“E aí a gente tem um evento marcante a esse respeito, que é o concílio Vaticano II, um conclave marcado por essa percepção de que: ‘Opa, o mundo está mudando de uma forma muito brusca e a gente precisa fazer alguma coisa estratégica para acompanhar.’ Esse evento na história da igreja marca ali uma mudança muito forte em direção aos movimentos de direitos humanos, principalmente. Então, aqui no Brasil, a gente tem isso aí refletido na própria Igreja, assumindo aquela frase famosa, o papel de voz daqueles que não têm voz e depois ela participa dos movimentos pela anistia, pelo movimento de diretas já, pela redemocratização.”
“A imposição de uma restrição como celibato para a formação da sua mão de obra de agentes religiosos gera um funil gigantesco para a Igreja. Hoje […] muitos sacerdotes estão ativamente tentando flexibilizar para poder ter mais mão de obra. E aí entra, por exemplo, também o sacerdócio feminino. Ao restringir um papel mais ativo das mulheres na Igreja, você de novo está impedindo ali uma parcela significativa de agentes que poderiam estar trabalhando a seu favor, com um papel mais proeminente. […] Essa adaptação simbólica reflete uma pressão organizacional, de estar mais adaptado a um mundo que é diferente.”
“E qual era a base do anticomunismo? A base do anticomunismo difundida socialmente era aquela de um imaginário contra a família. Então, bem, basicamente era aquela que difundia as ideias socialistas, então o inimigo dos EUA, as ideias socialistas como contra a família, como contra todos os valores que supostamente teriam constituído essas sociedades.”
“Há essas ambiguidades e essas mudanças de posição ao longo das ditaduras. A Igreja não é um bloco homogêneo em que todos ali dentro apoiam ou não [uma ideia]. Há divisões, e essas divisões vão mudar de posições de maneiras diferentes ao longo da segunda metade do século XX.”
“Mas eu não tenho visto grandes respostas da Igreja nesse sentido. Da Igreja de maneira geral na América Latina. Outra questão são as populações indígenas, que são, eu entendo hoje, uma grande vanguarda de luta, de luta à esquerda. São as populações indígenas de toda a América Latina se juntando com populações de rua e por aí vai. Que resposta essa instituição, que ainda é dogmática e precisa ser para ser o que é, vai responder a isso?”, questiona Dahás.
Fonte: sputniknewsbrasil