Comissão de Relações Internacionais aborda cláusulas de sustentabilidade para exportação


Exigências afetam o mercado de commodities agrícolas operado por traders na capital

André Bueno | REDE CÂMARA SP

Reunião da Comissão Extraordinária de Relações Internacionais desta terça-feira (29/8)

ANDREA GODOY
DA REDAÇÃO

A Comissão Extraordinária de Relações Internacionais realizou uma reunião nesta terça-feira (29/8) com o professor da Escola de Relações Internacionais da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e consultor do Banco Mundial, Eduardo Mello. Ele falou sobre o crescimento da exigência de cláusulas de sustentabilidade em acordos internacionais de livre comércio registrados na OMC (Organização Mundial do Comércio).

“Cada vez mais os tratados internacionais envolvem o compromisso com o desenvolvimento sustentável e a rastreabilidade dos produtos agrícolas desde o início até o final da cadeia produtiva”, expôs o professor Eduardo, ao falar sobre essa tendência mundial que exige adaptação dos produtores para exportar aos mercados consumidores mais exigentes.

Inclusive, o professor mostrou que o acordo entre Mercosul e União Europeia está exatamente na fase de negociação em torno de exigências ambientais, como combate ao desmatamento e rastreabilidade. “Os capítulos todos do acordo já foram fechados com um texto básico em que as duas partes concordam, agora a questão é uma carta adicional que a comissão europeia protocolou junto ao governo brasileiro sobre compromissos de sustentabilidade que o lado europeu deseja adicionar ao texto do tratado”, relatou.

Um estudo feito pela Escola de Relações Internacionais da FGV sobre cláusulas ambientais no comércio de açúcar do Brasil para a União Europeia revelou que a maioria dos produtores que conseguiu se adaptar para obter o certificado Bonsucro, que demonstra compromisso com a sustentabilidade ambiental e social da cana-de-açúcar, é do Estado de São Paulo e de grandes produtores.

A pesquisa demonstra ainda que implantar uma produção sustentável exige investimentos em tecnologias e um tempo de adaptação, que constitui um desafio aos pequenos produtores. “Para quem conseguiu fazer a transição, houve uma piora inicial na performance em função do custo de adaptação, de fornecedores não estarem preparados e após a fase da adaptação há uma vantagem mercadológica na exportação, que tende a se acomodar na medida em que o mercado se adaptou e ninguém mais exporta sem a certificação”, concluiu.

O professor Eduardo Mello contou que a Escola de Relações Internacionais está produzindo uma inteligência artificial sobre o índice de risco para as cadeiras produtivas agrícolas. “Estamos mapeando onde estão os riscos em termos de certificação sustentável e legislação internacional para as cadeias produtivas brasileiras, principalmente para o setor agrícola que é o mais impactado em questão. Há uma série de protocolos internacionais que têm que ser seguidos e as cadeias produtivas precisam se adaptar e para isso é importante saber onde estão os riscos”, explicou.

Apesar das mudanças no cenário agrícola parecerem distantes da realidade urbana da capital, o professor Eduardo explicou que é bem ao contrário. Afinal, a negociação de produtos agrícolas, etapa final de venda, acontece exatamente nos escritórios do município.

“O grande produtor de açúcar não está vendendo seu produto sozinho e sim via São Paulo. A venda é intermediada pela trader de commodities na Avenida Faria Lima. Então uma boa parte dos serviços financeiros depende de regulação internacional que seja vantajosa para o produtor nacional. É uma longa cadeia que termina aqui, então se a cadeia agrícola enfrenta desafios, isso vai se refletir nas traders de commodities baseadas aqui em São Paulo”, exemplificou.

A presidente do colegiado, vereadora Cris Monteiro (NOVO), disse que pretende encaminhar a pauta da sustentabilidade para a Secretaria Municipal de Relações Internacionais. “Precisamos ver como a Prefeitura pode se engajar nesta questão dos tratados, porque São Paulo é forte na área dos serviços, mas também como ele falou aqui em serviços financeiros de commodities agrícolas, ou seja, a agricultura culmina na capital com a intermediação de traders da Faria Lima que vendem para o mercado futuro na Bolsa de Valores”, pontuou a parlamentar.

Já o vereador André Santos (REPUBLICANOS) se disse preocupado com a adaptação de pequenos produtores e os da agricultura familiar, com menos recursos para investir em tecnologias sustentáveis. O vice-presidente, vereador Rubinho Nunes (UNIÃO) e o vereador Hélio Rodrigues (PT) também participaram da reunião, onde também foram aprovados dezesseis requerimentos de convites para os próximos encontros da Comissão de Relações Internacionais.

Confira alguns dos requerimentos aprovados. Todos os listados abaixo são de autoria da vereadora Cris Monteiro:

– Convite à embaixadora Irene Vida Gala, chefe substituta do ERESP (Escritório de Representação em São Paulo do Itamaraty);
– Convite à Martina Hackelberg, cônsul-geral da Alemanha em São Paulo;
– Convite ao embaixador Mauro Vieira, diplomata e ministro de Estado das Relações Exteriores do Brasil;
– Convite a Renato Pacheco Neto, cônsul-geral da Suécia em São Paulo;
– Convite a Ryosuke Kuwana, cônsul-geral do Japão em São Paulo.

Veja a reunião completa no vídeo abaixo:

 

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