A formação da Terra é geralmente atribuída a processos internos como vulcanismo, tectonismo e impactos de meteoritos, evidenciados pelas crateras lunares. No entanto, pesquisas recentes sugerem que a história geológica do planeta pode também estar ligada à trajetória do Sistema Solar pelos braços espirais da Via Láctea, propondo uma conexão entre astrofísica e geologia.
Essas ideias, antes baseadas em modelos limitados por lacunas geológicas e incertezas orbitais, ganham força com um novo estudo publicado na Physical Review Research. Os pesquisadores compararam mapas de gás hidrogênio na galáxia com registros químicos em cristais de zircão antigos da Terra, revelando correlações entre a densidade galáctica e mudanças na crosta terrestre.
O hidrogênio neutro, que emite ondas de rádio de 21 cm, é usado como marcador cósmico para mapear os braços espirais da galáxia. Esses braços, compostos por ondas de densidade de estrelas e gás, são ultrapassados periodicamente pelo Sistema Solar, a cada 180–200 milhões de anos, o que pode aumentar a incidência de cometas e asteroides na Terra.
© Foto / C.L. KirklandChris Kirkland usando uma microsonda iônica para datar grãos de minerais de zircão
Chris Kirkland usando uma microsonda iônica para datar grãos de minerais de zircão
© Foto / C.L. Kirkland
Para investigar os efeitos desses encontros galácticos, os cientistas analisaram cristais de zircão, minerais extremamente duráveis que registram condições químicas da crosta terrestre ao longo de bilhões de anos. Os isótopos de oxigênio presentes nesses cristais indicam se o magma teve contato com água superficial ou veio das profundezas da Terra.
O estudo encontrou correlações entre picos de variabilidade nos isótopos de oxigênio dos zircões e os momentos em que o Sistema Solar atravessou braços espirais densos em hidrogênio. Isso sugere que esses encontros galácticos podem ter causado perturbações significativas na formação da crosta terrestre, tornando-a mais instável nesses períodos.
Uma possível explicação é que a passagem por braços espirais tenha agitado a Nuvem de Oort, lançando cometas em direção à Terra. Os impactos desses corpos celestes podem gerar energia suficiente para alterar a geologia do planeta, deixando marcas duradouras que os zircões conseguem preservar, mesmo quando crateras visíveis são apagadas por processos erosivos.
Essa hipótese amplia a compreensão da evolução planetária, indicando que fatores externos à Terra, como a estrutura da Via Láctea, podem influenciar sua geologia. Reconhecer essas impressões digitais cósmicas pode ajudar a entender melhor o crescimento da crosta, a habitabilidade do planeta e até o surgimento da vida.
Embora seja necessário cautela ao interpretar correlações como causalidade, os dados obtidos são promissores e revelam uma possível conexão entre os ciclos galácticos e os processos geológicos da Terra.
Fonte: sputniknewsbrasil