Depois de dois anos tentando conter o reajuste das mensalidades escolares por receio de perderem alunos, as escolas particulares do estado de São Paulo devem, em média, aumentar os valores em 10,9% para o próximo ano.
Com a alta da inflação e da inadimplência, os colégios afirmam não ter mais margem para segurar o aumento. O levantamento foi feito pelo Grupo Rabbit, consultoria especializada em educação, com 680 escolas de todas as regiões do estado.
Sondagem do Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de São Paulo), com as unidades associadas, também aponta para reajuste entre 10% a 12%. No acumulado dos últimos 12 meses até setembro, a inflação foi de 7,17%, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
“É um momento muito complicado para as escolas, porque a situação política e econômica ainda está muito instável. Essa deflação que a gente viu nos últimos meses não deve durar e pode ser que a inflação volte com força”, diz Benjamin Ribeiro, presidente do sindicato que representa as escolas.
Entre os fatores que mais pesam na hora de definir o valor das mensalidades está a folha de pagamentos dos funcionários, especialmente, dos professores -em média, os salários representam quase 60% dos custos das instituições de ensino. Os docentes já conseguiram em acordo sindical um reajuste no valor da inflação para março do próximo ano.
“Já sabemos que o nosso maior custo vai ser reajustado no patamar da inflação, mas não sabemos qual vai ser esse índice. É uma situação de muito risco para as escolas. Não podem subir muito sob o risco de perder alunos nem abaixo para não desequilibrar o caixa”, diz Ribeiro.
Segundo Christian Coelho, CEO do Grupo Rabbit, as escolas também temem fazer um reajuste maior do que as famílias podem pagar e, com isso, aumentar a inadimplência -que em junho estava em cerca de 11% dos contratos. A média histórica dos últimos dez anos é de 5,5%.
“A inadimplência no setor educacional tende a diminuir no fim do ano, porque aí os pais temem não poder fazer a rematrícula dos filhos. Essa taxa tende a diminuir, mas essa flutuação quebra o caixa financeiro de muitas escolas”, explica.
A pesquisa feita pela consultoria identificou que 7 a cada 10 escolas estão pagando algum tipo de empréstimo que fizeram nos últimos anos, seja para cobrir problemas de fluxo de caixa ou investimentos.
“A maior parte das dívidas está relacionada a problemas de fluxo financeiro, quase sempre por causa da inadimplência. Outro fator que pesou muito neste ano foi o fato de as escolas terem mantido descontos que deram na pandemia para não perder alunos”, diz Coelho.
O impacto da inflação e da inadimplência, segundo ele, tem sido a baixa capacidade das escolas de fazerem investimentos na área pedagógica ou estrutural.
“Muitas escolas não estão prevendo fazer investimentos em tecnologia ou troca de mobiliário. Algumas até mesmo estão vendo como cortar gastos de manutenção do prédio, por exemplo, não pintar o prédio de escola.”