GUARULHOS, SP – Palco de uma das maiores tensões recentes entre China e EUA, Taiwan sempre esteve na órbita de Pequim, mas já viveu sob o jugo de outros domínios: foi colônia holandesa no século 17 e domínio do Japão do final do século 19 até a Segunda Guerra Mundial.
A ilha viveu sob influência de autoridades de Pequim do final do conflito até a Guerra Civil chinesa, encerrada em 1949. À época, nacionalistas que haviam sido derrotados pelas tropas de Mao Tse-tung, que instauraria o regime comunista de partido único na China, fugiram para Taiwan e ali forjaram um governo capitalista.
A região de 23 milhões de habitantes se autodenomina independente, mas Pequim a considera uma província separatista rebelde que deve ser recuperada –à força, caso necessário.
Apenas 14 países a reconhecem como uma nação, sendo a maioria da América Latina e do Caribe -como Guatemala e Haiti. O isolamento diplomático é, em grande parte, fruto da pressão exercida pela política de “uma só China”, segundo a qual países só podem ter relação com Pequim, gigante econômica, ao romperem laços com Taipé.
O imbróglio geopolítico com Washington, com quem a China trava uma Guerra Fria 2.0, nasce daí. Os EUA estabeleceram laços formais com Pequim em 1979, mas descrevem Taiwan como uma parceira-chave na região do Indo-Pacífico, onde também disputam influência com o regime comunista asiático, e mantêm relações econômicas e militares com a ilha.
Ao se tornar a mais alta autoridade americana a visitar Taiwan em 25 anos, Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados, atingiu diretamente pontos sensíveis da administração do líder Xi Jinping.
A caminho de consolidar seu terceiro mandato como dirigente do regime chinês, Xi tem alçado Taiwan novamente como uma das prioridades de Pequim. Reiteradas vezes ele afirmou que o objetivo de rejuvenescimento nacional, meta para o centenário da República Popular da China, em 2049, incluiu a reunificação do país.
“A tarefa histórica da reunificação completa da pátria deve ser e será definitivamente cumprida”, afirmou, em meados de outubro passado.
O discurso coincide com a mudança de postura dos Estados Unidos em relação a Taipé durante o governo de Joe Biden –o presidente americano já disse, por exemplo, que os EUA usariam a força para defender a região caso ela fosse invadida militarmente pela China.
Inúmeros exercícios militares foram registrados nos últimos meses, e Pequim chegou a realizar a maior incursão aérea contra defesas de Taiwan em sua história. Taipé, por sua vez, já tem até cartilhas prontas para reagir a uma possível invasão e realizou exercícios de treinamento.
De certo modo, a Guerra da Ucrânia também se tornou ingrediente de tensão. Afinal, no Leste Europeu, a Rússia -uma aliada da China no xadrez geopolítico- também invadiu um território menor e militarmente mais fraco com o qual sua história está entrelaçada.
Com PIB avaliado em US$ 669 bilhões, segundo cifras oficiais, Taiwan hoje é considerada uma democracia. As primeiras eleições presidenciais diretas foram realizadas em 1996, quando Lee Teng-hui (1923-2020), que já estava no cargo, foi eleito pelo voto popular. Ele é conhecido como “o pai da democracia taiwanesa”.
A atual presidente é Tsai Ing-wen, reeleita em 2020. Na ocasião, ela, avessa à reaproximação com Pequim, recebeu quase 8,2 milhões de votos, o máximo que um candidato conseguiu desde 1996.