Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista, que foi diretor da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e do Departamento de Operação do Sistema Viário (DSV) e secretário interino de Serviços e Obras de São Paulo, destacou que os sindicatos chegaram a propor ao governo paulista que a paralisação fosse substituída por um dia de “tarifa zero”, pelo menos no metrô — as entidades representam trabalhadores da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
“É importante ressaltar que, de maneira bastante correta, pelo menos o sindicato dos metroviários propôs a catraca livre ou a tarifa zero. Na verdade, a questão não era pressionar os cidadãos, mas, sim, a arrecadação, algo que interfere no governo e nas empresas”, disse.
A resposta do governo, pontua o professor, foi absurda, ao dizer que a “população não está capacitada” para usar um transporte público gratuito.
“Houve tarifa zero [nos ônibus] no domingo em São Paulo, devido às eleições dos conselhos tutelares, e isso nem foi manchete na mídia, porque nada de estranho aconteceu. O que o governador disse é um insulto às pessoas, insinuando que elas não são capazes de gerenciar seu próprio dinheiro”.
O principal objetivo da greve é evitar a desestatização, tanto do transporte público quanto do serviço de abastecimento de água. Para o especialista, a operação privada requer uma tarifa que remunere o capital dos investidores, o que “inevitavelmente” aumentará custos para os usuários.
“A ideia de que a privatização resultará em mais investimentos e tarifas mais baixas é enganosa, tanto pelo governador quanto por quem a defende […] Também é absurdo pensar que o serviço público dependa do lucro e da distribuição de dividendos para acionistas privados”, frisa.
Do outro lado, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) usou a privatização como uma das suas plataformas eleitorais para vencer o pleito. Conforme Freitas, a população será consultada e o processo para a CPTM, Metrô e Sabesp ainda está em fase de estudos.
Greve ilegal e abusiva
Em postagem nas redes sociais, Tarcísio considerou o movimento como ilegal e abusivo, por não ter cumprido a escala definida pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) — circulação de 100% dos trens nos horários de pico (das 06h00 às 09h00 e das 16h00 às 19h00) e de 80% nos demais períodos.
“É lamentável que a população de São Paulo acorde mais uma vez refém de sindicatos que manobram os trabalhadores do transporte público estritamente por interesses políticos e ideológicos”, disse ele.
Segundo o professor Mauro Zilbovicius, a paralisação dos trabalhadores faz parte do “jogo democrático”.
“É pressionar o governo a partir do transtorno [no transporte público] e a população, infelizmente, sofre com isso”, argumenta.
Só o metrô, que tem quase 105 km de extensão e é um dos maiores da América Latina, recebe cerca de 3,7 milhões de pessoas por dia. Já nos trens, dados da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) apontam 1,9 milhão de pessoas transportadas diariamente.
Ampliação do transporte por ônibus não resolveu problema
Uma das estratégias do poder público para minimizar o impacto da paralisação em São Paulo foi ampliar o quadro e o horário dos ônibus. Mas o diretor do FGV Transportes, Marcus Quintella, afirmou à Sputnik Brasil que a medida ficou longe de resolver o problema.
“Então, é uma questão realmente que precisa ser resolvida ao fim da greve, porque a substituição de um transporte de massa é muito difícil”.
Com relação à desestatização do sistema de trens e metrô, o especialista traz como ponto positivo a busca pela eficiência e eficácia que o ente privado supostamente se propõe, além de mais facilidade para movimentar o dinheiro para investimento e contratação.
Ainda não há uma definição sobre os rumos do movimento. Procurado, o governo de São Paulo não se pronunciou sobre a questão da tarifa zero até a publicação desta matéria.
Fonte: sputniknewsbrasil