Em registros de conversas entre autoridades russas, estadunidenses e da OTAN no período entre 1992 e 1995, as perspectivas de cooperação eram otimistas e apresentavam um compromisso fundamental relacionado aos assuntos internos das novas repúblicas pós-soviéticas.
Em uma delas, entre o então presidente do parlamento russo, Ruslan Khasbulatov, e o secretário-geral da OTAN, Manfred Woerner, de 25 de fevereiro de 1992 – exatamente um ano e dois meses depois de Mikhail Gorbachev declarar a extinta URSS e renunciar ao cargo –, apresenta um compromisso de Woerner de que a aliança não se intrometeria nos assuntos políticos internos da Rússia e de outros membros da Comunidade de Estados Independentes (CEI).
“Pelo que ouvi, e você mesmo falou sobre isso, algumas pessoas ainda duvidam de nossas intenções. Gostaria de afirmar aqui muito claramente que precisamos de estabilidade, ou de algum tipo de elemento estabilizador para a paz”, disse Woerner na ocasião.
“Não vamos interferir nos assuntos internos da Rússia, bem como nos assuntos internos de outros Estados membros soberanos da CEI. Gostaríamos de estabelecer relações mais amistosas com todas as ex-repúblicas soviéticas. Isto servirá os nossos interesses comuns e […] como resultado, todos ficaremos melhor.”
Um segundo documento, de 8 de março de 1994, registra uma conversa entre os líderes da Duma e William Perry, secretário de Defesa do então presidente norte-americano Bill Clinton. Nela, há pistas sobre as preocupações sentidas até mesmo por membros do governo pró-americano de Boris Yeltsin em relação aos EUA e à política da OTAN para a Rússia.
“Como presidente do Comitê de Defesa da Duma de Estado, estou interessado em uma série de questões”, disse o legislador Sergei Yushenkov.
“Como a doutrina militar dos EUA, as perspectivas da OTAN em relação ao fim da Guerra Fria, questões da nossa colaboração em ações de manutenção da paz, abordagens concretas para a implementação do programa Parceria para a Paz (que considero um véu tênue para a expansão da OTAN), afirmou Yushenkov.
Perry procurou acalmar os legisladores russos da melhor maneira que pôde, garantindo que a iniciativa da Parceria para a Paz “visava a cooperação de todos os países no interesse da manutenção da paz” e que, especialmente para a Rússia, facilitaria “aumentar a abertura e fortalecer os contatos entre as forças armadas dos dois países”.
Expressando preocupações sobre a decisão dos EUA e dos seus aliados de informar o lado russo sobre as suas decisões na então violenta crise da Bósnia, na Iugoslávia, “um pouco tarde demais”, o então embaixador de Yeltsin nos EUA, Vladimir Lukin, sugeriu que seria “mais natural que os parceiros se consultem e [tentem] persuadir-se mutuamente sobre as soluções propostas, e só então avançar para a implementação conjunta.”
O secretário Perry ignorou as apreensões de Lukin, assegurando que “queria informar o lado russo sobre a solução proposta antes mesmo de discuti-la com a OTAN” e que “o presidente Bill Clinton tentou contactar Boris Yeltsin por telefone”.
“No entanto, por motivos que desconheço, não houve comunicação durante dois dias. Planejei ligar para Pavel Grachev, do Ministério da Defesa da Rússia, sobre esse assunto, mas decidi não fazer isso antes da conversa entre os dois presidentes. A perda de dois dias criou mal-entendidos”, disse Perry.
Promessas quebradas
Os detalhes dos documentos, e particularmente o compromisso do chefe da OTAN, Woerner, de não interferir nos “assuntos internos” da Rússia e de outros membros da CEI, contrastam fortemente com o que o bloco ocidental realmente acabou por fazer.
A partir do início da década de 2000, as revoluções coloridas patrocinadas pelos Estados ocidentais e pelas ONG abalariam meia dúzia de países no espaço pós-soviético.
Fracassando em alguns países (Belarus e Rússia), os golpes de Estado seriam bem-sucedidos em outros (Geórgia, Quirguizistão, Ucrânia), culminando em crises de segurança regional, mais notavelmente o conflito envolvendo a OTAN e a Rússia que ocorre neste momento na Ucrânia.
Os documentos do Arquivo de Segurança Nacional não são casos isolados em que a OTAN enganou Moscou em questões de segurança nacional e internacional, com James Baker, secretário de Estado dos EUA, dando o pontapé inicial em 1990, ao prometer a Gorbachev que a aliança não moveria “uma polegada a leste” depois de uma Alemanha reunificada.
Uma segunda promessa, feita em 1991, incluía um compromisso conjunto dos EUA, do Reino Unido, da França e da Alemanha para com Moscou de que a OTAN “não se expandiria para além do Elba” nem incorporaria antigos membros do Pacto de Varsóvia, como a Polônia.
Após o início da expansão em 1999 e a Rússia ter sido confrontada com um fato consumado, os aliados da OTAN continuaram a enganar Moscou.
Quando o golpe de Estado na Ucrânia, em fevereiro de 2014, desencadeou um conflito civil em Donbass, a Rússia, a Alemanha, a França e a Ucrânia negociaram os Acordos de Minsk – um acordo de paz de 2015 que visava pôr fim à crise em Donbass – prometendo aos territórios de Donetsk e Lugansk uma ampla autonomia em troca da reintegração com a Ucrânia.
Durante sete anos, a crise ficou congelada, com Kiev não implementando o acordo de paz.
Depois que a Rússia iniciou a sua operação militar em 2022, todos os signatários dos Acordos de Minsk, além da Rússia, admitiram que a Ucrânia nunca planejou implementar o acordo de paz e que foi apenas uma manobra para dar a Kiev tempo para rearmar as suas forças e preparar-se para tentar resolver a questão de Donbass pela força.
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Fonte: sputniknewsbrasil