Carros conectados no 5G: rede irá reduzir o trânsito e acidentes, mas há riscos e preocupações


Pense bem. Se a tecnologia 5G, que começou a chegar ao Brasil no ano passado, já vai acelerar muito as funcionalidades de um celular, imagine o que acontecerá com um automóvel conectado. Com o padrão de tecnologia de quinta geração para redes móveis e banda larga que substitui o 4G, os carros poderão conversar não apenas entre si mas também com os semáforos, seu cartão de crédito, a oficina ou mesmo a pizzaria.

E tudo a uma velocidade jamais vista, combinada à big data, à inteligência artificial e à Internet das Coisas (IoT), deixando os faróis verdes para que a pizza chegue quente a sua casa. Já se sabe que dispositivos conectados ao 5G processam e reagem a dados quase que de imediato devido à baixa latência da rede — menor tempo de resposta.

Uma das consequências disso é, por exemplo, a “computação de borda”, tecnologia que permite armazenamento de dados na fonte, sem necessidade de que passem por uma central. Isso significa que um carro conectado poderá receber e transmitir, diretamente, dados de outros veículos próximos, de sensores de estrada e de infraestrutura.

“Com relação aos carros autônomos, graças à conexão 5G e sua interligação com os demais equipamentos e veículos via IoT será possível prever situações que podem causar acidentes e evitá-las, assim como desviar de pontos de congestionamento e vias interditadas. O tráfego ficará muito mais seguro e rápido. Com isso, haverá mais tempo para que os passageiros possam se dedicar a atividades de trabalho ou lazer dentro do veículo”, diz Jaime Gil, diretor de serviços conectados da GM América do Sul.

Já a Ford anunciou, há pouco, a paralisação do projeto Argo AI”, feito em parceria com a Volkswagen e com a Lift para desenvolver carros autônomos de nível 4 — que se deslocam sem intervenção humana. Uma das maiores dificuldades alegadas pela fabricante é a falta de escala. A marca entende que a estrada para alcançar um modelo de negócios lucrativo será longa, e por esse motivo voltou seu enfoque a projetos autônomos de nível 2 e 3 — que sempre exigem a presença do motorista.

Tudo indica que essa viagem ao futuro, em que carros dirigem sozinhos e conversam entre si, irá demorar mais do que o desejado. A Ford já entendeu que, apesar das dificuldades do desenvolvimento em si, outra questão central continua sendo a falta de infraestrutura nas cidades.

Apesar de recentemente ter firmado parceria com o Google para criar inovações em serviços digitais, por ora a montadora continuará trabalhando sistemas de monitoramento inteligente, tecnologias de controle remoto do veículo e visualização de status de agendamento de serviços, o chamado “FordPass”.

“A era dos carros conectados chegou, e ela não depende do 5G. O 4G atende muitas necessidades. Sem dúvida, o 5G será o grande habilitador do V2X (vehicle-to-everything, ou comunicação entre um automóvel e qualquer coisa que interaja com ele) e do uso mais amplo de IoT. Porém, o desenvolvimento de sistemas complexos integrados depende de investimento de parceiros em infraestrutura, de criação de regulações e de algumas adaptações ao nosso mercado.

É preciso pensar em soluções de baixo custo e adaptadas à nossa cultura”, diz Luciano Driemeier, gerente de conectividade e novos negócios da Ford América do Sul.

Ao permitir a comunicação máquina a máquina, os benefícios do 5G na indústria automotiva serão amplos. Especialistas estimam que os impactos na indústria automobilística comecem na linha de montagem — a expectativa é de que a produção de carros se torne mais rápida, barata e eficiente. O objetivo é que essa conectividade inteligente melhore a segurança, reduza a poluição e baixe até o preço do seguro do carro.

“A IoT também contribuirá para os processos produtivos. Nas fábricas da GM já há métodos e equipamentos em fase de implantação para atender a processos de produção da indústria 4.0, como integração de maquinário, software, Internet das Coisas, computação em nuvem e robótica. A fábrica de São Caetano do Sul, em São Paulo, onde é produzida a nova Montana, é um exemplo de manufatura 4.0 com aplicação de IoT”, conta Jaime.

Para mudar nossa forma de pensar o transporte como um todo, a promessa é de que teremos experiências de direção mais rápidas, eficientes, seguras e com redução de congestionamentos. Porém, como ocorre com qualquer nova tecnologia, há preocupações com a privacidade e segurança dos dados. Nesse sentido, foi criada a ISO 21.434, de 2020, que fornece um conjunto de diretrizes e requisitos para o desenvolvimento seguro de sistemas eletrônicos desses carros.

“Não é possível garantir a segurança plena de uma frota de veículos conectados em rede porque o sistema é individual, com equipamentos de hardware e softwares instalados no automóvel que têm vulnerabilidades. As empresas que seguirem a ISO 21.434 vão conseguir mitigar problemas de segurança, mas nunca garantir plena segurança. Hoje, não é possível falarmos em rede de comunicação 100% infalível”, diz Rodolfo Avelino, professor de tecnologias hackers, cibersegurança e computação em nuvem do Insper.

Na última semana de março, uma equipe de hackers invadiu um Tesla Model 3 em uma conferência de Hackers, no Canadá. Em menos de dois minutos, os nerds acessaram o sistema de entretenimento do carro e trocaram o logo da Tesla pelo da empresa de cibersegurança para a qual trabalham, a Synacktiv.

Ao todo, durante os dez minutos de tempo limite da competição de que participavam, os hackers acessaram os sistemas três vezes. Nas duas últimas, atingiram pontos críticos do carro: poderiam abrir o porta-malas com o veículo em movimento e também acessar seus sistemas de segurança. A façanha rendeu à equipe US$ 350 mil (R$ 1.774 milhão, em conversão direta) e deve ter deixado o chefe, Elon Musk, um tanto decepcionado.

“A comunicação dos carros com sistemas externos utilizará, em grande parte, protocolos padrão de internet que já existem há décadas e que têm várias vulnerabilidades conhecidas. É por isso que sites como os de Americanas, Submarino, Ministério da Saúde e até da NSA (Agência de Segurança Norte-Americana) já sofreram ataques, mesmo investindo pesadamente em sistemas de segurança”, conclui Avelino.

Por outro lado, há exatamente um ano o IBGE divulgou que mais de 33 milhões de pessoas no Brasil ainda não tinham sequer acesso à internet. A implementação de uma ampla cobertura do 5G no país, que proporcione a criação de uma frota nacional de carros conectados, é exequível?

“Para ter uma frota de carros conectados é essencial contar com infraestrutura adequada. No caso do Brasil é ainda mais difícil devido à dimensão continental. Atualmente não temos nem cobertura celular em 100% das estradas e rodovias. Mas estamos na trilha”, destaca Mauro Miyashiro, mentor de Conectividade da SAE Brasil.

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Fonte: direitonews

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