Chuvas no RS devem provocar alta no preço dos alimentos; pelo menos 10 frigoríficos estão parados


É o que alertou nesta quarta-feira (8) a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
Conforme a entidade, os estragos causados pelas tempestades tanto no campo quanto nas cidades levaram à perda de produtos e também traz graves impactos no transporte e escoamento de mercadorias, o que pode gerar reflexos em todo o país.
Exemplos são os derivados do leite, que já acumularam altas consecutivas nos últimos quatro meses do ano e uma queda na produção de 3,35%, e o arroz, produtos que devem ser mais afetados pela situação no estado gaúcho. Além disso, há expectativa de impacto nos valores das frutas e hortaliças, como uva, pêssego e maçã.

“O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz do país. Embora pouco mais de 80% da safra tenha sido colhida, ainda não dá para saber se os estoques foram atingidos ou quanto da parcela restante foi perdida. Há incertezas ainda sobre a logística do produto pelas restrições das rodovias. O mesmo acontece com a criação de gado para a produção de leite, que deve ser impactada com a perda de vacas e pasto, além da ingestão, por esses animais, de água sem qualidade, em razão das condições atuais do local”, pontua nota da entidade enviada à Sputnik Brasil.

A FecomercioSP lembrou, ainda, que os alimentos já estavam com os valores pressionados pelas consequências do El Niño, o que deve se agravar ainda mais. “A paralisação da indústria local, seja para o atendimento às famílias, seja por outros fatores, pode levar à falta de suprimentos de inúmeras outras indústrias que utilizam o aço, por exemplo, como matéria-prima”, acrescenta.
Mais de 80% dos municípios gaúchos e cerca de 1,4 milhão de pessoas foram afetadas pelas chuvas no estado, aponta balanço da Defesa Civil do Rio Grande do Sul. O número de mortos chegou a 100, cerca de 163 mil pessoas estão desabrigadas e outras 63,7 mil desalojadas.

Como é a pecuária no Rio Grande do Sul?

As chuvas também impactam fortemente o setor da pecuária no Rio Grande do Sul, que se destaca pela criação de animais para consumo — são 12 milhões de bovinos, 573 mil de porcos e 22 milhões de aves. Conforme a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), pelo menos dez unidades produtoras estão com as atividades paralisadas e podem levar mais de 30 dias para normalizar.

“Em tragédias como a enfrentada pelo Rio Grande do Sul, nos preocupa que os animais na pecuária sejam vistos apenas como um prejuízo comercial, e não como milhares de vidas em sofrimento. Esses animais também sentem medo, fome e a escala do impacto é assustadora. Algumas das regiões mais impactadas são grandes produtoras agropecuárias, como o Vale do Taquari, que abate quase 2 milhões de porcos por ano. Só na cidade de Nova Bréscia são quase 2 mil frangos por habitante”, aponta Cristina Diniz, diretora da ONG Sinergia Animal no Brasil, em nota enviada à Sputnik Brasil.

Em Harmonia, que fica no Vale do Caí e é uma das áreas mais afetadas pelas enchentes, centenas de frangos já morreram afogados. Como os animais de corte são criados em grandes concentrações e muitos ficam em granjas, há impossibilidade de fugirem e buscarem abrigo em áreas mais elevadas, o que agrava ainda mais a situação. Em São Sebastião do Caí, um dos principais frigoríficos do estado está com as operações suspensas desde a última quarta (1), e a planta abate pelo menos 100 mil aves por dia.

“A pecuária industrial opera em grande escala. Mesmo um ou poucos dias sem abates podem criar um efeito dominó com consequências terríveis para o bem-estar de animais, que já vivem em condições intensas. É um modelo insustentável. O volume de animais que aguarda processamento pode sobrecarregar rapidamente a capacidade limitada das instalações onde são criados, podendo levar à superlotação, ao aumento dos níveis de estresse e do risco de lesões ou, mesmo, de transmissão de doenças”, explica a bióloga especialista em bem-estar animal, Patricia Tatemoto, à Sputnik Brasil.

Em uma fazenda na ilha do Lage, no rio Jacuí, cerca de 200 animais foram levados pela correnteza, e búfalos foram flagrados buscando abrigo em ruas de Porto Alegre.

Como está a situação do aeroporto de Porto Alegre?

Responsável por 3% da movimentação de passageiros no país, o Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, está com as operações paralisadas desde o fim da última semana e não há sequer previsão para a retomada das atividades no local. Com isso, segundo a Fecomercio, há graves efeitos no setor de logística e turismo do estado.

“Para o turismo haverá, sem dúvidas, grande efeito: o Aeroporto Internacional Salgado Filho ficará fechado até o fim deste mês, com o cancelamento de voos até que as operações sejam restabelecidas. O aeroporto é responsável por 3% da movimentação de passageiros pelo Brasil. No mês de maio do ano passado circularam, por ele, 540 mil pessoas”, explica.

Desastre em Brumadinho fez PIB cair 0,2%

A entidade pontuou que o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em janeiro de 2019, trouxe um forte impacto para a economia brasileira: uma queda de 0,2% no produto interno bruto (PIB). Na ocasião, 270 pessoas morreram, e o rio Paraopeba, um dos principais de Minas Gerais, foi contaminado por um mar de lama.

“Para se ter ideia da dimensão desse evento, a tragédia de Brumadinho, menor e mais localizada, provocou uma queda de 0,2% no PIB em 2019 — mais de R$ 20 bilhões em valores atuais. No Rio Grande do Sul, é muito provável, infelizmente, que os danos causados tenham impacto ainda maior para o PIB nacional. Isso, sem falar, é claro, dos efeitos significativos para a economia e a população locais”, conclui.

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Fonte: sputniknewsbrasil

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