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“O grande desafio nesse momento é demanda. Precisamos liquidar estoques para a próxima temporada. Nesse momento temos um superávit bem pontual, abaixo de 50 mil toneladas. Mas, se o mercado seguir nesse caminho, nos próximos meses podemos reverter para um cenário de déficit na balança comercial. Então, o setor vem correndo contra o tempo para conseguir mudar esse padrão”, alertou o analista de mercado da Safras & Mercado, Evandro Oliveira.
Há alguns meses, o mercado do arroz vem enfrentando uma crise estrutural. Dados da Emater-RS e da Epagri/SC destacam que a combinação entre estoques elevados, preços insustentáveis e retração de investimento trouxe um cenário crítico ao setor, que pode se prolongar até 2027. “Rentabilidade é a palavra do momento. O setor do arroz vive uma crise de rentabilidade, uma crise de liquidez, e é isso que o mercado vem precisando nesse momento”, explicou ainda Evandro.
Diante deste cenário, a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) e outras entidades representativas do setor chegaram a se reunir com a direção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), para tentar uma antecipação de aporte de recursos para a safra atual, visando atenuar a grave situação de liquidez e dificuldades de crédito que passam os produtores da cultura.
No dia 26 de outubro, a Conab lançou então um pacote de medidas para movimentar até 630 mil toneladas de arroz da safra 2024/25, com o objetivo de reequilibrar os preços, escoar o excedente e garantir renda ao produtor. O investimento previsto é de R$ 300 milhões, com uso de instrumentos da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), que seriam destinados em 2026, para a safra. Serão R$ 200 milhões em Aquisições do Governo Federal (AGF), onde o mecanismo é acionado pela Companhia quando os preços de mercado do arroz caem abaixo do preço mínimo estabelecido pelo governo, garantindo assim uma renda mínima para os produtores em momentos de excesso de oferta, estabilizando o mercado. E R$ 100 milhões serão usados para subvenção, através do Prêmio de Escoamento de Produto (PEP) ou Prêmio de Escoamento ao Produtor (Pepro), com o objetivo de garantir um preço mínimo para o produtor e ajudar a escoar a produção de áreas com excedente para locais que precisam do grão. Cerca de 90% desse recurso será destinado ao Rio Grande do Sul.
De acordo com analista da Safras & Mercado, a expectativa é que essas medidas possam trazer algum alívio para aqueles produtores que vivem uma situação mais delicada, “o setor aguarda mais detalhes, né? Precisamos do edital, precisamos saber dos poréns. Agora, o volume, infelizmente, ainda é muito abaixo do necessário para realmente trazer algum impacto. Lembrando que o problema atual do setor se chama estoques de passagem. E esse problema é da ordem de 2,3 milhões de toneladas. Então, o recurso necessário para aliviar esse grande obstáculo que temos pela frente seria um volume exorbitante de recursos”, completou.
Mas, para escoar os estoques brasileiros para a próxima temporada, o setor esbarra em outro desafio: a demanda. Evandro explica que no Mercosul, temos os nossos vizinhos cada vez mais “agressivos”, tentando liquidar os estoques. “O Uruguai está tentando ir para o ano que vem com menos de 100 mil toneladas de estoque. E a Argentina abaixo de 200 mil toneladas de estoque. Infelizmente, o Brasil segue patinando nas exportações. Nossa crise é estrutural. Já vem sendo discutido, por exemplo, a utilização da taxa CDO para uma melhora das condições de mercado. A questão da equalização do ICMS, um grande problema para a cultura do arroz, que muitas vezes tira a competitividade do produto gaúcho para se inserir em outros estados, principalmente no Brasil Central, o que vai abrindo cada vez mais espaços para o Paraguai. Então, precisamos de uma forte política de redução dos custos de produção, que aí sim teremos uma boa rentabilidade ao produtor, uma indústria em uma situação confortável e produto barato na prateleira”, pontuou.
Cautela e estratégias: A busca pela contenção da crise arrozeira em 2026
Com objetivo de promover cada vez mais o consumo de arroz no Brasil, a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) lançou a campanha “Arroz Combina”. A ideia é exaltar a qualidade do produto brasileiro e combater a desinformação disseminada nas redes sociais.
Outra questão, que vem sendo abordada para conter a crise do setor, é a necessidade de redução da área do plantio do arroz. Segundo a Federarroz, algo em torno de 15% de área para um enxugamento de estoque.
O analista da Safras alerta que, nesse momento e no curto prazo, a decisão do produtor é que vai pesar para a próxima temporada da cultura. “O produtor tem que ter plena ciência dos seus custos de produção. É um dos únicos pontos que podem ser controlados pelos produtores. Aqueles que tiverem a opção de fazer uma migração de cultura, considerem. Muito tem se discutido agora, migração para soja, para o milho, para a pecuária, que vive um bom momento, e também até para o sorgo, ou outras alternativas que o produtor tenha na mesa. Considere a redução de área. Lembrando que, o ponto de equilíbrio para o Rio Grande do Sul são 850 mil hectares. A nível nacional, a produção do ponto de equilíbrio para é de 10,5 milhões de toneladas, equilibrada, nivelada ao consumo interno. Então, temos que ter esse número bem conhecido pelo setor. Temos que ter noção desses volumes, do número de área e reconsiderar as decisões para a próxima temporada”, reforçou.
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Fonte: noticiasagricolas






