“Eu não sei os motivos, se é erro de métrica de todos os institutos ou se é um erro, porque os evangélicos não gostam de manifestar sua opinião quando são pesquisados. Pode ser uma das duas coisas, não quero ser leviano. Eu não acredito que seja maldade, mas já na época da eleição do presidente [Jair] Bolsonaro, os institutos de pesquisa falavam que o segmento evangélico era 50% a 50% [metade a favor do então presidenciável Fernando Haddad, metade a favor de Bolsonaro].”
“Nesse primeiro ano de governo eles ainda estão colhendo louros do resultado econômico da gestão anterior. Mas daqui a pouco, como já começou a piorar a economia, isso vai refletir em números péssimos para o atual governo.”
“Os meios que a esquerda opera para obter esses votos são os piores possíveis. É lamentável ser dessa forma, porque eles sabem que, se for pelo viés ideológico, nunca mais terão majoritariamente o apoio do segmento evangélico. Não só por causa da questão da afronta aos valores, mas por causa da questão dos escândalos enormes de corrupção que tiveram os seus governos e que eles até hoje nunca assumiram.”
“Eles foram muito claros, desde o início, em não dizer [que o Hamas é um grupo terrorista], porque a ONU [Organização das Nações Unidas] não reconhece ainda o Hamas como grupo terrorista. […] Depois, quando ele [Lula] fala que o Hamas praticou terrorismo, ele não chamou o Hamas de grupo terrorista, […] falou que praticaram terrorismo. Aí ele diz que a reação de Israel foi uma prática de terrorismo igual, igualando um Estado soberano, democrático, a um grupo terrorista. Foi um desastre.”
“Eu admiro isso nele, só que a realidade que está posta no Brasil não permite mais, na minha percepção, esse purismo. Ele, na minha visão, tem que conversar e abrir um diálogo com lideranças evangélicas […]. Se o governo não for capaz de conversar com os evangélicos, a tendência é que aquilo que foi só um elemento contributivo nas eleições e depois passou a ser o pêndulo da balança se tornará, de fato, determinante nos próximos pleitos”, ressalta Dusilek.
“A gente corre o risco de ter esse projeto de poder, de um ‘evangelistão’ acontecendo no Brasil. Os mais entusiasmados [desse segmento] não querem Bolsonaro. Eles querem um líder cristão, com pedigree cristão evangélico. Eu tenho muita preocupação com esse esquecimento.”
“São políticos evangélicos surfistas. Eles sempre colocam a prancha na direção de alguma coisa. O fato é que esse diálogo que nós estamos tendo precisa ser um diálogo com gente que tenha algum tipo de caráter digno, para que o governo não seja de novo traído. Ao ajudar com a concessão [de canais de rádio e emissoras de televisão] os políticos que usam a prancha de surf, essa concessão acabou se voltando contra o próprio governo, e isso é uma coisa bem preocupante.”
“A melhoria da aprovação do governo Lula 3 dentro dos [setores] evangélicos pode ser explicada por uma sensação de bem-estar econômico que está começando a surtir efeito nos segmentos, não da base da pirâmide, mas aqueles que estão logo acima da base da pirâmide. São segmentos intermediários, […] não são os absolutamente mais pobres, mas aquela classe média muito baixa, com dois a cinco salários mínimos.”
“No que diz respeito às pautas de direito civil, o governo Lula 3 está fazendo uma aposta em deixar isso relativamente de lado, tirar a ênfase discursiva nesses temas. Eu não gosto de falar ‘temas morais’, porque para mim eles são mais do que temas morais. Racismo, feminicídio, machismo, homofobia não são temas propriamente morais. Eles dizem respeito aos direitos civis das minorias.”
“É uma disputa para manter aquela base eleitoral. Há certo risco de a proximidade com aquilo que é identificado como esquerda prejudicar a pessoa, o líder, enquanto líder de um nicho que, de determinada maneira, se entende como de direita. Sabendo que essas categorias, direita e esquerda, são símbolos […], e que esses símbolos servem para dar coesão, atrair grupos diferentes com interesses diferentes dentro de um grande sujeito político.”
Fonte: sputniknewsbrasil