Embrapa desenvolve carne de frango em laboratório


Embrapa recebe investimentos internacionais para desenvolver carne de frango em laboratório. Trata-se de uma tecnologia que recria tecidos animais a partir de células animais, fornecendo carnes análogas às naturais e atendendo às atuais tendências de consumo saudáveis e sustentáveis.

Cadeia produtiva do frango

Vamos começar entendendo que a carne de frango é um alimento essencial na dieta dos brasileiros devido à sua qualidade nutricional, facilidade de preparo e disponibilidade. Com média de 43 kg de carne de frango consumida por ano, in natura e nas mais variadas formas de processamento, é fácil ver porque a cadeia produtiva de frangos de corte é tão importante no país.

A cadeia produtiva do frango inclui desde produtores de grãos e fábricas de ração, transportadores, abatedouros e frigoríficos, até segmentos de equipamentos, medicamentos, distribuição e consumidores finais. Graças à eficiência dessa cadeia produtiva, o Brasil é o terceiro maior produtor mundial e o primeiro exportador de carne de frangos, atendendo a mais de 150 países, graças à qualidade e segurança alimentar da carne brasileira e à eficiência de produção.

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Carne de frango em laboratório

Pensando nisso, a Embrapa Suínos e Aves está liderando um projeto inovador no Brasil para desenvolver carne de frango cultivada em laboratório. O novo produto, que se assemelha ao sassami, na forma de protótipos de filés de peito de frango desossados, deve estar pronto para análises nutricionais e sensoriais até o final de 2023.

O projeto foi aprovado pelo edital competitivo internacional do The Good Food Institute, uma organização não governamental que arrecada recursos e financia projetos globais. Dentre os 22 projetos selecionados em 2021, cinco são brasileiros, incluindo o da Embrapa Suínos e Aves.

Com o aumento no consumo de proteínas ao longo dos anos, novos hábitos alimentares e preocupação com a sustentabilidade, a comunidade científica tem buscado ampliar a tecnologia para produzir alimentos e atender à crescente demanda alimentar mundial. O projeto da Embrapa Suínos e Aves é uma das alternativas em vista, oferecendo uma solução inovadora e sustentável para atender às necessidades alimentares atuais.

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Tecnologia inovadora

As células são extraídas de um animal e cultivadas em um meio nutritivo em escala laboratorial, e depois em grandes biorreatores. Isso aumenta a capacidade de produzir proteína e diversifica as fontes de produção. O produto final pode ser usado para produzir alimentos como hambúrgueres, embutidos e almôndegas, ou alimentos seguros como filés e bifes.

A pesquisadora líder do projeto, Vivian Feddern, afirma que a tecnologia está se tornando mais viável e os investimentos em procuras alternativas estão crescendo. “Além da vanguarda tecnológica, podemos oferecer tecnologia e/ou proteínas alternativas a empresas do Brasil e de países importadores de produtos pecuários”, enfatiza Vivian.

A Embrapa escolheu o frango como o alvo de estudo devido a sua versatilidade como proteína e sua importância nutricional para dietas saudáveis. O projeto está atualmente otimizando a adesão e o desenvolvimento das células na celulose. “Existem diferentes possibilidades para viabilizar o transporte das células para dentro do tecido, para a fixação e desenvolvimento. Vamos testar com e sem microcarreadores, por exemplo”, acrescenta a pesquisadora. O produto final deve ser alcançado até o final do ano de 2023.

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Pesquisadora líder do projeto, Vivian Feddern – Embrapa

Mercado global

O mercado global de carne de aves está em crescimento e, segundo órgãos como a OECD-FAO, deve alcançar cerca de 131 milhões de toneladas em 2026. Isso é uma oportunidade para empreendedores buscarem tecnologias alternativas de produção, como a carne cultivada. “Embora estudos com essa cadeia sejam mais recentes comparados aos produtos da cultura de células bovinas, muitos esforços estão sendo empregados nos últimos anos e várias empresas estão se estabelecendo em diferentes lugares do mundo“, comenta Vivian. Países como Canadá, República Tcheca, Estados Unidos, Japão, Israel, França, África do Sul e Suíça já estudam a carne de frango cultivada.

Em 2020, Singapura legislou para carne de frango empanado cultivada produzida pela Eat Just. Em 2022, a Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos deu aprovação para a Upside Foods, da Califórnia, para frango cultivado. Na Holanda, também em 2022, o parlamento legalizou a ingestão da carne cultivada sob condições controladas, sendo o primeiro país a apresentar um hambúrguer cultivado pelo farmacologista Mark Post em 2013.

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Legislação e consumidores

Embora ainda não exista legislação sobre o assunto no Brasil, o Ministério da Agricultura e Pecuária está criando o Plano Nacional de Proteínas Alternativas (PNPA), que contempla alimentos e ingredientes de base proteica originados de plantas, insetos, fungos, algas e outras fontes alternativas obtidas por meio de produção, processos fermentativos, cultura de métodos e processos inovadores. “A legislação ainda deve ser um passo à frente“, segundo a pesquisadora. “Algumas empresas, como BRF, JBS e Cellva Ingredients já tentaram investir nas pesquisas para produzir carne cultivada e ingredientes, mas a maioria está focada em produtos não seguros, como hambúrgueres. O processo é mais complexo, então ainda temos um caminho pela frente“, completa.

A equipe da Embrapa Suínos e Aves realizou uma pesquisa sobre a percepção do consumidor em relação à carne cultivada após a pandemia e observou que os entrevistados estão dispostos a experimentar, mas ainda há dúvidas sobre segurança, valor nutricional, sabor, textura e modo de produção.

Segundo Vivian Feddern, “o conhecimento e a divulgação dos benefícios dessa inovação são primordiais para o futuro consumidor adotar a carne cultivada como mais uma opção de alimento à sua dieta”. A pesquisa foi aplicada em municípios da Região Sul do Brasil com população inferior a 150 mil habitantes.

O tema ainda é controverso e o produto ainda não está disponível para comercialização no mercado brasileiro, mas o Brasil, como provedor mundial de proteína animal, deve estar atento e na vanguarda das cadeias produtivas. A Embrapa oferece um biobanco para apoio às empresas/startups existentes e novas no mercado.

Por Vicente Delgado – AGRONEWS®, com informações da Embrapa

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