Chantagem: EUA só venderão caças F-16 se Turquia apoiar expansão da OTAN, diz analista

Na terça-feira (6), o conselheiro de política externa e segurança da presidência da Turquia, Cagri Erhan, disse à Sputnik que seu país deve reconsiderar a compra de caças F-16 norte-americanos, em função do seu alto preço.

Em 2021, a Turquia havia solicitado oficialmente aos EUA a compra de 40 novos caças e peças para modernizar os seus F-16 já operacionais.

A Força Aérea turca opera a terceira maior frota de F-16 do mundo, com 79 unidades, e é particularmente dependente de tecnologia norte-americana.

Apesar da sua posição de cliente fiel, a Turquia foi proibida pelos EUA de comprar caças furtivos de quinta geração F-35 Lightning II em abril de 2021, após Ancara adquirir sistemas de mísseis antiaéreos russos S-400. Após a punição, Washington ofereceu ao seu aliado na OTAN o fornecimento dos caças F-16, de uma geração anterior aos F-35.

De acordo com o conselheiro presidencial Erhan, a Força Aérea da Turquia deveria diversificar suas compras, buscando fornecedores na China, Rússia e Europa.

De acordo com a revista Forbes, a Turquia iniciou negociações com o Reino Unido para debater a possível compra de caças 24-48 Eurofighter Typhoon.

Com eleições presidenciais marcadas para 4 de maio, o governo de Erdogan teria pouco a perder caso adquirisse novos caças para sua força aérea, acredita o analista político turco Umit Nazmi Hazir.

“Caso os caças sejam adquiridos, não haveria impacto negativo na opinião pública”, disse Hazir à Sputnik Brasil. “Em função de preocupações acerca de sua segurança, a sociedade turca não se opõe a gastos militares.”

A hesitação turca em comprar F-16 norte-americanos também é motivada pela oposição de congressistas norte-americanos, que publicaram uma carta se opondo à venda dos caças, em 2 de fevereiro.

No texto, senadores alegam que a venda só deveria ser realizada caso Ancara aprove a entrada de Finlândia e Suécia na Organização do Tratado do Atlântico Norte. O governo turco impôs obstáculos à expansão da aliança, em função do apoio político e militar concedido por Estocolmo e Helsinque a movimentos curdos.

A carta foi assinada por 29 senadores de ambos os partidos norte-americanos, o que representa um terço da casa, conforme reportou o portal Fight Global. Dentre eles estão parlamentares influentes, como o democrata Bob Mendez, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado dos EUA.

“Muitos senadores norte-americanos se opõem à venda de F-16 à Turquia. Mas, por outro lado, o governo Biden é simpático à venda desses caças a Ancara”, declarou Hazir.

De acordo com a legislação norte-americana, a venda de equipamentos militares de alta tecnologia demanda a aprovação do Congresso e do Departamento de Estado.

No final de fevereiro, o secretário de Estado, Antony Blinken, lembrou a necessidade de apoio do Congresso para a venda dos F-16, dizendo que preocupações não só em relação à expansão da OTAN, mas também em função da Grécia, deverão ser tratadas com os turcos.

Grécia e Turquia mantêm relações turbulentas, em função de disputas territoriais no mar Egeu e na ilha do Chipre.

Segundo ele, os EUA vendem caças F-35 à Grécia, enquanto oferecem à Turquia somente os F-16, o que seria uma vitória diplomática de Atenas.

“Isso foi uma mudança na política externa dos EUA em relação à questão greco-turca“, explicou Hazir. “Os EUA tradicionalmente adotavam uma política de equilíbrio entre Turquia e Grécia.”

O analista político turco relata que Washington buscava garantir que nem Ancara nem Atenas teriam superioridade aérea em relação ao outro.

Desde 2019, negociações entre Ancara e Washington para a compra e modernização de caças enfrentam dificuldades políticas. Em abril de 2021, os EUA impediram a Turquia de comprar caças F-35, em função da aquisição por Ancara de sistemas de mísseis antiaéreos russos. A oferta de caças F-16, de geração inferior, sofre oposição por parte de senadores no Congresso norte-americano.