O dólar comercial encerrou as negociações desta quarta-feira em alta de 0,86%, cotado a R$ 5,4066, atingindo seu maior valor de fechamento desde 4 de janeiro de 2023, quando o câmbio estava em R$ 5,45. Durante o dia, a moeda norte-americana acumulou sucessivas altas, atingindo R$ 5,42 no seu ponto máximo.
No final da tarde, o dólar apresentava uma leve alta, oscilando em torno de R$ 5,36, porém, começou a subir rapidamente atingindo R$ 5,40, em meio aos discursos do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, nos Estados Unidos, e da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet.
No exterior, Powell adotou um tom mais rígido em relação ao controle da inflação nos Estados Unidos. O Fed anunciou a manutenção da atual taxa de juros, conforme amplamente esperado pelos analistas, e indicou a expectativa de apenas um corte na taxa de juros americana neste ano.
Antes da decisão, os investidores apostavam em dois cortes nas taxas até o final do ano e viam uma alta probabilidade de um primeiro corte já em setembro, de acordo com contratos futuros. O Banco Central americano anteriormente projetava três reduções.
Juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos tendem a reduzir a atratividade dos retornos em países emergentes, como o Brasil, e pressionar o dólar.
Gustavo Okuyama, gerente de portfólio da Porto Asset Management, considera que a postura mais restritiva do Fed, reduzindo sua projeção de três cortes em 2024 para apenas um, foi uma surpresa para o mercado. Isso ocorreu mesmo após dados de inflação divulgados anteriormente, os quais vieram abaixo das expectativas:
— Os números da inflação vieram bons, então isso poderia ter levado os diretores a adotar uma postura menos restritiva, mas não foi o que aconteceu. Mesmo com essa inflação, eles optaram por transmitir uma mensagem mais dura. O mercado estava se preparando para uma postura mais suave — disse.
Mais cedo, o índice de preços ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos em maio ficou abaixo das projeções do mercado, mantendo-se estável no mês após um aumento de 0,3% em abril. Nos últimos 12 meses, os preços subiram 3,3%, ante uma previsão de 3,4% entre os analistas.
No mercado externo, as ações perderam um pouco de força após o comunicado do Fed e o discurso de Powell. No entanto, os índices S&P 500 e Nasdaq 100, da Bolsa americana, fecharam em níveis históricos, e o dólar se desvalorizou em relação a outras moedas.
No Brasil, Simone Tebet afirmou que os gastos obrigatórios do Orçamento são insustentáveis e que a revisão de despesas envolve toda a equipe econômica, não apenas o Planejamento. Ela também mencionou que estabelecer uma meta zero seria “impossível”, porém garantiu que o governo estaria dentro do limite. Essa declaração foi interpretada pelo mercado como mais uma sinalização de falta de compromisso do governo com a meta fiscal.
A meta deste ano é atingir um déficit zero, com uma margem de tolerância para um déficit de até 0,25% do PIB.
— Ela deveria tranquilizar o mercado e afirmar que a meta é alcançável. Como o cenário fiscal já está bastante nebuloso, se Tebet estivesse falando em um momento mais tranquilo, talvez não veríamos essa reação — disse Luan Aral, especialista em câmbio da Genial Investimentos, destacando também um tweet do presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais cedo, que pressionou os ativos. Para ele, esse foi o principal fator por trás da alta do dólar no dia.
Lula afirmou em um evento no Rio e em uma postagem no Twitter que “o aumento da arrecadação e a queda da taxa de juros permitirão alcançar a meta de déficit sem comprometer os investimentos”. A declaração causou desconforto no mercado, que interpretou que o equilíbrio nas contas públicas viria com mais impostos, e não através de cortes de gastos.
Foi um dia de altos e baixos para o dólar. A moeda começou o dia em leve alta, mas passou a operar em queda após os dados de inflação nos EUA em maio virem abaixo do esperado, enfraquecendo a moeda globalmente. Inicialmente, a percepção do mercado foi de que os preços nos Estados Unidos poderiam estar começando a desacelerar, abrindo espaço para cortes de juros pelo Federal Reserve ainda este ano. No entanto, o dólar voltou a avançar e atingiu sua máxima do dia após a declaração de Lula sobre a situação fiscal no país.
Analistas também mencionaram a decisão do Senado de devolver parte da MP do PIS/Cofins ao Executivo. A MP limitava o uso de créditos tributários para compensar pagamentos de impostos. Após a má repercussão da medida, especialmente entre empresários, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, optou por devolvê-la. Para o mercado, esse movimento foi visto como uma derrota para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Fonte: gazetabrasil