Conteúdo/ODOC – O volume apreendido de cocaína no Centro-Oeste pela Polícia Federal se tornou o maior do país em 2023, com a apreensão de 23,6 toneladas, sendo a maior parte delas em Mato Grosso (14,1 toneladas). O volume foi maior do que o da região Norte inteira (7,4 toneladas). As informações são do Anuário da Segurança Pública 2024.
Nos 9 anos anteriores da série histórica, o Sudeste foi a região com maior volume de apreensões, embora desde 2019 apresente tendência de redução, sendo finalmente superada pelo Centro-Oeste em 2023.
Os estados com maiores volumes de apreensões registradas no ano passado são: São Paulo, com 16,9 toneladas, Mato Grosso (14,1t), Paraná (8,3 t), Rondônia (3,8 t) e Pernambuco (3,7t).
Conforme o estudo, as concentrações de droga nesses estados parecem apontar pontos relevantes para as rotas transnacionais: estados fronteiriços, vizinhos de países produtores, como Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas e Rondônia. E do outro lado temos estados com saída para o mar, como São Paulo e Bahia.
Para os pesquisadores David Marques, doutor em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos, e Marina Bohnenberger, mestre em Antropologia pela Universidade de São Paulo, que escreveram o capítulo “Enxugando o gelo do crime organizado: dez anos de apreensões de drogas no Brasil”, o Estado brasileiro precisa aperfeiçoar as estratégias de enfrentamento das organizações criminosas, que operam um mercado bilionário e crescente, com muito sucesso.
“A modernização das ferramentas de descapitalização do crime organizado está na ordem do dia e isso, é importante que se diga, só será possível por meio da qualificação da investigação criminal e da articulação, em nível nacional, das instituições de segurança pública, de justiça criminal, de inteligência financeira, do setor privado, incluindo as instituições financeiras, e de cooperação internacional. Só assim será possível blindar a economia formal e as instituições democráticas do país das influências deletérias do crescente poder econômico do crime organizado”.
Eles apontam que há pelo menos 72 facções criminosas no país de base prisional, cuja a principal fonte de renda é o narcotráfico. Esse tem sido um dos principais desafios à segurança pública no Brasil e demanda do Estado uma nova abordagem para fazer frente ao seu crescente poder.
Mais do que um mercado consumidor, o Brasil é um entreposto importante na cadeia transnacional da cocaína, que é produzida na América do Sul e consumida em outros centros, como Europa, Ásia e África. Os maiores produtores globais, Colômbia, Peru e Bolívia, são países vizinhos ao Brasil e parte significativa do volume produzido é direcionado a estes outros grandes mercados consumidores saindo de portos e aeroportos brasileiros.
“As organizações criminosas mostram sua relevância, especializando-se em controlar rotas para o tráfico transnacional, entre os países produtores e os países consumidores, e controlando rotas interestaduais, territórios e pontos de venda para o varejo nacional. Por ser um mercado de enorme valor agregado e não regulado pelo Estado, o crime organizado explora vulnerabilidades sociais e institucionais, e tem grande capacidade de produzir violência e restringir direitos nos territórios nos quais atua”, escreveram os pesquisadores no Anuário.
Fonte: odocumento