GUILHERME CALDAS
SÃO PAULO, SP – Conhecido como “blokecore”, o uso das camisas de time como item de moda é uma tendência que ganha corpo com a aproximação da Copa do Mundo e inspira coleções de produtos especiais para o evento.
Junção da gíria inglesa “bloke” (mano, em português) e da palavra “core”, que pode ser traduzida como essência, o estilo, que ganha popularidade no Brasil, tem origens diversas, diz Valeska Nakad, professora de design de moda da Faculdade Belas Artes.
“Muita gente diz que [o blokecore] nasceu no Reino Unido, mas a gente sempre viu muito isso nas favelas brasileiras, e as camisas vêm ganhando cada vez mais aderência e sendo usadas em combinação com outras peças, como calças e saias.”
Ela explica que um evento da proporção do Mundial faz com que mais pessoas busquem esse tipo de item.
Henrique Coronati, 36, fundador da RetrôGol, conta que a ideia de lançar produtos especiais para a Copa é antiga.
Segundo ele, desde 2013, quando abriu a empresa em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, esta é a primeira vez que sentiu a marca consolidada o suficiente para produzir camisas especiais, em homenagem às cinco conquistas da seleção brasileira.
Coronati espera vender cerca de 20 mil produtos da coleção, lançada em setembro. As peças custam entre R$ 120 e R$ 150, e a expectativa é faturar R$ 3 milhões com a linha.
“A coleção Brasil Copas é algo que a gente queria fazer havia bastante tempo, e que sentíamos que nosso público também buscava. Homenagear as seleções que conquistaram o Mundial é interessante porque mexe com a nostalgia e com o orgulho do torcedor.”
Esse apelo às glórias do time, segundo Flávio Augusto da Silva, consultor do Sebrae-SP, é crucial para atrair o público. “A questão de a camisa lembrar um título ou um momento específico é interessante porque as vendas passam a depender menos de como o futebol do time está atualmente, algo que o empreendedor não tem como controlar.”
Flávio acrescenta que as camisas retrô podem ser uma alternativa ao simbolismo atribuído recentemente à peça oficial. “A gente vive um momento em que a camisa da seleção brasileira é associada a determinado grupo político, então pode ser até uma vantagem não ter apenas a camisa da CBF, e poder contemplar quem quer uma alternativa.”
Além da coleção especial para a Copa, a RetrôGol vende camisas de clubes brasileiros, europeus, e de outras seleções. Algumas, mesmo com menos expressão no futebol, como Camarões e Israel, são bem procuradas, diz Coronati.
“Camisas de seleções menos expressivas muitas vezes acabam vendendo bem pelas comunidades desses países presentes no Brasil e muito também pela beleza. O público procura isso”, conta.
Para a professora Valeska, essas camisas que, além do motivo esportivo, têm apelo estético, mostram que o “blokecore” é um movimento relevante também entre os clubes.
“A gente vê cada vez mais camisas lançadas pelos clubes com algo voltado para o uso do torcedor em diversos ambientes. Peças coloridas, com texturas e estampas diversificadas. A moda vem incluindo as camisas de time, mas também os clubes têm aderido a elementos da moda.”
A marca de roupas LaVíbora também aproveita o período da Copa para lançar produtos especiais. Com sede em Votuporanga, no interior de São Paulo, a empresa não costuma ter artigos esportivos em seu catálogo, mas viu no Mundial uma chance de lançar a coleção que, segundo o fundador da marca, Luan Bigotto, 28, busca todos os públicos.
“Ainda que haja uma afinidade, o nosso público não é específico do futebol e, mesmo assim, as vendas têm ido bem, muitos dos clientes são pessoas que ouvem sobre a Copa e querem aderir a esse estilo que está em voga”, diz ele.
Fundada em 2016, a empresa tem dez funcionários, e vende exclusivamente online.
A linha para a Copa, lançada no começo de outubro, é composta de quatro modelos de camisas e duas cores de shorts, e os artigos variam de R$ 90 a R$ 150.
Segundo Bigotto, o produto mais vendido tem sido uma camisa alusiva à da seleção brasileira que pode ser personalizada com nome e número de preferência do cliente. A camisa não é igual à usada em campo pois não tem o licenciamento exigido pela CBF.
A Federação Nacional do Comércio estima que seja movimentado R$ 1,4 bilhão em produtos relacionados ao evento neste ano. Para aproveitar a data, o empreendedor deve compreender bem seu público e se adaptar ao aumento nas vendas que um evento como o Mundial traz ao negócio, diz Silva, do Sebrae-SP .
“É importante que haja um plano de ação visando quem está comprando, e qual o período em que as vendas vão crescer. A Copa dura 30 dias, e a seleção campeã faz sete jogos, então é fundamental dosar o estoque para não ter uma sobra de produtos nem atrasar a demanda”, afirma.
Ele também ressalta que os produtos devem ter um atrativo extra. “Uma boa forma de chamar a atenção é vender produtos em kits. Pode ser algo voltado para uma família, ou peças diversas, como uma camiseta e um boné.”
Na linha de produtos especiais a LaVíbora lançou conjuntos com camisetas e shorts combinados, por um valor promocional. “Os shorts são muito buscados, e achamos que colocá-los junto das camisetas atrairia um público diferente para os dois”, afirma Bigotto.