‘Emparedamento’ de Campos Neto põe em risco o êxito de combate à inflação


‘Emparedado’ de todos os lados, seja pelo governo federal ou pelo Congresso Nacional, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, acaba de ser (re) convocado pelo Senado a prestar esclarecimentos na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) por que, afinal, ainda não baixou os juros!

Alheio às agendas políticas dos respectivos poderes da República, o ‘xerife do real’ prossegue em sua missão constitucional (e profissional) de obter a convergência dos índices de inflação à meta inflacionária, o que requer, como ele mesmo já afirmou recentemente, ‘cautela e prudência’ até que tal objetivo seja, finalmente alcançado.

Contribui para essa visão, parecer recente de seu colega, o ex-presidente da autoridade monetária, Affonso Celso Pastore, de que o maior responsável pela manutenção, a ferro e fogo, da taxa básica de juros (Selic) no ‘astronômico’ patamar atual de 13,75% ao ano, é a própria política fiscal do governo, que pressiona pela expansão de seus gastos, no contexto do novo arcabouço fiscal, regra que substitui o teto de gastos, pilar do princípio de responsabilidade fiscal.

Nova investida do Parlamento contra o dirigente do BC, agora foi perpetrada pelo líder da Rede, deputado Túlio Gadelha (PE), que protocolou representação no Tribunal de Contas da União (TCU), com o objetivo de ‘apurar’ as ações de Campos Neto, que mantém a Selic no nível atual.

No arrazoado de sua petição à Corte de contas, Gadelha argumenta que tal patamar da Selic “trava os investimentos, afeta o consumo e impacta de forma negativa a renda do povo brasileiro e a criação de empregos”, acrescentando a ‘advertência’ de que a taxa “inibe o crescimento da economia e trará problemas fiscais para o Brasil”.

A motivação do deputado da Rede, na verdade, seria de verificar, junto ao TCU, “se houve ‘desvio de finalidade’ por parte do presidente do BC e se sua atuação ‘acarretaria’ prejuízo ao Erário. Para reforçar sua posição, o parlamentar teria declarado que “diferentemente do que alega o Copom, tem-se por inegável que a manutenção da taxa de juros é desnecessária para o combate à inflação, visto que traz apenas custos adicionais para a atividade econômica”.

A nova ofensiva contra a atual condução da política monetária acabou sendo municiada pela própria Ata do Comitê de Política Monetária (Copom), cujos membros se mostraram ‘divididos’ em relação ao ‘timing’, a melhor hora para executar o corte da Selic.

Enquanto cresce a expectativa quanto à eventual mudança (leia-se, elevação) da meta de inflação para 2024 e 2025 (ambas em 3%), pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), na reunião de amanhã (29), a Ata do Copom já ‘detonou’ a iniciativa, ao lembrar que “as expectativas de inflação seguem desancoradas, em parte em função do questionamento sobre uma possível alteração das metas de inflação futuras”, acrescentando que “decisões que ‘reancorem’ as expectativas podem levar a uma desinflação mais célere”.

Fonte: capitalist

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