Dissertação aborda representação da mulher negra em HQ


As histórias em quadrinhos (HQ´s) atravessam gerações, e como um fato, só esse ano a personagem Mônica, do brasileiro Maurício de Sousa, completa  60 anos.  Entre as mais diversas HQ´s, há aquelas que trazem histórias de luta da mulher negra, como a revista “Marielle Franco Raízes”, tema de dissertação de mestrado do Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCOM) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

O trabalho é conduzido pela pós-graduanda Suzana Rosa Ataide da Conceição, sob orientação do docente Vinicius Souza. Formada em Comunicação Social, Jornalismo, também pela UFMT, ela conta que pesquisa as HQ desde sua graduação, dentre elas as de Jackie Ormes, primeira quadrinista negra.

“Dessa vez fiz uma análise da revista “Marielle Franco Raízes”, que é uma HQ biográfica e tem o objetivo de inspirar meninas, jovens e mulheres negras a ocupar espaços na sociedade, não desistir e mudar estatísticas sociais. Além  desse objetivo, a HQ também exerce o papel de apresentar quem era Marielle Franco, em meio a muitas fakenews que se produziram e reproduzem sobre ela”, disse.

Suzana Rosa Ataide da Conceição complementa que a revista apresenta como era a vida de Marielle Franco, sua rotina, contando desde o seu nascimento até a sua formação. “O meu objetivo, quando eu analiso essa biografia, é mostrar a importância da representatividade em HQ, é apresentar quadrinhos como uma ferramenta inclusiva que se aproxima da realidade de mulheres negras”, ressalta..

As Histórias em Quadrinhos e Academia

Para o orientador da pesquisa, o docente Vinicius Souza, os trabalhos acadêmicos tradicionais têm uma linguagem e formatação nas normas Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que são importantes para referenciar outras pesquisas posteriores, mas que, para ele, são pouco atraentes e compreensíveis para quem está fora do meio universitário. “Como boa parte da dissertação é feita na linguagem dos quadrinhos, formato que associa imagens e textos, ela é muito mais atraente, instigante e de fácil compreensão para qualquer pessoa que leia, ainda que mantenha o rigor científico”, disse.

O docente destaca ainda a relevância da temática ativismo político midiático, abordada na dissertação. “Seu objetivo final não é apenas a aquisição de um título de mestrado para Suzana e seu arquivamento num banco de dados que será consultado sabe-se lá quando. Ele é o trabalho de alguém que luta contra o racismo e o sexismo resgatando e divulgando outras lutadoras contra o racismo e o sexismo, em especial a própria Marielle Franco, cujo assassinato ainda não foi totalmente explicado”, ressalta.

Suzana Rosa Ataide da Conceição conta que sua dissertação teve o intuito de ressaltar a importância da representatividade e representação da HQ. “Antes as mulheres negras não eram vistas dentro dos quadrinhos, quando eram representadas eram pano de fundo, ou desenhadas de uma forma grotesca”, destacou falando ainda que  os quadrinhos dentro da academia contribuem para trazer debates que estão no cotidiano de uma forma mais clara, compartilhável, acessível e objetiva.

De acordo com Vinicius Souza, o advento das HQs no ambiente acadêmico não é algo tão novo. “As HQs, assim como outras formas de produção cultural contemporânea, têm sido objeto de estudos acadêmicos há muito tempo, especialmente na área de Comunicação. A utilização da narrativa visual sequencial na redação de trabalhos acadêmicos, por outro lado, é bastante rara”, disse.

Imagens, textos e  novos espaços 

E na seara das discussões do advento das HQ´s no ambiente acadêmico temos a recente perda de Maurício de Sousa na disputa pela cadeira nº 8 na Academia Brasileira de Letras  (ABL). Para o professor Vinicius Souza brevemente o mundo pode se abrir para reconhecimento que outras formas de linguagem além da escrita pura merecem.

“Fiquei triste de não ter sido eleito dessa vez. Eu sou uma das milhões de pessoas alfabetizadas pela Turma da Mônica simultaneamente ao ensino formal da escola. Não é à toa que a HQ Maus, de Art Spiegelman, ganhou o prestigiado prêmio Pulitzer de literatura em 1992 e, claro, foi devidamente citada na dissertação da Suzana”, disse.

Nesse contexto, Suzana Rosa Ataide da Conceição complementa que a história da arte sequencial é também um pouco da história da sociedade, como que ela se estruturou. “As HQs são uma forma de apresentar realidades diferentes, se aproximar de realidades diferentes, eu vejo quadrinhos como uma das práticas que dá pra ampliar esse olhar”, finaliza.

Fonte: ufmt

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