Os desdobramentos em torno da presença de navios iranianos no Brasil seguem um ritmo forte, até mesmo na data em que as embarcações deixarão o porto do Rio de Janeiro, a qual será hoje (4) mesmo.
Washington comunicou ao governo brasileiro que não seria possível realizar a reunião entre os presidentes Joe Biden e Luiz Inácio Lula da Silva – no dia 10 de fevereiro na Casa Branca – ao mesmo tempo em que as embarcações iranianas entravam no espaço marítimo brasileiro. A frase usada por um funcionário norte-americano na época para classificar a junção dos acontecimentos teria sido “é um tiro no pé“, e então, Lula então adiou a autorização, segundo a CNN.
Os Estados Unidos veriam a presença de dois navios de guerra iranianos como uma provocação, e que não observam como a presença das embarcações pode servir aos interesses brasileiros, diz o canal.
A mídia norte-americana destacou que o Atlântico Sul é uma das únicas regiões do globo em que os EUA não sentem necessidade de fazer projeção naval, por considerarem que não existem ameaças reais, entretanto, Venezuela, Cuba, Nicarágua etc. não se enquadram nesse nível de preocupação.
Apesar da condenação estadunidense, que contou com o corro do senador Ted Cruz e da embaixadora dos EUA no Brasil, Elizabeth Frawley Bagley, o Brasil se reserva ao direito de ter a sua soberania e escolher quem entra ou não no país.
Foi o que disse ontem (3), o ex-chanceler brasileiro e assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Celso Amorim, o qual declarou estar surpreendido com a repercussão do caso, sendo que o Brasil é um Estado soberano e o Irã “não é nosso inimigo”.
Entretanto, a mídia também sublinha que a postura brasileira não é “novidade” para Washington, visto que a atual equipe de Biden para Relações Exteriores, Defesa e Segurança Nacional é a mesma que serviu no governo de Barack Obama, do qual Biden era vice, e que conviveu com o governo Lula, incluindo Celso Amorim.
Esses funcionários viveram o que foi descrito para o jornalista da CNN, Lourival Sant’Anna, como “o trauma” da iniciativa de Lula para um acordo nuclear com o Irã.
A mídia também afirma que o caso dos navios será capitalizado pelo ex-presidente, Jair Bolsonaro, que está em território norte-americano desde o ano passado levantará o tema no seu discurso desse sábado (4) na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês), que terá a presença do ex-presidente Donald Trump.
Bolsonaro teria planos de acusar o governo Lula de apoiar o terrorismo.
Entenda o caso das datas
A primeira data solicitada pelo governo iraniano para entrar com o porta-helicópteros IRIS Makran e a fragata IRIS Dena no Brasil era dos dias 23 a 30 de janeiro, e em seguida, o Irã recebeu sinal verde da Marinha e do governo brasileiro.
Entretanto, “não houve atracação no referido período [de 23 a 30 de janeiro]”, segundo comunicado da Marinha, e Teerã pediu uma nova data para passagem para as embarcações. Na época, o Itamaraty disse que a nova data acertada seria de 26 de fevereiro a 3 de março, sob a justificativa da celebração dos 120 anos das relações diplomáticas entre Brasil e Irã.
No entanto, outra consulta em paralelo foi feita pela República Islâmica para saber se Brasília aceitaria antecipar a passagem dos navios para esta semana, e que uma oficialização do pedido pelo lado iraniano aconteceria somente em caso de resposta positiva.
Diante do contexto, conselheiros de Lula teriam avaliado que o gesto seria uma provocação do Irã aos EUA, elaborada para coincidir com a reunião entre Lula e Biden. Sendo assim, a possibilidade de conceder a autorização foi descartada.
Porém, no dia 24 de fevereiro, Brasília emitiu nota concordando com o pedido feito pela Marinha iraniana para uma curta atracagem de seus navios em portos brasileiros.
Fonte: sputniknewsbrasil