O ano era 2022 e o Fiat Pulse era eleito o Carro do Ano. Com três voltas no velocímetro, chegamos a 2025, quando o Renault Kardian levou a melhor no prêmio mais importante do setor automotivo. E a edição 2026? Ainda é cedo para abrir o envelope, mas fato é que já temos um forte candidato: o recém-lançado Volkswagen Tera.
Por isso, reunimos o trio Volkswagen Tera, Fiat Pulse e Renault Kardian no tapete vermelho para responder: qual deles é o melhor SUV de entrada do Brasil? Antes, confira os testes que já fizemos de maneira individual de cada um dos candidatos:
Agora sim, senhoras e senhores, é hora de conhecermos melhor os indicados — e, claro, entender onde cada um se posiciona no mercado. Lançado em 2021, o veterano da turma é o Fiat Pulse, que, sendo experiente, não parou no tempo.
O SUV compacto recebeu, recentemente, um pequeno facelift na linha 2026. Isso explica a nova grade e (atenção para os flashes) o teto solar panorâmico como opcional — é agora o único da categoria com este item tão desejado pelos brasileiros, mas que custa caríssimos R$ 4.990 no pacote Sunroof, que também acrescenta farol de neblina de LED.
Sem contar esse item, mas já com o figurino atualizado, a versão Impetus Hybrid 2026 passou a custar R$ 146.990. Um aumento de R$ 2 mil na comparação com a linha 2025.
Na sequência temos o Renault Kardian, que chegou às lojas em 2024 com uma plataforma inédita e inaugurou a nova identidade visual da fabricante francesa no Brasil. O traje de gala de sua versão topo de linha, chamada de Première Edition, tem preço de R$ 145.990.
Só que toda cerimônia tem aquele novato ousado. E esse é o Volkswagen Tera, que sai do camarim com a expectativa de ser o carro mais vendido do país muito breve — e quer até superar o já consolidado Polo. Ambicioso? Talvez. Mas já larga na frente com um bom trunfo: o preço. Afinal, a configuração mais completa custa R$ 139.990, fazendo dele o mais acessível do trio.
É claro que o Tera também tem seus opcionais: R$ 2.839 pelo pacote Adas, que acrescenta assistente de permanência em faixa, sensores de ponto cego, assistente traseiro de saída de vaga, assistente de estacionamento e travel assist; e R$ 2.300 pelo pacote Outfit The Town, que inclui teto, retrovisores externos e maçanetas externas pintados de preto, logotipo nas colunas C, rack de teto preto e rodas de 17 polegadas escurecidas. O total sobe para R$ 145.129.
Só que, quando o assunto é motorização, temos um destaque entre os indicados: o Fiat Pulse, que entra em cena com um toque de inovação tecnológica e leva vantagem por ser o único a contar com um sistema híbrido leve (MHEV). Ou seja, tem ajuda de um motor elétrico, mas que não chega a tracionar as rodas sozinho.
O conjunto combina o conhecido motor Turbo 200 1.0 turbo flex de três cilindros e 12 válvulas com injeção direta a um sistema elétrico de 12V, cujo motor elétrico rende 4 cv e 1 kgfm auxiliares em momentos pontuais de uso. Assim, entrega 130 cv de potência e 20,4 kgfm de torque. Em outras palavras, o mais potente da noite. Já o câmbio é automático CVT com sete marchas simuladas.
No caso do Kardian, temos debaixo do capô o motor 1.0 TCe. Ou seja, também turbo flex de três cilindros com quatro válvulas por cilindro. Aqui, são 125 cv de potência e 22,4 kgfm de torque, com câmbio automatizado de dupla embreagem e seis marchas (EDC). Se não é o mais potente, leva com louvor a estatueta quando o assunto é torque.
Por fim, o Tera sobe ao palco com um motor conhecido pela plateia: o 170 TSI. Ou seja, também 1.0 turbo flex de três cilindros, 12 válvulas e injeção direta. Neste caso, o mesmo que equipa as versões mais caras do Polo. São até 116 cv e 16,8 kgfm com o câmbio automático de seis marchas. Sim, é o menos potente do comparativo.
Mas uma coisa é o que a ficha técnica diz. Outra é como os astros se comportam na frente dos holofotes. E aí que começamos a desvendar as nuances por trás da atuação do Pulse. Isso porque o seu sistema híbrido já protagonizou alguns episódios polêmicos.
Reclamações sobre falhas no funcionamento levaram a Fiat a admitir que a central eletrônica, que gerencia duas baterias de 12V (uma de lítio e outra de chumbo), pode acabar desabilitando o sistema. Um escorregão técnico, mas que recebeu, com a linha 2026, uma promessa de redenção: uma atualização de software e recalibração gratuita disponível em toda a rede de concessionárias.
Apesar disso, o Pulse continua oferecendo uma condução ágil e uma relação de câmbio bastante eficiente. E quando é a hora do cronômetro, ele entrega: acelera de 0 a 100 km/h em apenas 9,4 segundos — o mais rápido dos três. Porém, nem tudo são aplausos: por ser o mais pesado (1.245 kg), também é o que mais demora para parar. Foram necessários 42,4 metros para ir de 100 km/h à imobilidade total em nossos testes feitos no 127 Campos de Provas.
Do outro lado do palco, o Kardian se mostra mais firme nos passos por conta da suspensão mais rígida. É possível sentir trancos maiores quando o carro passa por vias mais irregulares, por exemplo. O câmbio também incomoda um pouco mais, porque as trocas de marchas são mais perceptíveis, principalmente em ultrapassagens.
Ainda assim, o representante da Renault mantém uma boa performance: vai de 0 a 100 km/h em 10,6 segundos — um número ainda bem aceitável para a categoria. Quando o assunto é frenagem, o francês ainda para com mais elegância do que o Pulse: em 38,6 metros.
Só que a surpresa da noite parece estar com a Volkswagen, que fez a lição de casa. Afinal, com uma calibração exclusiva no câmbio, conseguiu deixar o Tera com respostas mais ágeis e lineares. Em resumo, diminuiu o atraso de resposta do pedal do acelerador que aparece em Polo, Nivus e T-Cross em função da lei de emissões do Proconve L8.
A suspensão também foi ajustada especialmente para o modelo e, como já é tradição na marca, o Tera se destaca no conforto ao dirigir. É, sem exageros, o melhor dos três nesse quesito. Na hora de acelerar, porém, fica (bem) para trás: 0 a 100 km/h em 11,7 segundos — uma boa diferença para os rivais. Para compensar, por ser o único com freio a disco nas quatro rodas, vai de 100 km/h até a imobilidade mais rápido: em 37,4 metros.
E como concordaria qualquer diretor experiente, não dá para voltar para casa sem uma menção honrosa. Neste quesito, um deles merece muito por conta do seu consumo de combustível. Com gasolina no tanque, o Tera surpreende positivamente e recebe aplausos ao fazer, nos nossos testes, 11,5 km/l na cidade e 17,3 km/l na estrada.
As médias são melhores até do que as do Pulse Hybrid, mesmo sem qualquer tipo de eletrificação. Afinal, o SUV híbrido leve marca 11,3 km/l e 15,1 km/l, respectivamente, em nossos testes. O Kardian tropeça no palco na hora da apresentação, com 10,1 km/l em ciclo urbano e 11,6 km/l em rodoviário. Lembrando que nossos testes são feitos sempre com gasolina no tanque e ar ligado.
Não podemos esquecer também da estatueta de melhor porta-malas. Quem leva essa é o SUV da Renault, com seus 358 litros de capacidade no padrão de medição VDA, quando se usa blocos para determinar o volume total. Dá para levar bagagem do elenco inteiro (se as malas não forem muito grandes, claro).
O Volkswagen Tera surge logo depois na lista, com uma diferença bem pequena: são 350 litros. Já o Pulse foi “desclassificado” neste quesito porque a Fiat não divulga o volume de seu bagageiro da mesma forma, apenas na medição com sacos de água. Mas fato é que o italiano tem o menor compartimento dos três.
E se o espaço para bagagem conta pontos, imagine então o conforto dos passageiros. Por isso, o Renault Kardian mais uma vez sobe ao palco para agradecer. Com 2,60 metros de entre-eixos, oferece ótimo conforto na segunda fileira de assentos.
No Tera, o espaço interno é 3 cm menor em comparação com o rival da Renault. Estamos falando de 2,57 metros de entre-eixos, o mesmo de Polo e Nivus, com quem divide a plataforma MQB A0. Por fim, por ser o menor, o Pulse também acaba sendo o mais apertado, com 2,53 metros de entre-eixos.
Mesmo assim, na prática a diferença entre os três no espaço para cabeças, ombros e pernas dos ocupantes acaba não sendo tão considerável. E vale lembrar que, em todos, o túnel central é elevado, o que dificulta a vida de quem senta no banco do meio.
Como estamos em uma premiação moderna, não dá para ignorar as tecnologias. O Tera entra em cena com o já conhecido painel de instrumentos Active Info Display de 10,25 polegadas, além da central multimídia VW Play Connect de 10,1’’.
Ambos têm um funcionamento muito intuitivo e preciso admitir que o Tera tem, para mim, o melhor conjunto de telas digitais entre os três, tanto pela funcionalidade como por ser o maior combo do trio. No caso do Pulse, temos painel de instrumentos menor, de 7 polegadas, e uma multimídia UConnect na mesma dimensão do alemão.
O Kardian acaba sendo um mero coadjuvante nessa categoria, porque é o que mais peca nesse quesito. Tanto o cluster de 7 polegadas quanto a central multimídia de 8’’ ficam aquém dos dois concorrentes. Ainda que o sistema de entretenimento tenha conexão sem fio para Apple Car Play e Android Auto, como todos, não parece ser de um carro lançado em 2024. A qualidade da imagem das câmeras também fica para trás.
Pelo menos o ar-condicionado digital é um grande acerto do Renault, com todas as funções feitas por botões. E o verdadeiro destaque: freio de estacionamento eletrônico. É o único do segmento com esse item valioso e cheio de comodidade.
O último bloco começa com a avaliação do acabamento. E, aí, o SUV da Volkswagen surpreende até quem já estava com o roteiro na mão, pronto para criticar o excesso de plástico. Afinal, a marca resolveu (finalmente) caprichar mais e adicionou texturas diferentes e um material levemente macio ao toque no painel e nas portas dianteiras do Tera High.
No Pulse, a história já é diferente, Além de ser o mais caro, é o SUV que traz o acabamento mais simples e errático: muito plástico e alguns desalinhamentos na montagem. Já o Kardian oferece um painel menos criativo, mas com encaixes mais precisos, e bancos revestidos em tecido, mas com uma qualidade muito boa. Há também algumas partes com materiais macios e costuras laranjas para dar um charme extra.
Na lista de equipamentos de segurança, o Pulse fica de novo para trás por trazer apenas quatro airbags, enquanto Tera e Kardian têm seis. Pelo menos o Fiat é o único com alerta de limite de velocidade. Por outro lado, o Kardian se destaca por ser o único a vir de série com câmera dianteira, mas deixa a desejar por também ser o único sem alerta de saída de faixa.
Já o Tera é o mais equipado e tem até detector de fadiga, controle de cruzeiro adaptativo (ACC) e frenagem pós-colisão. Só poderia ter detector de ponto cego e assistente de permanência em faixa de série, e não como opcional que faz parte do pacote Adas, por R$ 2.839. Ainda assim, continua mais barato que os concorrentes até com esse extra. Em comum, os três contam com frenagem autônoma de emergência.
Sustentar uma celebridade costuma ser caro. Mas as três estrelas deste comparativo não são tão divas assim. O Tera cobra o preço mais caro pelo pacote de revisões até 60 mil km, porque a Volkswagen insiste em cobrar à parte por itens de troca obrigatória, como filtro de ar. Nesse aspecto, o Pulse tem o plano de manutenção oficial mais em conta.
Por outro lado, a cesta de peças do Volkswagen é consideravelmente mais barata que a dos dois rivais, e a única a ficar abaixo dos R$ 10 mil. Todos têm garantia de três anos.
Depois de tantas análises dos jurados, chega a hora de revelar o grande vencedor. Mesmo com o desempenho pior, por ser o mais barato e equipado, ter a melhor dirigibilidade e o menor consumo, quem leva a melhor é o Volkswagen Tera.
Vale dizer que a margem da vitória foi apertada. O Kardian quase levou o troféu por ter o maior espaço interno, acabamento honesto e uma boa lista de equipamentos. Já o Pulse ficou na lanterna. Basta saber se o novato vai repetir o sucesso na abertura do envelope do Carro do Ano 2026, assim como os dois rivais fizeram anteriormente. O show nunca para. Aguarde.
*Seguro: O valor é uma média entre as cotações das principais seguradoras do país com base no perfil padrão de Autoesporte, sem bônus. O levantamento foi feito pela Minuto Seguros, mas ainda não informa o preço para o Volkswagen Tera pelo fato do SUV ainda não ter chegado às lojas.
**Cesta de peças: Retrovisor direito, farol direito, para-choque dianteiro, lanterna traseira direita, filtro de ar (elemento), filtro de ar do motor, jogo de quatro amortecedores, pastilhas de freio dianteiras, filtro de óleo do motor e filtro de combustível
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Fonte: direitonews