Enquanto a oferta da safra 2024/25 de soja está se construindo, até agora, sem grandes ameaças, a comercialização da oleaginosa está atrasada tanto no Brasil, quanto nos Estados Unidos. Os preços da commodity na Bolsa de Chicago completam, nesta sexta-feira (16), sua décima semana consecutiva de baixas entre as últimas 12, o que deixou os momentos de margens – pelo menos aceitáveis – para os sojicultores de ambos os países.
As vendas da nova temporada norte-americana chegam a perto de 40%, segundo relata o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, enquanto o ideal para este período, com as lavouras na fase de formação de vagens e enchimento de grãos, seria já um volume superior aos 50%. No entanto, há produtores em algumas regiões dos EUA com prejuízos que já chegam há US$ 2,00 por bushel, o que os deixa ainda mais afastados de novos negócios.
“Eles estão travados, esperando que haja uma virada da soja em Chicago, ou uma melhora nos prêmios para eles, para que possam voltar a negociar com margem, sem ter prejuízos”, diz o consultor.
E embora no Brasil as condições não sejam tão distantes das observadas nos EUA, há certa vantagem para o produtor brasileiro nas vendas da safra 2024/25, em especial por conta do dólar, que está valorizado. Da nova temporada, o Brasil já negociou perto de 17%, quando seria normal – e até necessário – que perto de 30% e um pouco mais já estivessem comprometidos.
“Hoje, se formos avaliar os custos da soja na questão dos insumos, em lugar nenhum a safra nova está dando prejuízo. Mas, se trouxermos o custo total, incluindo arrendamento, maquinário, tudo, já há lugares onde as margens estão estranguladas. Ainda assim, os produtores brasileiros estão em uma situação mais confortável do que os americanos pelos nossos prêmios melhores, o dólar estando cerca de 10% acima do que deveria, o que compensa um pouco essa situação de soja barata em dólar”, afirma Brandalizze.
Por outro lado, o sinal de alerta no mercado brasileiro está sobre uma menor competitividade em relação aos EUA, o que resultou, inclusive, em um ritmo de novos negócios bastante baixo nesta semana, com os preços caindo até R$ 10,00 na paridade de exportação, principalmente para a safra nova.
“O Brasil, neste nível de preço, vai ser menos vendedor, e os EUA vão continuar vendendo, porque precisam vender, porque vendeu pouco e vai colher uma safra recorde. Assim, o preço está fazendo o trabalho dele que é desestimular o Brasil a vender, dando espaço aos EUA”, explica Eduardo Vanin, analista de mercado da Agrinvest Commodities.
No entanto, ele explica ainda que essa é agora uma “corrida contra o relógio”, já que as vendas estão ainda muito atrasadas, o que o faz acreditar, inclusive, que o último número apontado pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) para as exportações 2024/25 dos EUA de 50,35 milhões de toneladas – corrigido para cima no reporte de agosto em relação a julho – “é muito otimista”. “Na minha opinião é bastante otimista, mas só o tempo vai dizer. Tem que vender bastante, todo dia, a todo momento, ou não será alcançado. O preço está fazendo seu trabalho”.
O PONTO É O RITMO
“O ponto é o ritmo. Será preciso um ritmo parrudo para o mercado acreditar e comprar a ideia de que serão exportadas 50 milhões de toneladas – ou mais -, o que seria ótimo para Chicago, então, a questão é o ritmo. E está vendendo. O Brasil muito menos agora, e assim vai ser, mas, semanalmente, os EUA têm que semanal e diariamente tem que reportar grandes volumes. O ritmo de vendas daqui até fevereiro tem que ser o recorde histórico. O recorde que temos até hoje é de 28 milhões de toneladas de vendas novas entre o início de setembro a fevereiro. Então, tem que ser maior do que 28 milhões, e não é nada fácil”, complementa Vanin.
E este ritmo é o principal indicador para Chicago agora, ainda como explica o analista da Agrinvest Commodities. Afinal, além de tudo isso que os EUA têm que vender, o Brasil deve chegar com mais soja ao mercado para disputar espaço nos próximos meses, com uma safra que, inicialmente, é projetada pelo USDA em 169 milhões de toneladas.
PREÇOS MAIS BAIXOS, COMPRADORES MAIS ATIVOS?
A China, maior compradora mundial de soja, ainda tem que garantir alguns bons volumes do grão para fechar 2024 e iniciar 2025 e, certamente, monitora estas baixas constantes dos preços para ir revisitando suas estratégias de compra nas principais origens. Não a toa que, nas últimas semanas, o departamento norte-americano trouxe mais frequentes anúncios diários de vendas da oleaginosa para destinos não revelados e dados das vendas semanais para exportação que vieram mais robustos, superando as expectativas do mercado. Reflexo da soja dos Estados Unidos mais barata do que a do Brasil.
“Em 3 semanas, o flat price da soja CFR China caiu US$ 30 por tonelada para a nova safra dos EUA e US$ 20 para a nova safra do Brasil. O farmer selling lento no Brasil nesta semana, portanto, não foi nenhuma surpresa”, diz Vanin.
Dessa forma, a tendência é de que as compras ganhem um pouco mais de ritmo nos próximos meses, em especial por parte dos chineses, garantindo estes valores mais atrativos, em especial depois de iniciada a colheita nos EUA, com mais soja chegando ao mercado. Já no Brasil, segundo Vlamir Brandalizze, “a tendência é de que saiam mais negócios para completar navios que já estão programados. Não acredito que já vão começar a nomear novos navios agora para a soja”.
A semana vai terminando com os prçeos da soja brasileira, da safra nova, entre R$ 121,00 e R$ 123,00 por saca, base porto de Paranaguá, para os meses de março, abril, e maio, se mostrando quase R$ 20,00 mais baixos do que os melhores momentos que já foram registrados há algumas semanas, quando os indicativos chegaram a alcançar até R$ 140,00, de acordo com a Brandalizze Consulting.
Para o consultor em agronegócios Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios, “o demandador já identificou essa fragilidade comercial das origens”, o que vai fazer os compradores a esperarem até o “último minuto” para intensificar suas aquisições.
TRUMP E XI PODEM DEFINIR UM OUTRO RITMO DAS VENDAS?
Ao lado dos fundamentos que direcionam o ritmo da comercialização da soja 2024/25 há ainda um fator político determinante neste ano – e para o próximo – que terá influência fundamental para o caminhar dos negócios que são as eleições presidencias nos Estados Unidos. A volta do republicano Donald Trump à Casa Branca pode mudar severamente as relações entre China e Estados Unidos e, consequetemente, o comportamento da demanda da nação asiática pelas commodities norte-americanas.
“Se Trump ganhar, qual será a agressividade dele com a China? Se ele for muito agressivo, geopoliticamente a China tem algumas ferramentas para prejudicar a economia americana e uma delas é comprar o mínimo necessário de commodities nos EUA”, afirma Ênio Fernandes.
Para o consultor da Terra, este ponto a mais no mercado é extrema necessidade de monitoramento, principalmente porque os traders já conhecem a reação dos preços neste cenário de guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo, tendo como exemplo o quadro de 2018. No entanto, a oferta que está sendo construída de soja é bem maior agora, com o USDA estimando a produção global 2024/25 em 428,73 milhões de toneladas e estoques finais de mais de 130 milhões.
“Não acho que Trump será extremamente agressivo já de cara, porque vai construir suas bases e sentir o mercado, o Congresso Americano. Acredito que no meio de 2025 teremos uma visão mais clara da geopolítica, até lá acredito que teremos uma fotografia muito parecida com o que temos agora”.
Fonte: noticiasagricolas