Qual a diferença entre guerra híbrida e guerra convencional?
“[A guerra de posição] é uma guerra que se dá […] no âmbito institucional, e aí a gente pode incluir nesse âmbito institucional desde o próprio Estado, a sua máquina mais bruta, o aparato burocrático do Estado propriamente, o primeiro escalão do Estado, até aquilo que a gente vai chamar de administração indireta, que são os seus órgãos da sociedade civil, até aquelas instituições que não são públicas, não são estatais, mas que fazem parte dos aparelhos de hegemonia, os aparelhos do modo de produção sob o qual a gente vive, que são a mídia, a religião, as instituições que a gente pode chamar de instituições do campo da cultura em geral.”
O Brasil está preparado para uma guerra híbrida?
“Se você fala do caso da Petrobras, fala do desmonte de uma estatal que disputava a hegemonia […] em um contexto de tentativa mínima de autonomia, de uma capacidade de superar certas condições de dependência que o Brasil ainda ocupa. A gente tem que destacar a figura do pré-sal como um elemento fundamental para que se entenda a necessidade de revolução colorida que se deu em 2013, com as tais Jornadas de Junho”, explica a especialista.
“A gente pode dizer que o Brasil testemunhou os dois modos [de guerra] no mesmo contexto, no mesmo momento. Porque ao mesmo tempo em que se fazia isso que a gente vai chamar de guerra de posição, em uma disputa de discurso, inclusive questionando as eleições, fazendo enfrentamento ao Supremo Tribunal Federal a partir dos discursos de fake news e de propaganda, contando com os aparelhos que a ultradireita já possui, […] [houve] um ataque frontal e direto, como foi no dia 8 de janeiro, às próprias instituições, na sua máquina burocrática mais estrita, que foi a invasão da sede do Supremo Tribunal Federal, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto.”
Como ter paz em tempos de guerra?
Por que as grandes guerras foram substituídas pelas guerras híbridas?
“E seus custos não se resumem aos objetivos em relação aos ‘inimigos’, mas também, por exemplo, aos custos jurídicos, políticos, ideológicos que uma guerra tem. Como ela é generalizada, e em certa medida camuflada, ninguém mais pode ser responsabilizado. De certa forma, esse também é outro efeito da guerra que casa com o neoliberalismo, com a ideia de uma certa alocação dos recursos públicos.”
Espionagem contra Dilma em 2013 é exemplo de guerra de informação
“Do meu ponto de vista, não precisamos colocar tudo na chave da guerra híbrida, é melhor circunscrevermos os casos que se enquadram melhor analiticamente a ela — por exemplo, a guerra Israel-Hamas é um tipo; a insurgência estatal no Brasil a partir de 2014 é outro; as revoluções coloridas, como na Ucrânia em 2014, outro, e assim por diante.”
Qual a diferença entre guerra híbrida e Guerra Fria 2.0?
“A gente tem uma corrida no âmbito armamentista ou de rearmamento, ao mesmo tempo em que se tem uma questão sobre as informações, assim como na guerra híbrida. Então o que a gente tem na questão da Guerra Fria 2.0 não é uma releitura de fato, até porque hoje a geopolítica é multipolar, não é mais possível a gente falar em guerra bipolar ou em um contexto de bipolaridade como na Guerra Fria de fato.”
“Isso [espionagem] é uma estratégia que é usada historicamente. Então é por isso que é interessante a gente pensar sobre a guerra híbrida, o que ela traz de novo? Ela traz de novo o que a gente tem como uma ferramenta que não existia até então, que é a questão das informações. Ou seja, a questão da rede, a questão do ciberespaço, que é algo que a gente não tinha, essa é a nova dinâmica, esse é o ingrediente usado pela guerra híbrida, e que foi percebida a potencialidade que isso pode trazer.”
Eleições municipais de 2024 reacendem o risco de guerra híbrida
“Isso é uma necessidade, a necessidade de controlar a questão das informações ainda durante o processo de campanha. Não o processo técnico da eleição, mas o processo anterior, que é o processo de campanha, nisso realmente a gente precisa de regulamentação”, conclui.
Fonte: sputniknewsbrasil