“Claro que essa ambiguidade gera incertezas. Na economia, se as medidas anunciadas por Milei forem implementadas, a Argentina aprofundará substancialmente sua crise e isso nos afetará, pois tirando a China e os Estados Unidos, nosso maior parceiro comercial é a Argentina.”
Qual é o papel do Mercosul nas relações Brasil e Argentina?
“No entanto, há no imaginário popular a ideia de que qualquer acordo comercial favorece desproporcionalmente os mais ricos e essa lógica é sistematicamente capturada e manipulada por políticos, sobretudo os populistas.”
“O próprio Milei já reconheceu isso ao recuar da ideia de tirar a Argentina do Mercosul. No entanto, me parece que os próximos anos serão muito desafiadores, de bastante estresse para o bloco, e testarão sua resiliência.”
Posse de Javier Milei
“Contudo, outra característica conhecida da política argentina é a velocidade que mudam de ideia. Portanto, se os primeiros meses de governo de Milei não trouxerem elementos que apontem melhoras significativas, a oposição será forte e rápida. Diferente do Brasil, a capacidade de mobilização lá é alta, tanto à esquerda quanto à direita. Em anos não tão distantes, tais mobilizações derrubaram presidentes.”
“Não convidar Lula não era uma opção, é uma questão elementar de protocolo diplomático e é preciso diferenciar as coisas. Lula é convidado do Estado argentino, Bolsonaro é convidado pessoal do presidente eleito. Acho que Milei está sendo gradativamente convencido de que a abordagem de política externa que ele prometeu em campanha é insustentável, e isso inclui a necessidade de moderar o comportamento em relação ao Brasil e ao governo Lula.”
“A escolha é um aceno ao Brasil e também sugere que Milei se convenceu da necessidade de uma abordagem mais pragmática em relação ao governo Lula, a despeito da visão pessoal que ele possa ter do presidente brasileiro.”
Qual a ideologia do novo presidente da Argentina?
“Ele já vem moderando seu discurso desde que ganhou as eleições para conseguir ter alguma certa governabilidade. Isso inclui fazer aliança com a Patricia Bullrich, que foi a candidata que ficou em terceiro lugar, e o ex-presidente Mauricio Macri.”
“Mas essa institucionalidade também presente nas relações diplomáticas entre Brasil e Argentina não podem ser rompidas de forma tão estanque e simples como ele prometeu. Sobretudo porque o Brasil, junto com a China, é o principal parceiro econômico da Argentina. Então, todo aquele discurso de campanha já se imaginava que quando a realidade se apresentasse, ele voltaria atrás desse discurso.”
“Contudo, me parece um pouco irreal que o Milei vá fazer uma diplomacia presidencial. Não parece que ele vai fazer grandes esforços para que os organismos de integração latino-americanos avancem. Como ele disse no discurso, vai priorizar relações com os Estados Unidos e Israel […]. Ainda assim, contudo, me parece que, ao mesmo tempo, ele não acabará ou desmantelará essa institucionalidade, porque isso prejudicaria muitos setores empresariais.”
Como é a democracia da Argentina?
Fonte: sputniknewsbrasil