Do caos à reconstrução: como o Timor-Leste garantiu a sua independência após intervenção?


Colonizado pelo Império Português, o então Timor Português conseguiu se emancipar de sua antiga metrópole em 1975. Mas, no mesmo ano, foi ocupado pela vizinha Indonésia.
Para entender melhor esse movimento, o podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, conversou com figuras que participaram de parte desse processo.

O coronel Maurício de Araújo, veterano das missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU), que atuou no país em duas ocasiões distintas – em 2002-2003 e novamente em 2011-2012 –, compartilhou a visão sobre a transformação do Timor-Leste desde o início da intervenção internacional até sua reconstrução e independência.

País em ruínas

Um país em situação de conflito, como é o caso da grande maioria dos países em que a gente atua em missões de paz das Nações Unidas, eles são países cuja infraestrutura é praticamente inexistente ou muito deficiente relatou o coronel Araújo. Ele descreveu a situação inicial do país logo após a transferência de administração das Nações Unidas para o governo local.

Basicamente as estradas estavam sendo refeitas, principalmente na capital, que havia um investimento maior em termos de reconstrução, mas é um país completamente quebrado em vários aspectos. Falando um pouco do tecido social, você tinha a falta de uma faixa da população que foi para a guerra, foi para o conflito e ofereceu a resistência,” detalhou, referindo-se à devastação pós-conflito e ao colapso das instituições.

A situação que o coronel encontrou era marcada pela escassez de recursos e pela ausência de estruturas básicas.
Um país cuja infraestrutura estava sendo completamente renovada e com uma camada social, uma população que estava querendo começar a se renovar e a se reconstruir após esse período todo. recordou ele. A reconstrução da infraestrutura era apenas o início de um longo processo de recuperação.
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Segundo ele, naquela época, a língua predominante era o bahasa indonésia, com apenas uma camada mais velha da população falando português.
“Havia uma falta de uma faixa populacional, principalmente de homens, entre os 15 e os 50 anos. [….] A língua portuguesa ajudava muito porque a população passava a se sentir bem acolhida”, explicou o coronel sobre a importância do idioma na interação com a população local.

Impacto da ONU e desafios

Sobre o impacto da ONU no Timor-Leste, o militar afirmou: “Foi extremamente importante, é considerado um caso de sucesso na ONU“. Ele evidenciou a transformação do país desde a chegada das tropas das Nações Unidas até o fim da missão, em 2012.
“Nós conseguimos participar do encerramento da missão em 2012, que foi quando o país passou a andar realmente com as próprias pernas e sem a presença maciça de tropas e de todo o aparato das Nações Unidas naquele lugar“, disse.
O coronel destacou o papel crucial da ONU na reforma das instituições e na melhoria das condições de vida, mencionando que o Timor-Leste se tornou um país com um “estrutura muito melhor” e uma economia em crescimento.
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Ao retornar ao Timor-Leste em 2011, o Coronel notou significativas melhorias. Ele mencionou a infraestrutura aprimorada, o surgimento de um shopping center e o desenvolvimento da polícia local.

“A evolução foi visual, de chegar no país e perceber já as mudanças. […] A polícia muito melhor preparada… A gente passou as funções da Polícia da ONU para a Polícia Local“, contou, destacando a capacidade da polícia local em realizar suas funções de forma profissional.

Sobre as relações do Timor-Leste com seus antigos colonizadores e invasores, o coronel observou que, apesar do passado difícil, “não há rancor“. Ele ressaltou que a Indonésia e o Timor-Leste mantêm um “relacionamento bom, inclusive comercial,” e que o país tem avançado com o apoio de potências asiáticas como China e Singapura.

Histórico

Em uma análise detalhada, o período de ocupação indonésia do Timor Leste (1975-1999) destaca-se pela sua brutalidade, segundo uma especialista ouvida pela Sputnik Brasil.
“Foram processos muito diferentes porque particularmente o período indonésio foi o mais violento, gerou mais de 100 mil mortos”, afirma Silvia Garcia, jornalista, antropóloga e professora de relações internacionais da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
A violência sistemática durante esse período deixou marcas profundas, e o impacto persistiu mesmo após a desocupação, influenciando a formação de milícias e o trabalho da ONU na região até 2012, pontuou.
Xanana Gusmão, uma figura central na história recente do Timor Leste, é amplamente reconhecido por seu papel crucial tanto na resistência à ocupação indonésia quanto na construção do novo Estado timorense.

Ele é considerado um dos heróis da resistência e depois pelos cargos que ocupou, inclusive, hoje, o [de] primeiro-ministro do Timor Leste“, destaca Garcia.

Gusmão também participou ativamente de negociações geopolíticas, como a delimitação do mar de Timor, uma área estratégica devido às suas reservas de petróleo e gás.
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Desde a restauração de sua independência em 2002, o Timor Leste tem avançado na construção de um Estado estável. No entanto, a estabilidade política interna ainda enfrenta desafios. “Há uma estabilidade política do ponto de vista da sua relação com outros países, mas, internamente, o país ainda lida com disputas por poder e por projetos de nação que são muito distintos atualmente“, analisa a professora Garcia.
O interesse pelo Timor Leste não é meramente acadêmico, assuntou. A conexão pessoal de Garcia com a nação, nascida de uma experiência acadêmica e de relações pessoais, ressalta a complexidade das relações internacionais e a profundidade do envolvimento brasileiro com o país.
A cooperação bilateral entre a Universidade Estadual da Paraíba e o Fundo Nacional de Desenvolvimento do Capital Humano do Timor Leste exemplifica o engajamento contínuo do Brasil com a nação timorense.
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Fonte: sputniknewsbrasil

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