Uma antiga propaganda afirmava que o brasileiro é apaixonado por carros. Mas, como dizia minha ex-mulher, quem ama cuida — e essa parece não ser a prática de muitos motoristas em nosso país. Veículos em mau estado de conservação causam 30% de acidentes por ano, segundo informação da Polícia Rodoviária Federal.
A situação precária dos pneus é a ocorrência mais comum, seguida por ineficiência dos freios, panes no sistema de iluminação e suspensão. Some-se a isso fatores humanos, como a distração e o péssimo estado de boa parte das estradas, e o que temos são bombas ambulantes prestes a nos explodir.
Não é difícil entender os motivos do descaso com o veículo: o custo de manutenção é alto. Tomando-se como referência um carro popular 0 km, gasta-se cerca de R$ 30 mil por ano para deixá-lo em ordem para rodar, montante que inclui as taxas obrigatórias (licenciamento e IPVA) mais despesas ordinárias como as de estacionamento, combustível e lavagem. Ao comparar os valores gastos com um automóvel com os de um superpesado, os custos chegam a mais que duplicar.
Nos veículos usados, as despesas naturalmente aumentam: um pneu para caminhão, por exemplo, pode custar o triplo de um aro 14 para o popular, o que leva muita gente a apelar para os pneus remoldados, nos quais apenas a banda de rodagem é substituída. Não oferecem a mesma segurança de um pneu novo nem duram tanto, mas custam até 50% menos. A mesma lógica vale para outros componentes vitais do veículo. O freio falhou? O mecânico do bairro sempre dá um jeito.
Em janeiro de 1986, um anel de vedação de borracha se comprimiu por causa das baixas temperaturas e deixou vazar o combustível sólido do Ônibus Espacial Challenger. O resultado foi uma explosão 73 segundos depois do lançamento, que matou os sete tripulantes, inclusive a professora Christa McAuliffe. O prejuízo material, provocado por uma junta de US$ 25, passou de US$ 1 bilhão.
O problema é que a frota brasileira está ficando velha. De acordo com o Sindipeças, o envelhecimento aumentou mais de dois anos nos últimos dez anos. Caminhões, que somam 2,2 milhões, têm idade média de 12,2 anos; já os automóveis de passeio (38,4 milhões) chegaram aos 11,1 anos, dois meses a menos que os 388,9 mil ônibus que circulam no país. Carros com mais de 16 anos somam 7,3 milhões e os com mais de 25 anos são 220 mil.
O sindicato dos fabricantes de autopeças atribui o fenômeno à alta dos preços dos veículos novos, associada às taxas de juros e à dificuldade de obtenção de crédito.
Sem dinheiro para um 0 km, a saída do brasileiro é recorrer aos usados. A Fenauto, que representa os revendedores de veículos do tipo, prevê que 2024 fechará com o recorde histórico de mais de 15 milhões de veículos vendidos, seis vezes e meia mais que a produção de carros novos prevista para este ano. Fiat Palio e Uno (ambos extintos em 2018) e VW Gol (2022) são os carros mais procurados por quem quer um usado, de acordo com a entidade.
Carros com idade avançada não contam com os mesmos recursos de segurança dos atuais. São, portanto, mais sujeitos a sofrer ou provocar acidentes. Além disso, poluem mais. Nesse ponto, chegamos a outra face do problema: a questão ambiental. Mas isso é assunto para outra coluna.
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Fonte: direitonews