Especial híbridos: BYD King faz 18 km/l; será que é o rei da eficiência?


Este texto faz parte do especial sobre carros híbridos publicado na edição 709 da revista Autoesporte, que traz nossa vivência com os veículos durante o recesso na virada do ano. Todos os demais testes que compõem o conteúdo podem ser encontrados aqui. Boa leitura!

“Aquele que reina dentro de si e governa paixões, desejos e medos é mais do que um rei”, escreve John Milton em Paraíso Retomado. Consigo traçar paralelo entre a sentença e os meus dias com o BYD King GL, versão de entrada do sedã chinês, com o qual dividi as festas de fim de ano.

Embora seja aberto a novas tecnologias, ainda sou rabugento, apaixonado por carros puramente a combustão. Além disso, por mais que um híbrido plug-in não necessite obrigatoriamente do conjunto de baterias para tracionar as rodas, sempre temo ficar sem carga em dado momento. Coisa de maluco. Por isso, passa longe do meu ser o desejo por um eletrificado. Desse modo, sou plebeu.

E a plebe depende de um bom rei. Assim como eu dependia de um veículo no mínimo eficiente em minha jornada de São Paulo a Macaé (RJ). São 630 km separando a megalópole paulista da “capital nacional do petróleo”. No trajeto, encarei a BR-116 e a BR-101, incluindo trecho de serra com curvas sinuosas tanto na ida quanto na volta.

Existe amor em SP, mas, no dia da viagem, a cidade era pura melancolia. Caía uma chuva fina e minha única bagagem (homens solteiros, minha gente) passou longe de ocupar os 450 litros de volume do porta-malas do King.

Tentei me entender com a central multimídia de 12,8″, que nem por decreto aceitava o Apple CarPlay. Uma das virtudes de um rei é a paciência, mas plebe e burguesia querem logo cabeças. Irritado, após muitos goles no café que levava em garrafa térmica, consegui, enfim, que o King GL me “concedesse a honra” de ativar o sistema operacional.

Waze a postos e Spotify “no jeito”, dei início à minha viagem solitária. Até pensei em levar os pets na empreitada, como fizeram alguns colegas da redação. Mas os felinos são arredios e não curtem sair de casa. Portanto, o “tio dos gatos” teve de deixar Jane Austen, Lonzo Ball e Sebastian Vettel sob os cuidados de uma babá.

A viagem, em si, foi tranquila, mas o King demanda acerto de suspensão um pouco melhor. Mesmo em curvas não tão acentuadas, se o condutor não estiver atento, pode sucumbir às demasiadas inclinações da carroceria. O conjunto não foi tropicalizado e também sofre ao encontrar trechos mais acidentados e quebra-molas.

O isolamento acústico, no entanto, é bom, e o desempenho, adequado. A união entre motor 1.5 aspirado a gasolina de 110 cv e elétrico de 179 cv garante boas retomadas. A potência combinada da versão GL, de entrada, é de 209 cv, e o zero a 100 km/h ocorre em 7,9 segundos.

Fiz duas paradas para recarga das baterias Blade de 8,3 kWh (com 32 km de autonomia declarada no Inmetro) na primeira perna. A primeira foi em Guararema (SP), onde esperei 22 minutos para recuperar 14% e voltar aos 70% de alcance. Afinal, o sedã é incompatível com carregadores rápidos (DC), aceita apenas recarga em corrente alternada (AC), a meros 3,3 kW… Fato curioso é que, além do King GL, outros dois BYD, Han e Yuan Plus, estavam carregando no mesmo eletroposto.

Minha segunda parada ocorreu 180 km depois, em Queluz (SP). Como o trânsito estava mais truncado, esperei 35 minutos por uma nova recarga, de 1,97 kWh, para que o alcance voltasse a 70%. Foi o tempo de tomar um energético.

Na viagem de ida, em descida, devido ao sistema regenerativo da bateria, obtive números de consumo bem interessantes: média de 23,8 km/l, chegando, em alguns momentos, a 31,2 km/l. Já de Macaé para São Paulo, subida, o King GL fez 18,5 km/l.

Na volta, aliás, fiz apenas uma parada para recarga, de 10 minutos e 0,46 kWh. A missão era “esgotar” a bateria, que chegou ao seu pior rendimento, mas, mesmo assim, garantiu números justos de consumo por causa da recuperação de energia. Em modo puramente elétrico, bom dizer, o King fez 4,1 km/kWh.

Na jornada, abasteci o carro três vezes. As duas primeiras, de R$ 100 cada, foram em Macaé; coloquei 16,4 litros e 15,7 l, respectivamente, no tanque. Durante minha estada na cidade, encontrei um ponto de recarga DC — que não atende ao King.

Ao retornar para São Paulo, parei em Queluz e coloquei mais 17 litros (R$ 100) no tanque, que tem capacidade para 48 litros. Foi o suficiente para dar um rolê em ciclo misto na capital e em São Sebastião (SP), fazendo 15,2 km/l com tranquilidade. Na cidade, sem tantos declives, uma ligeira queda para 14,8 km/l.

O BYD King, de fato, mudou minha percepção sobre híbridos plug-in. Mesmo com alguns pequenos galhos, é eficiente. Por R$ 179.900, a versão GL não chega a ostentar a coroa, mas é um herdeiro digno. E eu? Sou apenas um tonto. Por isso, se iniciei este texto com John Milton, finalizo com Romário: “Agora a corte está completa: o rei, o príncipe e o bobo”.

Pontos positivos: Silencioso e surpreendentemente econômico
Pontos negativos: Acerto da suspensão e falta de recarga rápida

Quer ter acesso a conteúdos exclusivos da Autoesporte? É só clicar aqui para acessar a revista digital.

Fonte: direitonews

Anteriores CNJ prolonga afastamento de juiz Marcelo Bretas por mais 90 dias
Próxima Sistema Elétrico Brasileiro Quebra Recorde de Demanda de Carga pela 5° Vez em 2025, Impulsionado pela Onda de Calor