“Até a Toyota Hilux está parecendo pequena”. Foi a primeira coisa que me veio à cabeça assim que comecei a dirigir as gigantes Chevrolet Silverado, Ford F-150 e Ram 1500. Se você já viu alguma delas na sua frente, vai me entender. O trio chama a atenção por onde passa, por causa de seu tamanho. Isso se conseguir passar. É que as caminhonetes não foram feitas para rodar na cidade. O habit natural dessas picapes é entre bois premiados, tratores de luxo e cercas que valem mais do que muitos apartamentos.
Para facilitar a vida dos fazendeiros milionários (ou bilionários), chegou a hora de responder à pergunta que ronda os leilões mais chiques e os churrascos à beira do curral: qual das três é a rainha do agro?
Não que o preço vá tirar o sono de quem tem uma conta bancária com dez dígitos, mas é bom começar por aí para posicioná-las no mercado.
A mais barata do trio — para não dizer menos cara — é a Ford F-150. As duas versões, Lariat e Lariat Black, custam R$ 545 mil. No meio, surge a Chevrolet Silverado, que é vendida em versão única no Brasil, High Country, e não sai por menos de R$ 573.590. Por fim, a Ram 1500 parte de R$ 579.990 na opção Laramie e atinge exatos R$ 594.990 na Night Edition.
O valor extra é cobrado somente por diferenças visuais. Fato é que, caso você não tenha percebido, todas custam mais de meio milhão de reais.
Em um mundo onde gado é investimento e boi tem sobrenome, o que pode ser mais importante do que isso? A caçamba. E aí cada uma delas reina em um ponto. A Silverado tem o maior volume do segmento: 1.781 litros. Inclusive, supera com folga os 1.495 l da F-150 e os 1.200 l da 1500. Só que perde na capacidade de reboque. Os 4.128 kg são superiores aos 3.492 kg da Ford, mas ficam abaixo dos insuperáveis 4.490 kg da Ram.
No quesito peso transportado, a F-150 leva a melhor com 834 kg. A Silverado carrega 716 kg e a 1500 leva meros 557 kg — menos do que uma Fiat Strada. Porém, tem um diferencial: duas Ram Box nas laterais, cada uma delas com 107 litros. É um espaço extra com acesso rápido. Ideal para guardar ferramentas.
Falando em acesso, cada caminhonete tem uma abertura de caçamba diferente. A da Ram é discreta, mas funcional: sobe e desce eletronicamente. A Ford repete a dose e inova com uma tampa que ainda abre como uma porta de armário na horizontal. Mas quem rouba a cena mesmo é a Silverado, que possui escada retrátil com degrau integrado. Só tem um porém: o fechamento é manual — e pesado como um fardo de feno molhado. Nenhuma delas tem capota elétrica de série.
Porém, a Silverado também fica para trás em outros pontos, como é o caso do desempenho. Com seu motor V8 5.3 aspirado a gasolina, é a menos potente, com 360 cv e 53 kgfm de torque, junto de um câmbio automático de dez marchas. Vai de 0 a 100 km/h em 8,2 segundos, de acordo com os nossos testes, feitos no Rota 127 Campo de Provas. É bom, mas sem deixar queixo cair.
A F-150 sobe o tom. Vem com o lendário 5.0 Coyote V8, o mesmo do Mustang, mas recalibrado para uso rural. São 405 cv e 56,7 kgfm, com a mesma caixa de dez marchas da Silverado. Resultado? Faz o 0 a 100 km/h em 7,3 s. Ou seja, já dá para ver o capô levantar na arrancada até a entrada do rodeio.
Contudo, aquela que realmente dá coice de verdade é a 1500. O curioso é que a picape da Stellantis abandonou o V8 Hemi 5.7 recentemente e agora carrega um 3.0 biturbo de seis cilindros em linha a gasolina sob o capô. O novo motor faz dela a segunda picape mais potente do país (perde só para a BYD Shark). São 426 cv e 64,8 kgfm, com câmbio de oito marchas.
O 0 a 100 km/h é cumprido em 5,7 s. Simplesmente a mais rápida do Brasil. Ponto para ela — e para quem gosta de chegar primeiro perto do rebanho.
Se acelerar é bom, parar no tempo certo é questão de honra — e de segurança, principalmente com duas toneladas e meia no lombo. Tem que ter freio de caminhão. Nos três casos, estamos falando de conjuntos de discos ventilados nas quatro rodas. E é aí que a F-150 começa a mostrar suas habilidades, precisando de exatos 44,1 metros para voltar de 100 km/h até a imobilidade.
A Silverado, por sua vez, demora um pouco mais para responder ao comando, com 45 m na mesma prova de frenagem. Já a Ram, a mais rápida das três, precisa de 45,5 m e, apesar de parar com competência, deixa a sensação de que o pedal precisa ser tratado com mais firmeza.
Caso você não saiba, as três picapes deste comparativo não bebem: viram o galão. Por isso, até quem abastece com cartão black quer saber se vai secar o tanque antes de chegar ao próximo posto de combustível.
A Chevrolet traz a tecnologia Dynamic Fuel Management, que ajusta automaticamente (com 80 cálculos por segundo) a quantidade de cilindros ativos de acordo com a demanda de força. Isso ajuda o dono da Silverado a não ser o melhor amigo do frentista. Nos nossos testes, fizemos 9,2 km/l na cidade e 8, km/l na estrada.
A Ford também tenta ser civilizada: marcou 5,7 km/l e 9,7 km/l, respectivamente. Já a Ram mostra que motor menor não é necessariamente sinônimo de economia e tem mais sede que boi na seca. Fez 5,3 km/l no ciclo urbano e 8,8 km/l no rodoviário. Os dados oficiais do Inmetro estão nas tabelas ao fim deste comparativo. Lembrando que todas são movidas apenas a gasolina.
E se o agro é pop, também tem que ser confortável. A Ram 1500 surpreende ao ter o conforto de um SUV premium. É a única caminhonete no Brasil com suspensão a ar. Na prática, lê o peso da caçamba e se ajusta sozinha, com cinco níveis automáticos. Além disso, o novo motor conseguiu a difícil missão de substituir o V8 com maestria cada vez que o condutor afunda o pé no acelerador.
Do outro lado da cerca, a Chevrolet Silverado faz você sentir cada quilo dela ao volante. Não chega a ser um defeito, é a personalidade da picape mais “raiz” do trio, com um ronco mais forte do V8. Ainda assim, é surpreendentemente dócil nas ultrapassagens. E quando o assunto é conforto, não deixa buraco para contar história.
O melhor dos dois mundos é encontrado na Ford F-150, que equilibra robustez e refinamento. A direção é leve, mas não te deixa esquecer que está a bordo de uma picape grande. A estabilidade surpreende mesmo em estradas de chão batido e a suspensão, ainda que firme, absorve bem os impactos. A baixas rotações, a rodagem é relaxante.
Só não queira levá-las ao shopping. Afinal, essas caminhonetes de quase 6 metros de comprimento e mais de 2 m de largura não nasceram para rodar em corredores apertados. Os retrovisores externos superdimensionados da Silverado ainda pioram a situação e imploram por atenção extra em passagens mais estreitas. Se quiser um menor, terá que comprar um par como opcional por “apenas” R$ 15.324.
Mesmo assim, se as picapes couberem na vaga, fique tranquilo como quem já colheu a safra, porque as diversas câmeras espalhadas na carroceria dão ótima noção de distância dos obstáculos. Chevrolet e Ram trazem retrovisores internos que podem trocar a imagem do espelho por uma projeção de câmera. No caso da 1500, os sensores de estacionamento estridentes às vezes mais atrapalham do que ajudam.
Por dentro, o papo é com o design de interiores de hotel cinco-estrelas. A Ram 1500 rouba a cena com sua central multimídia de 14,5 polegadas em formato de tablet — a maior da categoria. A Silverado segue com uma tela de 13,4″ e a F-150 fecha com 12″. Todas com Apple CarPlay e Android Auto sem fio.
O acabamento interno? É como se cada montadora tivesse contratado um arquiteto premiado. Couro para todo lado. A Ram 1500 aposta no luxo em tons bege e marrom. A Silverado adiciona texturas nobres, como madeira. E a Ford é a mais discreta de todas.
Quando o assunto é espaço interno, estamos falando de três salas sobre rodas. O menor entre-eixos é o da Ram, com 3,67 m; o da Ford tem 3,69 m e o da Chevrolet, impressionantes 3,74 m. Provavelmente, até a pessoa mais alta do mundo consegue cruzar as pernas e esticar os braços. Os assentos ainda são rebatíveis para colocar mais algum objeto se for preciso.
E se engana quem pensa que essas picapes só carregam peso. Elas também são cheias de tecnologias. Todas trazem assistentes de permanência em faixa, de colisão frontal e de tráfego cruzado, além de monitoramento de ponto cego, piloto automático adaptativo (ACC) e frenagem autônoma.
A Ford se destaca por ser a única com oito airbags e oito modos de condução, mas deixa a desejar por não oferecer estribos elétricos, como as rivais. Junto com a Ram, traz pedais com ajustes elétricos. Além desse item, a Chevrolet fica para trás por não ter assistente de manobras evasivas e teto solar panorâmico. Só que é a única do trio que conta com uma câmera dedicada a monitorar a carga na caçamba.
Depois de enfrentar estradas, testar caçambas, medir consumo e analisar cada detalhe das gigantes, concluo que a Chevrolet Silverado fica em terceiro na disputa. É um bom produto e não sai de cabeça baixa, mas peca bastante pela caríssima cesta de peças e pela cotação de seguro bem acima das rivais.
Com folga de um capim entre os pneus, por apenas um ponto, a Ram 1500 ocupa a segunda posição. Seu grande erro é ser a mais cara de todas.
Assim, a Ford F-150 leva o título de rainha do agro. Entrega mais por menos, com o preço mais baixo do trio, maior tempo de garantia, seguro mais amigável e uma dirigibilidade que mistura suavidade urbana com valentia rural. Some tudo isso à melhor capacidade de frenagem e o trono é dela! Nessa festa de rodeio, a F-150 é definitivamente a rainha da boiada.
Picape é a mais barata do trio, tem maior tempo de garantia, seguro mais amigável e uma boa dirigibilidade, além da melhor frenagem do comparativo. A caminhonete da Ford lidera em quesitos como maior capacidade de carga e maior ângulo de saída. É, no entanto, a única sem estribos elétricos. Na F-150, os equipamentos ficam fixados nas laterais.
Picape da Chevrolet é dona dos números mais superlativos do trio norte-americano. Tem os maiores entre-eixos, comprimento, ângulo de entrada, distância do solo e volume da caçamba.
A Ram é a menor de todas, tem os menores ângulos e também é a que aguenta menos peso na caçamba. Os 557 kg fazem com que sua capacidade de carga seja menor do que a de uma Fiat Strada.
*Seguro: O valor é uma média entre as cotações das principais seguradoras do país fornecida pela Minuto Seguros com base no perfil padrão de Autoesporte, sem bônus
**Cesta de peças: Retrovisor direito, farol direito, para-choque dianteiro, lanterna traseira direita, filtro de ar (elemento), filtro de ar do motor, jogo de quatro amortecedores, pastilhas de freio dianteiras, filtro de óleo do motor e filtro de combustível (se aplicável)
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Fonte: direitonews