Eles “digitalizaram” a água. Agora, recebem um primeiro aporte de R$ 4 milhões


O engenheiro químico e professor universitário Fabricio Santana já tinha 14 anos de sala de aula quando resolveu empreender. Dando aula na Universidade Federal de Rio Grande (FURG), ele sempre se interessou pela área de saneamento e, ao longo de sua trajetória acadêmica, identificou alguns desafios do setor, como o de maturidade tecnológica. Foi quando se uniu ao também professor Cezar Augusto da Rosa e ao engenheiro mecânico Moisés Fernandes Borges para lançar a Augen, de Rio Grande (RS). A startup de saneamento básico digitaliza as etapas de tratamento de água.

“Digo que digitalizamos a água”, afirma Santana. “Nas estações de tratamento, instalamos um único equipamento que consegue cuidar da parte hidráulica, da parte de análise de dados e da parte computacional, juntando as informações. São coisas que antes eram feitas por equipes separadas”.

A empresa nasceu em 2018 e tem como principal cliente a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), que foi privatizada recentemente. No Rio Grande do Sul, já estão em 12 cidades. Agora, cinco anos após nascer, o negócio recebe o primeiro aporte. São 4 milhões de reais vindos de um novo fundo de investimento gerido pela Cedro Capital e pela KPTL exclusivo para govtechs — startups com soluções para serviços públicos.

“O Brasil é um país curioso”, diz o Head do fundo na KPTL, Adriano Pitoli. “De um lado, temos enormes carências de serviços públicos. De outro, uma alta demanda. E no meio disso, startups procurando novas formas de oferecer esses serviços. É para elas que estamos olhando”.

Será o primeiro aporte do fundo, que ainda está na fase da captação de recursos. Já arrecadaram 31,5 milhões de reais. O objetivo é chegar aos 200 milhões de reais.

O valor desse primeiro aporte (de 4 milhões de reais) vem das empresas Multilaser e Positivo e das agências de desenvolvimento regionais Agerio e Badesul. Aliás, foi o Badesul que indicou a Augen para a KPTL.

“A estratégia do Badesul é muito focada em desenvolver municípios”, diz Elias Graziottin Rigon, Superintendente de Venture Capital e Inovação do Badesul. “E um dos nossos objetivos investindo no fundo GovTech é colocar tecnologia na administração pública. Fomentar startups que estejam propondo soluções para o serviço público”.

Como a empresa digitaliza a água

A Augen vai até as cidades e empresas e implementa a tecnologia nas estações de tratamento. São equipamentos que conseguem analisar as características da água, transformando-as em informação digital para leitura de softwares. Então, é possível analisar os dados e tomar decisões, como a dosagem correta de produtos químicos.

Entre os dados analisados estão o cloro, o fluoreto, a cor, a turbidez, a acidez e a temperatura da água. A água passa pelos equipamentos, que identifica como ela está e faz as dosagens necessárias.

Durante os cinco anos de existência, a média de crescimento de faturamento da startup no ano a ano é de 115%. Ela fechou 2022 faturando 8 milhões de reais. Para 2023, quer mais do que triplicar esse valor, chegando a um faturamento de 20 milhões de reais. O aporte irá ajudar.

“Com esse valor, vamos profissionalizar vários setores da empresa”, diz Santana. “Queremos melhorar o nível de gestão financeira, até porque vamos começar a ser avaliados por auditorias. Também vamos aprimorar a área comercial”.

O dinheiro também será usado para aprimorar o produto e manter a competitividade. Um dos objetivos é adicionar novas funções, como o de realidade aumentada.

Quais as metas da empresa

Um dos objetivos para alcançar o faturamento de 20 milhões de reais em 2023 é aumentar a quantidade de clientes. Até o final do ano, as 12 cidades que estão hoje se transformarão em 23 — todas pela Corsan. Mas querem ir além, agregando outras empresas no portfólio. São negócios de outras regiões do país, como o Sudeste.

O modelo de negócios da Augen é focado em empresas de saneamento estatais ou privadas, com unidades de tratamento de até 600 litros por segundo.

Por que o fundo investiu na Augen

São três os principais fatores que fazem a KPTL olhar para uma startup e decidir investir nela. Adriano Pitoli, head do fundo de GovTech, listou-as:

  • Trazer inovação: o primeiro fator é que a startup precisa trazer alguma inovação considerada significativa pelo fundo.
  • Mercado: sendo inovador, a gestora avalia o mercado potencial dessa solução.
  • Diferencial competitivo: a inovação ou tecnologia desenvolvida precisa ser difícil de ser copiada. O objetivo é que ela consiga se manter competitiva por um longo período de tempo.

“Esse terceiro fator é onde a maioria das startups esbarra”, afirma Pitoli. “No caso da Augen, chama atenção porque além do softwares, eles têm os equipamentos. E garantem que tudo funcione bem, é algo mais competitivo”.

Em quem um fundo de GovTech mira

O foco do fundo de GovTech é achar startups com ideias para serviços públicos, principalmente municipais e estaduais. Isso porque o entendimento da gestora de venture capital é que, em nível federal, já há uma digitalização em andamento, principalmente pelo sistema gov.br.

Novos investimentos estão no radar. O fundo já conversou com mais de 200 startups com esse enfoque, e há mais de uma centena para conversar. Os aportes, porém, serão feitos em conversas alinhadas com os investidores.

“Esse ano, a gente deve negociar mais quatro ou cinco investimentos”, diz Alessandro Machado, sócio da Cedro Capital. “O segundo aporte, que deve vir do Nordeste, devemos assinar ainda neste mês”.

Fonte: exame

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