Como marcas de carro tradicionais se renderam às chinesas para sobreviver


No Salão de Xangai, as rivais Volkswagen e Chevrolet estavam lado a lado, dividindo o mesmo pavilhão. Mas não, não eram os estandes “oficiais” das respectivas marcas. Estamos falando do espaço da Saic, uma das maiores fabricantes da China.

Isso acontece porque a Saic é parceira de ambas, como previa a antiga legislação chinesa da época da abertura da indústria automotiva local. Hoje, no entanto, o jogo virou. Tanto que Chevrolet e Volkswagen vão aproveitar a parceria com a gigante chinesa para reforçarem suas linhas no Brasil.

A Chevrolet trará Spark EUV e Captiva EV derivados dos Wuling Baojun Yep e Starlight S. Já a Volkswagen criará sua própria Amarok usando a Maxus Terron como base. Autoesporte apurou ainda que a Saic vai vender a Terron no Brasil ainda em 2025.

E esses são só dois exemplos do que a indústria chinesa tem feito. Ainda em janeiro, duas notícias relacionadas à China, uma vinda da Europa e outra do Brasil, chamaram a atenção.

Na Alemanha, a direção da Volkswagen anunciou estar disposta a permitir que montadoras chinesas assumam suas linhas de produção excedentes na Europa. No Brasil, a Stellantis anunciou que começará a vender aqui veículos da sócia chinesa Leapmotor. Os SUVs B10 e C10 serão os primeiros.

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Quando fevereiro chegou, outra novidade na mesma linha agitou o setor. Confirmando notícia antecipada por Autoesporte, Renault e Geely divulgaram um acordo para produção e venda de carros da marca chinesa no Brasil.

A Volkswagen tem enfrentado forte concorrência das chinesas, que agora têm interesse em usar a capacidade ociosa das fábricas alemãs. Executivos da companhia teriam dito ao Financial Times que a única saída para sanar a crise seria fazer uma parceria com os chineses para fabricar modelos elétricos.

Há pouco mais de um ano, a Stellantis, dona de marcas centenárias, adquiriu participação de 20% da startup Leapmotor, uma chinesa que começou a produzir veículos há pouco mais de cinco anos. O acordo foi fechado sob a condição de a Leapmotor poder fabricar e vender carros fora da China, como no Brasil.

O presidente da Stellantis na América do Sul, Emanuele Cappellano, já acenou com um plano de produção local de carros da marca chinesa. Segundo ele, a Lepmotor busca a nacionalização em todas as regiões em que atua. No caso da recente parceria entre Renault e Geely, o acordo permitirá à chinesa o acesso à fábrica de São José dos Pinhais (PR) e à rede de revendas da marca francesa.

Além do SUV elétrico EX5, já confirmado, um segundo modelo Geely deve ser lançado ainda em 2025.

As notícias que chegam mostram como a ascensão das marcas chinesas no mercado automotivo global está longe de ser uma onda passageira. A “invasão” a que muitos se referem poderá rapidamente se transformar em domínio.

Além disso, a surpreendente disposição da Volkswagen de ceder fábricas e as parcerias anunciadas neste início de ano revelam que montadoras ocidentais, que antes combatiam as chineses, estão começando a ser unir a elas.

Talvez, por uma questão de sobrevivência, já que investiram dezenas de bilhões de euros em linhas inteiras de carros elétricos, mas a velocidade da transição energética tem sido menor do que o esperado.

De todo modo, essas alianças não são totalmente novas. Renault e Geely já possuem uma joint venture na Horse, empresa que produz motores, inclusive no Brasil, e uma sociedade na Coreia do Sul. Vale lembrar, ainda, que desde 2010 a Geely é dona da sueca Volvo.

Mas os novos acordos chamam a atenção num momento em que a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) tem insistentemente reivindicado ao governo federal uma antecipação imediata do aumento do Imposto de Importação de carros elétricos para 35%, previsto para acontecer, de forma escalonada, até julho de 2026.

Nos últimos meses, em todas as apresentações dos resultados mensais, a Anfavea tem mostrado à imprensa dados que sustentam a preocupação da entidade em relação ao aumento dos volumes de carros importados da China. É bem provável que as recentes parcerias fechadas pelos próprios sócios da entidade levem a uma mudança de tom nesses discursos.

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Fonte: direitonews

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