadeirinha de criança embutida no apoio de braço central, algo que eu nunca havia visto. Há até uma abertura para rebater o assento e colocar um esqui.

Sob o capô, o potente motor 2.9 de seis cilindros em linha distribui 180 cv às rodas traseiras. De fato, o Volvo tem o comportamento mais vigoroso do trio, mas o volante de curso longo e a suspensão macia mostram que esse carro deve ser acelerado com cautela.

O Ford Taurus tinha pompa e classe, mas não o refinamento dos outros dois. O modelo da coleção foi faturado por uma concessionária no Rio Grande do Sul em 1995, mas algumas unidades chegaram ao Brasil via importação independente anos antes, com um pacote diferente do “oficial”.

Por exemplo, elas traziam os bancos dianteiros inteiriços, e a alavanca de câmbio — automático de quatro marchas — ficava na coluna de direção. Na versão importada oficialmente pela Ford, além da manopla de câmbio ficar no console central, os bancos individuais eram instalados localmente.

Nota-se que, diferentemente do Mercedes e do Volvo, o Taurus já tem cara de carro do final dos anos 1990. As linhas arredondadas, moda na época, não deixam mentir. Equipamentos como bancos dianteiros com ajustes elétricos e volante multifuncional mostram por que os sedãs premium da Ford eram tão desejados.

O motor V6 de 141 cv é o mesmo que equipava a versão mais cara do Taurus nos Estados Unidos. Por mais que falte um pouco de fôlego para empurrar seu corpanzil de uma tonelada e meia (a tração é traseira), dirigi-lo é agradável. Contudo, o painel com muito plástico rígido faz bem mais barulho que o dos outros dois sedãs.

Dizer que os carros de antigamente eram melhores pode ser papo de saudosista. Mas, após experimentar esses sedãs, não vou mentir: por alguns minutos, caí na armadilha do saudosismo também.

Sedãs de antigamente tinham muitos números superlativos (e outros nem tanto…)

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Fonte: direitonews

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