“O primeiro ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, tem feito o trabalho sujo dos EUA, como [Vladimir] Zelensky está fazendo na Ucrânia”, disse à Sputnik o professor Alfred de Zayas, antigo especialista independente em política internacional da Organização das Nações Unidas (ONU).
“Ele é um traidor do seu povo, vendendo-se aos interesses americanos. Se estivesse defendendo os direitos dos armênios, teria levado os ataques do Azerbaijão contra a Armênia e Nagorno-Karabakh à Assembleia Geral da ONU e feito uma denúncia ao procurador do Tribunal Penal Internacional. Ele deveria ter remetido o caso ao Tribunal Internacional de Justiça como um genocídio contínuo“, afirmou o autor de dez livros, incluindo “A indústria dos direitos humanos” e “Construindo uma ordem mundial justa”.
O “fim de Nagorno-Karabakh” é muito mais do que um fracasso da política externa do primeiro-ministro da Armênia, concordou Aleksandr Konkov, professor associado do Departamento de Análise Política da Universidade Estatal Lomonosov de Moscou. É um testemunho do “colapso do modelo geral de política pró-Ocidente no Cáucaso”.
“Pashinyan caiu na mesma armadilha que [Mikhail] Saakashvili, cujas ações resultaram na perda da Abkházia e da Ossétia do Sul pela Geórgia, ao apostar na aplicação universal dos valores ocidentais na resolução de conflitos regionais. Em vez de procurar chegar a acordos dentro da região e procurar soluções para as realidades que se desenrolavam no terreno, ele começou a procurar apoio muito além da própria região”, explicou Konkov.
Objetivo é “expulsar a Rússia da região”
Durante as últimas tensões em Nagorno-Karabakh, diplomatas dos EUA, incluindo a chefe da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID), Samantha Power, e Yuri Kim, secretária de Estado adjunto dos EUA para Assuntos Europeus e Eurasiáticos, foram rápidos em se deslocar para a capital da Armênia, Yerevan.
A visita, feita na última segunda-feira (25), procurou “afirmar o apoio dos EUA à soberania, independência, integridade territorial e democracia da Armênia, e abordar as necessidades humanitárias decorrentes da recente violência em Nagorno-Karabakh”, segundo uma publicação da Embaixada dos EUA.
Aleksandr Konkov afirmou que os Estados Unidos têm os olhos postos em um objetivo específico: “Expulsar a Rússia da região“.
Agora as autoridades dos EUA procuram atribuir a culpa dos acontecimentos não a Yerevan em si, mas à Rússia, sublinhou.
Conflito em Nagorno-Karabakh
Nagorno-Karabakh é uma região na Transcaucásia. A esmagadora maioria da população é armênia.
Em 1923, a região recebeu o status de região autônoma dentro da República Socialista Soviética do Azerbaijão. Em 1988, começou em Nagorno-Karabakh um movimento de reunificação com a Armênia. Em 2 de setembro de 1991, o Azerbaijão proclamou a sua independência, e o nome da região autônoma mudou para república de Nagorno-Karabakh. De 1992 a 1994, o Azerbaijão tentou assumir o controle da autoproclamada república. Nessa ação militar de grande escala morreram cerca de 30 mil pessoas.
Em 1994, as partes concordaram em estabelecer um cessar-fogo, mas o status do território nunca foi determinado. No final de setembro de 2020, os combates recomeçaram em Nagorno-Karabakh. Na noite de 10 de novembro, o Azerbaijão e a Armênia, com o apoio de Moscou, chegaram a um acordo para cessar completamente as hostilidades, permanecendo nas posições ocupadas, trocar prisioneiros e os corpos dos mortos. Na região foram implantadas forças de paz russas, inclusive no corredor de Lachin.
No ano passado, Yerevan e Baku, com a mediação de Rússia, EUA e União Europeia, iniciaram discussões sobre um futuro acordo de paz. No final de maio deste ano, o premiê armênio, Nikol Pashinyan, disse que seu país estava pronto para reconhecer a soberania do Azerbaijão nas fronteiras soviéticas, ou seja, junto com Nagorno-Karabakh. Em setembro, o presidente russo, Vladimir Putin, chamou a atenção para o fato de que a liderança armênia, em essência, havia reconhecido a soberania do Azerbaijão sobre Nagorno-Karabakh. O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliev, disse que Baku e Yerevan podem assinar um acordo de paz antes do final do ano, a menos que a Armênia mude sua posição.
Fonte: sputniknewsbrasil