A previsão do tempo é uma ferramenta essencial para proteger comunidades, especialmente durante eventos extremos como furacões. No entanto, quando se trata de prever o clima espacial — fenômenos originados no Sol que afetam o espaço entre os planetas — as simulações se tornam muito mais complexas. É necessário modelar o Sol, os planetas e o espaço vazio em uma caixa de simulação virtual, onde cálculos sofisticados são realizados para entender esses eventos.
Diferente das tempestades terrestres, o clima espacial envolve partículas carregadas e campos magnéticos ejetados pelo Sol. As mais intensas são as ejeções de massa coronal interplanetárias (EMCs, na sigla em inglês), que podem atingir velocidades de quase 2.900 km/s. Uma única EMC pode transportar uma massa equivalente à dos Grandes Lagos, na América do Norte, em segundos, causando tempestades geomagnéticas na Terra que, além de auroras, podem danificar redes elétricas e transformadores.
Para investigar esses impactos, pesquisadores criaram simulações que mostram como as EMCs interagem com o campo magnético da Terra. Em um estudo publicado em outubro de 2025, a equipe modelou vórtices magnéticos chamados cordas de fluxo, estruturas semelhantes a tornados que se formam a partir de erupções solares. Embora já observadas por satélites, o estudo revelou como essas cordas se originam e evoluem.
A pesquisa começou em 2023, quando foram detectadas tempestades geomagnéticas sem a presença de EMCs previstas. Isso levantou a hipótese de que eventos menores, como cordas de fluxo magnético, poderiam se formar entre o Sol e a Terra, sem origem direta na atmosfera solar. Diferente das observações por satélite, simulações permitem rastrear esses eventos até sua origem, mas os modelos existentes não estavam preparados para detectar estruturas tão pequenas.
© Foto / NOAA/Mojtaba Akhavan-Tafti/Chip Manchester)Cordas de fluxo (simuladas, à direita) são estruturas compostas por linhas de campo magnético que se enrolam umas nas outras como uma corda, que se parecem com tornados na Terra
Cordas de fluxo (simuladas, à direita) são estruturas compostas por linhas de campo magnético que se enrolam umas nas outras como uma corda, que se parecem com tornados na Terra
© Foto / NOAA/Mojtaba Akhavan-Tafti/Chip Manchester)
As simulações globais tratam o espaço como um fluido dividido em grandes cubos de 1,6 milhão de quilômetros, o que limita a resolução de detalhes finos. Ao analisar simulações antigas, os pesquisadores buscaram sinais transitórios de cordas de fluxo, mas sem sucesso. Foi só ao estudar a erupção solar de maio de 2024 que encontraram um sistema distinto de cordas de fluxo, embora pequeno demais para ser resolvido com precisão.
Para superar essa limitação, a equipe desenvolveu uma nova simulação com resolução aumentada apenas ao longo da trajetória das cordas de fluxo, uma abordagem que permitiu detectar estruturas com até 100 vezes mais detalhes do que antes. A simulação revelou que as cordas se formam quando a erupção solar colide com o vento solar mais lento, criando vórtices magnéticos complexos e duradouros.
Essas cordas de fluxo mostraram-se capazes de desencadear tempestades geomagnéticas significativas, confirmando que eventos climáticos espaciais podem se formar localmente entre o Sol e a Terra. A descoberta é comparável a um furacão gerando tornados, e representa um avanço importante na compreensão dos riscos espaciais. O próximo passo é simular como essas estruturas podem afetar diretamente a infraestrutura terrestre.
A missão SWIFT, composta por quatro satélites em formação tetraédrica, foi capaz de observar essas cordas de fluxo em simulação. Embora empolgante, a descoberta também é preocupante: essas estruturas aparecem como pequenos pontos nos monitores atuais, exigindo mais satélites para observação detalhada. Felizmente, cientistas e engenheiros já trabalham em missões espaciais avançadas para enfrentar esse desafio e melhorar a previsão do clima espacial extremo.
Fonte: sputniknewsbrasil