Entre nos nossos canais do Telegram e WhatsApp para notícias em primeira mão.Telegram: [link do Telegram]
WhatsApp: [link do WhatsApp]
Em uma iniciativa inédita e alarmante, o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) e a Polícia Nacional estão percorrendo escolas em todo o país para alertar adolescentes sobre os perigos do recrutamento por serviços de inteligência russos, especialmente o FSB. A tática: oferecer dinheiro fácil via redes sociais como Telegram, TikTok e Discord para que jovens cometam atos de sabotagem, incêndios e até fabriquem explosivos caseiros.
A cena se repetiu em uma sala de aula em Leópolis, onde cerca de 50 adolescentes ouviram um agente de inteligência ucraniano, com rosto coberto por um capuz de camuflagem, proferir uma dura advertência: “Lembro que na Ucrânia a responsabilidade criminal começa aos 14 anos. Infelizmente, esse dinheiro fácil pode levar tanto à responsabilidade criminal quanto à morte”, disse o agente, conforme relatou o The New York Times. A frase buscou não apenas informar, mas chocar, alertando para um perigo que espreita nos telefones dos jovens ucranianos.

(X: SBU)
Desde abril, a campanha de conscientização visa desmascarar os métodos russos. O objetivo é claro: impedir que a promessa de dinheiro rápido e simples se torne um anzol para quem busca renda em um país devastado pela guerra.
Táticas de Recrutamento e Casos Chocantes
Durante a apresentação, o agente anônimo projetou um vídeo impactante: um maço de notas de 100 dólares sobre uma ratoeira, adornada com uma caveira vermelha. A mensagem era direta: “Como não cair na armadilha dos serviços de inteligência russos”. Exemplos reais e chocantes foram apresentados, incluindo o caso de um adolescente que, sem saber, foi convertido em homem-bomba pelos russos e perdeu a vida.
Segundo o SBU, a estratégia russa se sofisticou no último ano, buscando menores que, muitas vezes, nem sequer percebem que estão colaborando com o inimigo. “Os adolescentes geralmente procuram ‘dinheiro fácil’ no Telegram, onde os russos os esperam”, explicou a porta-voz do SBU na região de Leópolis, Roksolana Yavorska-Isaienko, ao The New York Times. As tarefas, a princípio, parecem inofensivas: entregar um pacote, fotografar uma subestação elétrica, pichar grafites. Em troca, recebem centenas ou até milhares de dólares. No entanto, a implicação pode aumentar por chantagem após a primeira missão ou pela obtenção de imagens comprometedoras hackeadas de seus telefones.
As cifras do SBU são alarmantes: até o final do mês passado, as autoridades haviam acusado mais de 600 pessoas de tentar cometer incêndios, atos terroristas ou sabotagens na Ucrânia após serem recrutadas. Aproximadamente uma em cada quatro era menor de idade, incluindo um agressor de apenas 13 anos. Em maio, o chefe da polícia juvenil nacional declarou que quase 50 crianças haviam denunciado tentativas de recrutamento.
Guerra Clandestina e Vítimas Inocentes
A guerra encoberta entre Ucrânia e Rússia não é novidade, com ambos os lados recorrendo a operações clandestinas desde 2022. No entanto, a captação de adolescentes ucranianos pelos russos representa um salto qualitativo, visando ataques indiscriminados perto de centros de recrutamento militar ou estações de trem, segundo Yavorska-Isaienko. O método lembra o uso de menores como homens-bomba em países como Afeganistão ou Paquistão.
Um dos episódios mais chocantes para os estudantes de Leópolis ocorreu em março, na cidade de Ivano-Frankivsk. Dois adolescentes, de 15 e 17 anos, foram recrutados via Telegram com a promessa de US$ 1.700. Eles fabricaram bombas com garrafas térmicas e porcas metálicas. Quando tentaram entregar um dos artefatos, agentes russos o detonaram à distância perto da estação de trem. O jovem de 17 anos morreu, e o de 15 perdeu as pernas.
Em abril, o SBU prendeu um jovem de 17 anos e outro de 18 em Leópolis, acusados de incendiar caixas de relés ferroviários após serem recrutados no Telegram. O The New York Times publicou um trecho de uma conversa entre eles e seus contatos russos: “Sim, o dinheiro estará amanhã”, escreveu o recrutador, com o adolescente respondendo: “Entendido, irmão”. Cerca de US$ 178 foram transferidos para a conta do jovem.
O fenômeno não se restringe a uma região. Em Rivne, dias antes da aula em Leópolis, dois adolescentes fabricaram um explosivo, o colocaram em um prédio abandonado e ligaram para a emergência. A bomba explodiu quando a polícia chegou, sem feridos. Os jovens foram presos.
Educação e Vigilância como Defesa
A aula na escola secundária número 32 de Leópolis foi a 200ª que o SBU ministrou na região desde o início do programa de conscientização em abril. Os apresentadores sabiam como prender a atenção dos adolescentes. “Talvez nem todas essas operações especiais sejam noticiadas na mídia, mas acreditem, o inimigo não dorme”, advertiu Yavorska-Isaienko. “Eles estão trabalhando ativamente e realizando atividades ilegais, por mais estranho que pareça, diretamente dentro de seus telefones”. A funcionária insistiu que as ofertas de dinheiro rápido são o primeiro passo para o recrutamento: “E quando ouvem uma oferta para ganhar dinheiro rápido para um iPhone novo ou 1.000 dólares, claro que parece muito tentador. Às vezes, a tarefa é disfarçada de uma simples entrega de mensageria, tirar fotos de infraestruturas críticas ou pintar grafites provocativos. Esse costuma ser o primeiro passo para o recrutamento”.
Apesar do ambiente escolar com pôsteres e modelos científicos, a seriedade predominava. Os estudantes, muitos com familiares no front, questionavam como os russos faziam a vigilância e como poderiam ajudar a combater o FSB. Um deles, Volodia Sozonyk, de 17 anos, perguntou: “Posso ajudar e reportar aos serviços de segurança se já tentaram me recrutar? Se me enviaram um endereço ou algo que devo fazer, posso identificar esse lugar para que seus agentes possam intervir?”
Yavorska-Isaienko e o agente mascarado responderam que os estudantes podem informar anonimamente qualquer tentativa de recrutamento por meio de um novo chatbot chamado “Denuncie o Agente do FSB”. A porta-voz do SBU apelou ao bom senso dos jovens: “Ninguém na vida real vai lhes oferecer de repente 1.000 ou 2.000 dólares assim do nada. Devem entender: o único queijo grátis está na ratoeira”, sentenciou.
Segundo o The New York Times, a campanha do SBU e da Polícia Nacional busca frear a utilização de menores como instrumentos de guerra encoberta. O fenômeno, que já deixou vítimas e dezenas de jovens detidos, revela a vulnerabilidade de adolescentes em contexto de conflito e a sofisticação das táticas russas. As autoridades ucranianas insistem que a melhor defesa é a informação e a vigilância constante de pais e jovens.
O meio americano detalhou que, embora o FSB não tenha respondido às solicitações de informação, as evidências ucranianas apontam para uma campanha sistemática. Adolescentes, atraídos por dinheiro fácil, tornam-se alvos ideais para sabotagem e espionagem. A advertência nas aulas de Leópolis ressoa: o inimigo não está só no front, mas também nos dispositivos que os jovens carregam.
Fonte: gazetabrasil