Como a Chevrolet vai montar o Spark no Brasil sem ter fábrica de elétricos


A General Motors tem três fábricas de automóveis no Brasil e outras duas para o desenvolvimento de motores e peças. Ao menos por ora, nenhum destes complexos está plenamente apto a receber a estrutura de montagem de um carro elétrico — ainda assim, a marca vive a expectativa de ter o primeiro veículo do segmento feito no país.

Isso porque a GM fechou parceria com a Comexport, que irá produzir o Chevrolet Spark EUV em Horizonte (CE). A montagem no arranjo SKD, em kits pré-montados, terá início ainda em 2025 — e com a indefinição sobre o início da operação da fábrica da BYD em Camaçari (BA), o novo SUV compacto chinês da GM pode largar na frente.

Apesar da possibilidade, o tom nos escritórios da empresa é de cautela. “Pode acontecer, mas não estamos apostando uma corrida [para ter o primeiro carro elétrico do Brasil]”, disse Fábio Rua, vice-presidente da General Motors na América do Sul, à nossa reportagem.

O executivo revelou ainda que o lançamento do Spark EUV está fora do montante de R$ 7 bilhões em investimentos que a General Motors anunciou para o Brasil ao longo dos próximos anos. “A Comexport tem licença para montar o Spark em Horizonte — e nós compramos da Comexport”, afirmou Rua. O pequeno SUV elétrico de origem chinesa, vale lembrar, é projeto da Wuling, parceira da GM na Ásia.

A GM também promete aprimorar o projeto do Spark em comparação com o Baojun Yep, sua versão chinesa. Por enquanto, com exceção dos logotipos, os SUVs são idênticos, mas o modelo nacional deverá ser mais completo: uma versão de cinco lugares está nos planos, além da instalação da interface Onstar.

A Comexport diz que a GM não será a sua única parceira. Apesar da fábrica de Horizonte estar em processo de adaptação para também receber a linha de montagem do Captiva EV, outras fabricantes negociam — ou já negociaram — com a empresa para produzir no Ceará. É o caso de marcas como Neta e Omoda Jaecoo.

Isso porque a fábrica da Comexport funcionará como uma espécie de “barriga de aluguel” para as marcas brasileiras. Em outras palavras, será uma fábrica “multimarcas” — e existe até um exemplo de sucesso no continente que serviu de exemplo para essa operação.

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A Nordex está localizada em Montevidéu, no Uruguai, e estreou o conceito de fábrica multimarcas na região. Ali são produzidos carros da Stellantis (as vans Scudo, Expert e Jumpy), da Ford (a van Transit) e também da Kia (o caminhão Bongo). Até o segundo semestre deste ano a Fiat Titano também era montada na instalação, mas teve sua linha transferida para Córdoba (Argentina).

E como fábricas pequenas como a da Comexport no Ceará e a da Nordex em Montevidéu conseguem atender tantas marcas? A resposta está na produção CKD ou SKD.

Carros montados nos arranjos CKD e SKD são produzidos em outros países, mas as peças são importadas ao Brasil em kits que podem ser totalmente desmontados ou parcialmente montados. De tal forma, economiza-se no transporte, já que os produtos ocupam menos espaço nos contêineres.

Boa parte dos veículos CKD e SKD têm pouco — ou até nenhum — índice de nacionalização. Há casos em que nem o ar que enche os pneus é brasileiro. É por isso que a partir de janeiro de 2027, veículos produzidos nestes arranjos pagarão 35% de imposto; o mesmo de carros importados. A decisão da Câmara de Comércio Exterior (Camex) veio após pressão das fabricantes tradicionais representadas pela Anfavea.

Apesar de estar no grupo que defendeu a retomada do imposto para carros CKD e SKD, a General Motors optou por produzir o Spark EUV no Brasil neste regime. A companhia, porém, promete elevar o nível de nacionalização do novo SUV ao longo dos anos.

Chega a ser irônico que o Spark, um SUV com formato de jipe, seja montado na mesma fábrica que pertencia à Troller. Fundada em 1995, a fabricante brasileira deixou legado no segmento off-road, mas encerrou suas atividades em 2021 com o fim da operação nacional da Ford.

O primeiro carro da Troller, o T4, deixou a linha de montagem de Horizonte em 1999 utilizando peças de diversos veículos. Os motores, por exemplo, tinham origem Volkswagen; já a carroceria era de fibra de vidro e o chassi era feito artesanalmente. Em 2007 a marca brasileira foi adquirida pela Ford em uma negociação até hoje marcada por polêmicas. Especialistas de mercado apontaram que a empresa na verdade estaria interessada nos incentivos fiscais por produzir na região.

Com o fim da produção local da Ford em 2021, que também culminou no fechamento da planta de Camaçari, o complexo de Horizonte foi devolvido ao Governo do Ceará que, em 2024, fez acordo com a Comexport. Agora, o antigo berço de um jipe nacional servirá de endereço para um SUV elétrico chinês.

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Fonte: direitonews

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