Dois anos e meio depois do primeiro caso de Covid-19 ter sido diagnosticado, a ciência desenvolveu vacinas, a taxa de mortalidade diminuiu muito, mas os pesquisadores ainda tentam entender exatamente como a Covid longa acontece, e como tratá-la. Estima-se que um em cada cinco pacientes que tiveram a infecção sofrem com seus efeitos nas semanas seguintes.
Um estudo publicado em versão pré-print por imunologistas da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, parece estar perto da resposta. Analisando amostras de sangue de 99 pacientes com Covid longa, os cientistas enxergaram até os aspectos granulares das células T de defesa, que participam da resposta do corpo contra as infecções.
Eles descobriram que os pacientes com Covid longa apresentavam baixos níveis de cortisol, o hormônio do estresse, que ajuda o corpo a controlar inflamações, entre outras funções. Alguns sintomas da queda do cortisol são fadiga e fraqueza muscular — exatamente os sinais mais comuns da Covid-19.
As células T também parecem estar lutando contra invasores mesmo semanas após a infecção — ainda não está claro se a batalha é contra reservatórios de coronavírus escondidos no corpo, ou se outros vírus, como o Epstein-Barr. Os cientistas encontraram marcadores de células exaustas pela longa luta, o que causa inflamação crônica no organismo.
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Sem ter um nome definitivo, o conjunto de sintomas que continua após a cura da infecção pelo coronavírus é chamado de Síndrome Pós-Covid, Covid longa, Covid persistente ou Covid prolongada Freepik
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Denominam-se Covid longa os casos em que os sintomas da infecção duram por mais de 4 semanas. Além disso, alguns outros pacientes até se recuperam rápido, mas apresentam problemas a longo prazo Pixabay
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Um dos artigos mais recentes e abrangentes sobre o tema é de um grupo de universidades dos Estados Unidos, do México e da Suécia. Os pesquisadores selecionaram as publicações mais relevantes sobre a Covid prolongada pelo mundo e identificaram 55 sintomas principais iStock
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Entre os 47.910 pacientes que integraram os estudos, os cinco principais sintomas detectados foram: fadiga, dor de cabeça, dificuldade de atenção, perda de cabelo e dificuldade para respirar Getty Images
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A Covid prolongada também é comum após as versões leve e moderada da infecção, sem que o paciente tenha precisado de hospitalização. Cerca de 80% das pessoas que pegaram a doença ainda tinham algum sintoma pelo menos duas semanas após a cura do vírusFreepik
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Além disso, um dos estudos analisados aponta que a fadiga após o coronavírus é mais comum entre as mulheres, assim como a perda de cabeloMetrópoles
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Especialistas acreditam que a Covid longa pode ser uma “segunda onda” dos danos causados pelo vírus no corpo. A infecção inicial faz com que o sistema imunológico de algumas pessoas fique sobrecarregado, atacando não apenas o vírus, mas os próprios tecidos do organismo Getty Images
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Por enquanto, ainda não há um tratamento adequado para esse quadro clínico que aparece após a recuperação da Covid-19. O foco principal está no controle dos sintomas e no aumento gradual das atividades do dia a diaGetty Images
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Apesar de uma total recuperação da doença, estudos recentes da Universidade de Washington em Saint Louis, nos Estados Unidos, alertam que qualquer pessoa recuperada da Covid-19 pode sofrer complicações no ano seguinte à infecçãoGetty Images
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Foram analisados os dados de 150 mil pessoas que tiveram o vírus para chegar às complicações mais comuns Getty Images
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O risco de ter um ataque cardíaco, por exemplo, é 63% maior para quem já teve a infecção. A chance de doença arterial coronariana sobe para 72%, e para infarto, 52%Getty Images
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Também chama a atenção dos cientistas o aumento da quantidade de pacientes com depressão e ansiedadeGetty Images
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O estudo também registrou casos de Doença Arterial Coroniana, falência cardíaca, coágulos sanguíneos, batimentos irregulares e embolia pulmonarGetty Images
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A imunologista Akiko Iwasaki conta que foi difícil encontrar pessoas que tiveram Covid-19 e não sofreram depois da infecção para formar o grupo controle — dos 119 voluntários, só 39 não tinham Covid longa. A doença não é uniforme, e é difícil criar um padrão para classificar os pacientes.
Os resultados ainda são preliminares, mas a comunidade científica acredita que o trabalho pode dar dicas sobre como lidar com os pacientes, testando medicamentos como o Paxlovid ou terapias usadas para lidar com doenças autoimunes.
“Como uma cientista, claro que gostaria de ter todas as peças do quebra-cabeça antes de começar a fazer ensaios clínicos. Mas os pacientes não podem esperar”, afirmou Akiko, em entrevista à revista científica Science.
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