Dua Lipa já tinha vindo ao Brasil cinco anos atrás, mas quem veio a São Paulo nesta quinta-feira foi outra. Se aquela era uma menina com futuro pela frente, essa já está firme como uma das maiores artistas pop do presente.
Entenda que o público brasileiro ainda não tinha dançado aquele tamborzinho de “Don’t Start Now” popularizado no Big Brother Brasil de 2020 e que encerrou o show desta noite em clima de catarse. O álbum “Future Nostalgia” chegou em abril daquele ano e, para muitos, foi o grande companheiro de dança da pandemia.
Por mais que a cantora já tenha quebrado recordes de gigante, ainda dá para ver uma jovem artista desabrochando. Ao falar de sua estrada até aqui e apresentar “Be the One”, um de seus primeiros sucessos, Dua Lipa ouviu um coro incessante de amor do público. Nada que uma grande estrela não ouça toda semana, mas ela se emocionou.
Continuou a fala meio embargada, tentando evocar hoje aquele tempo em que estava começando, mas logo viu que protocolo era bobagem e se jogou na sua performance mais dedicada da noite. Casa bem com a proposta de “Future Nostalgia”, um disco que enxerga no passado a potência de energizar o futuro.
Foi com “Physical” que Dua Lipa irrompeu no Anhembi às 20h35, uma ode elétrica aos vídeos de malhação oitentistas. Ao longo da hora e meia de apresentação, sobraria tempo para samplear Madonna na música-título do álbum e reverenciar Elton John, que apareceu no telão durante “Cold Heart”, que usa “Rocket Man” como refrão. Não dá para ficar mais anos 1980 do que isso.
Enquanto observava a reação visceral de “New Rules” e “Love Again”, que vieram em seguida, Dua Lipa parecia genuinamente orgulhosa. E é um show que exala animação pelos poros, já que a música da cantora é feita para exorcizar demônios na pista e para sensualizar.
Com porte de modelo -que de fato já foi- performando um desfile solo da Victoria’s Secret, a britânica repetiu no palco paulistano a cena de “Pretty Please” em que usa o microfone para um pole dance improvisado. Ambulâncias estavam a postos para emergências na plateia.
Incessante nas trocas de roupas coladas e nas coreografias, deitando faceira no chão em “Good in Bed” e erguida no ar em “Pretty Please”, dava para contar nos dedos as músicas que cantava parada. Também não havia motivo.
Se Dua Lipa voltava com gosto às pistas do passado, também mostrava que o futuro vinha logo depois -com “Electricity” e “Hallucinate”, por exemplo, que ornam bem na madrugada de qualquer balada cool paulistana.
Mesmo músicas que não se traduzem bem ao palco, como “Break My Heart”, foram salvas por detalhes do carisma de Dua Lipa, como uma piscadela bem colocada para a câmera. Passariam despercebidos, se a cantora fosse outra -uma que não exibisse o domínio completo de 35 mil pessoas apaixonadas. Coisa de artista.