CIA, a principal ferramenta do ‘Estado profundo’ americano


Fundada originalmente em 1947 sob os auspícios do então presidente americano Harry Truman, a CIA começou sua história como uma agência de inteligência independente dentro do Poder Executivo estadunidense.
Pensada para o exercício de funções como coleta, avaliação e divulgação de informações que afetassem a segurança nacional dos Estados Unidos, não demorou muito para que a CIA recebesse poderes cada vez mais extraordinários, utilizados tanto para a espionagem em massa como para operações insidiosas no exterior.
Fato é que a CIA nunca se absteve de justificar o sigilo excessivo — e arbitrário — em torno de suas ações para proteger informações que comprometessem a organização. Isso só foi possível devido aos sucessivos fracassos do Congresso americano, que jamais conseguiu exercer uma vigilância adequada ou minimamente satisfatória sobre a agência de inteligência. Com isso, os segredos obscuros da CIA raramente foram divulgados ao público, seja por ex-operativos ou pela mídia.
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No entanto, quando algum escândalo acabava ainda assim escapando do controle da organização, eram evidenciados casos de participação da CIA em conspirações de assassinato contra líderes políticos no exterior, apoio ativo e logístico a diversos golpes de Estado internacionais e ligações preferenciais com a elite financeira americana.
Para além disso, como depois veio a revelar Edward Snowden, ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), a CIA exercia vigilância atenta sobre uma lista incrivelmente abrangente de cidadãos americanos, em especial no ambiente virtual, podendo deduzir até mesmo seus pensamentos e seu grau de periculosidade para o “sistema”.
Logo, os agentes da CIA e da NSA eram instruídos a agir preventivamente contra qualquer indivíduo que pudesse trazer algum tipo de prejuízo à organização e a seus interesses.
Contudo, essa não é nem de longe a única — nem a mais grave — das práticas reprováveis exercidas pela CIA ao longo de sua história. Outras investigações por parte do Congresso americano relevaram que a agência já trabalhou, por exemplo, em experimentos de controle mental por meio de psicotrópicos, o LSD, assim como em operações de infiltração na imprensa, por meio de jornalistas “selecionados”.
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Há indícios de que centenas de jornalistas — desde a década de 1950 até hoje — tenham sido agenciados pela CIA, no âmbito da operação Mockingbird, com o intuito de acompanhar o trabalho de redação dos maiores jornais dos Estados Unidos.
Esse, por si só, é um esforço que diz muito sobre a natureza insidiosa da CIA, instituição que obteve cada vez mais poderes e financiamento ao longo do tempo. Logo, resta demonstrado que um grupo seleto de funcionários não eleitos goza de imensos privilégios, recebendo carta branca do governo americano para implementar programas desconhecidos do grande público.
A CIA faz tudo isso no mais profundo sigilo, isenta de qualquer responsabilização direta, em parte porque o próprio Congresso dos Estados Unidos lhe fornece as condições para agir assim. Hoje, portanto, não há força política capaz de desafiar o poder da CIA, seja no Executivo, no Legislativo ou no Judiciário. Soma-se a isso a percepção, por parte de alguns operativos da agência, de que eles estão na verdade “fazendo a coisa certa” pela nação, servindo e protegendo — à sua maneira — os interesses dos Estados Unidos no mundo.
© AP Photo / Amanda Andrade-RhoadesA partir da esquerda, o diretor do FBI, Christopher Wray, o diretor do Comando Cibernético dos EUA, general Paul Nakasone, a diretora de Inteligência Nacional Avril Haines, o diretor da Agência Central de Inteligência, William J. Burns, e o diretor da Agência de Inteligência de Defesa, tenente-general Scott Berrier, reunidos no Senado dos EUA em 8 de março de 2023

A partir da esquerda, o diretor do FBI, Christopher Wray, o diretor do Comando Cibernético dos EUA, general Paul Nakasone, a diretora de Inteligência Nacional Avril Haines, o diretor da Agência Central de Inteligência, William J. Burns, e o diretor da Agência de Inteligência de Defesa, tenente-general Scott Berrier, reunidos no Senado dos EUA em 8 de março de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 28.03.2024

A partir da esquerda, o diretor do FBI, Christopher Wray, o diretor do Comando Cibernético dos EUA, general Paul Nakasone, a diretora de Inteligência Nacional Avril Haines, o diretor da Agência Central de Inteligência, William J. Burns, e o diretor da Agência de Inteligência de Defesa, tenente-general Scott Berrier, reunidos no Senado dos EUA em 8 de março de 2023
Não é de duvidar que muitos dentro da CIA tenham mesmo a convicção de que suas ações disruptivas e ilegítimas sejam justificáveis à luz de um “bem maior”, que se reduz de forma cínica à sua perpetuação burocrática no âmago do aparato estatal americano. Com isso, a CIA representa um dos mais arraigados e engenhosos tentáculos do chamado “Estado profundo” estadunidense, capaz de influenciar o curso de sua política doméstica e externa, sem qualquer consideração pelas vítimas de suas ações.
No final das contas, temos uma situação em que a CIA é quem acaba controlando a Casa Branca, e não o contrário. Por outro lado, sempre que um novo vazamento acerca das atividades secretas da agência acaba milagrosamente vindo à tona, o cidadão americano comum se vê diante de verdadeiras barbaridades cometidas em nome da “segurança da América”.
Em geral, este é um pequeno resumo da realidade da democracia americana, democracia essa composta por agências secretas que, ao agir nas sombras, dão lugar aos piores impulsos da natureza humana, facilmente corrompível por poder, status e dinheiro. Portanto, tenhamos uma coisa em mente: o destino da política externa americana não depende unicamente de quem venha a ser eleito o próximo presidente do país nas eleições de novembro deste ano.
Afinal, parte desse destino está nas mãos de agências como a CIA, cujo princípio orientador é o da própria sobrevivência. Foi assim que ela patrocinou e participou da realização de golpes de Estado na América Latina, no Oriente Médio, na África e no Leste Europeu ao longo das últimas décadas. Isso porque a paz, em resumo, não é do interesse da CIA.
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Seu interesse é, sim, agir de maneira irrestrita e secreta, produzindo novas ameaças artificiais para os formuladores de políticas em Washington e mantendo o público americano cada vez mais alheio a suas atividades. Trata-se de um grupo de espiões profissionais e burocratas inescrupulosos que usam o discurso da proteção à segurança dos Estados Unidos para instigarem o caos pelo mundo, tornando-o inseguro e infringindo a liberdade de pessoas e de nações inteiras.
Enfim, falar da CIA é falar da principal ferramenta do chamado “Estado profundo” americano, razão pela qual alimentar esperanças quanto a uma possível mudança nas políticas em Washington é, ao mesmo tempo, ingênuo e infrutífero.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.

Fonte: sputniknewsbrasil

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