Qual é a relação entre Brasil e Argentina?
“É muito positivo ver que esses personagens, esses atores políticos, estão tendo a consciência de que uma coisa é o discurso para a atração do eleitor, outra é a operação da máquina pública. Eu tenderia a dizer que houve um choque de realidade, porque basicamente o Brasil é o destino de 15% das exportações da Argentina. Não se arruma 15%, não se reorienta a economia, no sentido de vendas externas de exportação, da noite para o dia.”
“Então, [essas pessoas] vislumbram, na possibilidade de alterações de instituições ou da classe política, uma melhoria da democracia. É o discurso antissistêmico, relacionado com se apresentar como verdadeiros portadores dos anseios populares contra classes que querem operar política apenas e tão somente para manter seus privilégios. Tanto Milei quanto Bolsonaro operam nessa chave. Então, eu diria que a primeira aproximação é ideológica.”
Brasil e Argentina: soluções mágicas para problemas complexos
“Houve uma aproximação da Argentina com a China no sentido de a Argentina fazer parte da [nova] Rota da Seda, que coloca o país como destino de investimento chinês de diferentes tipos e modalidades, mas sobretudo em infraestrutura. As instituições financeiras argentinas começaram a fazer parte do CIPs, que seria o swift chinês, e isso trouxe como fruto direto parte das negociações da Argentina serem remuneradas em renmimbi.”
“Como é que você vira e fala [para a população] ‘Olha, rompemos relações comerciais com esse parceiro porque eles não compartilham da mesma ideia que a gente?’ Você está penalizando a totalidade da população argentina, não faz sentido, não é democrático, razoável nem republicano […] A ideologia é um conjunto de ideias, que pode ser positivo ou negativo. A priori, a gente não tem como fazer qualquer avaliação sobre um conjunto de ideias. Mas o que não dá é o conjunto de ideias ser mais importante do que a realidade de dados, fatos e alianças econômicas que estão colocadas.”
Relação da Argentina com Mercosul e BRICS na berlinda
“Não à toa, o Brasil fez um esforço para incluir a Argentina dentro do BRICS na expansão que o grupo teve recentemente. Porque para o Brasil não interessa uma Argentina em crise. A Argentina é um dos principais parceiros do país, e é um intercâmbio muito grande de produtos, de mercadorias, um comércio bastante importante.”
Lula deve ir à cerimônia de posse de Milei?
“Passaria uma mensagem de que se pensa de forma republicana acima de quaisquer possíveis diferenças ideológicas ou até determinadas falas de cunho mais pessoal. E vamos lembrar: ainda que seja difícil a gente pensar exatamente o mesmo modelo, porque a conjuntura é outra, o mundo mudou muito nesses 20 anos, no primeiro governo Lula, o governo norte-americano era de George W. Bush, e isso não implicou em relações necessariamente ruins entre esses dois atores políticos.”
Fonte: sputniknewsbrasil