Candidatura própria do PL à sucessão de Lira na Câmara dos Deputados divide o partido


A possível candidatura de um nome de oposição para disputar a presidência da Câmara dos Deputados ainda nem se concretizou, mas já divide alas do Partido Liberal (PL), sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro e de Valdemar Costa Neto, que têm opiniões divergentes sobre a sucessão de Arthur Lira (PP-AL).

A ala mais alinhada ao ex-presidente defende que a legenda assuma seu papel de oposição, e busque um nome forte que possa concorrer contra outros parlamentares que já anunciaram a vontade de comandar a Casa, como Elmar Nascimento (União-BA), Antônio Brito (PSD-BA) e Marcos Pereira (Republicanos-SP).

O deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP), que, em conjunto com Altineu Côrtes (PL-RJ), assumiu a função de encontrar um candidato que tenha a cara da oposição para participar da corrida pela sucessão na Câmara, em fevereiro de 2025, disse que há quatro ou cinco nomes dentro do partido que se colocaram como futuros candidatos, mas a escolha só será feita em agosto.

Bragança disse que conversou com o presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, sobre a importância de oferecer um nome para a sucessão de Lira. “É um absurdo a gente não ter candidato”, completa o parlamentar, que admite que há quem prefira compor com o nome que Arthur Lira também deverá anunciar, no mês que vem; ou com aqueles que se mostrarem mais “simpáticos” às pautas caras aos partidos de direita e centro na Câmara.

Para o parlamentar, “é preciso diferenciar o PL do Centrão”. Bragança salienta que o PL foi eleito como oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e deve manter essa posição.

Ao ser questionado sobre rumores de uma articulação para que o líder do PL na Câmara, Altineu Côrtez, seja vice na chapa do candidato que tiver o apoio de Lira, o deputado opinou “não é bom para o partido fazer composição”.

Em contrapartida, muitos parlamentares acreditam o melhor caminho seria uma composição, para prestar apoio a um candidato de outro partido. Para essa ala, o melhor seria que a oposição apoiasse um candidato que pudesse ter o endosso de todos. Esse entendimento leva em conta o raciocínio que tanto um nome do PL quanto um do PT enfrentaria grande resistência dos colegas na disputa para suceder Lira, o que reforçaria a polarização que tem marcado a política nacional.

Com esse posicionamento, parte dos deputados avalia que seria possível avançar na análise de questões importantes, como as que tentam conter a interferência do Supremo Tribunal Federal (STF) em temas do Legislativo, e as chamadas pautas de costumes, como a criminalização do aborto e das drogas.

Em caráter reservado, um deputado do PL disse à Gazeta do Povo que o partido deverá apoiar aquele candidato à presidência que se comprometer com o avanço de temas como a anistia aos presos no 8 de janeiro – a PEC que trata do assunto tramita na Comissão de Constituição e Justiça e ainda não teve o parecer analisado -, e a anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro, tratada em projeto de lei que concede anistia a condenados por ilícitos cíveis eleitorais ou declarados inelegíveis a partir de 2 de outubro de 2016.

Articulações para sucessão de Lira se intensificaram nos últimos dias

Embora a campanha pela sucessão à presidência da Câmara dos Deputados só deverá ser oficializada em agosto, alguns candidatos se anteciparam e deram início às articulações na semana anterior ao recesso parlamentar de julho, aproveitando a presença em massa dos parlamentares em Brasília.

Na semana em que o plenário da Câmara aprovou a regulamentação da reforma tributária, Antônio Brito (PSD-BA) reuniu ministros, deputados, senadores e presidentes de partidos num jantar em que ocorreram muitas conversas. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o líder do partido na Câmara, Altineu Côrtez, e diversos parlamentares da legenda marcaram presença por lá. O encontro até a uma roda de conversa reservada entre Lira, Costa Neto e Côrtez, que não quiseram “abrir” o teor do bate-papo.

No dia seguinte, a festança foi numa mansão do Lago Sul, bairro nobre da capital federal, onde Elmar Nascimento, líder do União Brasil, e tido como o preferido de Lira para sucedê-lo, comemorou o aniversário. Mais uma vez, políticos do PT ao PL se reuniram em rodas de conversa. Até Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara e que teve o mandato cassado, que alguns dizem ser o “modelo” de atuação de Lira, apareceu no evento. A comemoração também contou com a participação do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, outros ministros de Lula e parlamentares.

Costa Neto e Côrtez também estiveram por lá, mas não adiantaram quem é o preferido do PL na disputa à presidência da Câmara, embora admitam que estão conversando sobre o assunto.

Apontado como “favorito” de Lira, Nascimento ganha apoio do PDT e acenos da oposição

Enquanto Antônio Brito é o candidato com maior simpatia do Palácio do Planalto para suceder Lira, Elmar Nascimento ganhou recentemente o apoio do PDT, com a aprovação de um indicativo de apoio pela Executiva Nacional, na semana passada. A legenda integra a base do governo Lula, que, segundo alguns interlocutores, teria resistência a candidatura de Nascimento.

Enquanto isso, o parlamentar do União Brasil busca conquistar apoio da direita, que, segundo fontes, pode sim apoiá-lo, por entender que ele seguiria a mesma linha hoje adotada por Arthur Lira, e, portanto, teria uma postura mais flexível para apoiar pautas da oposição. Alguns parlamentares de direita chegam a citar Elmar Nascimento, de forma reservada, como possível nome que a oposição poderá apoiar, mesmo que num segundo turno para a eleição da presidência da Câmara, caso isso ocorra.

Em entrevista à CNN, na última segunda-feira (15), Lira negou que tenha um favorito à sucessão, e disse que “há três grandes nomes para disputa da presidência da Câmara em 2025”. O deputado alagoano afirmou ainda que a discussão sobre o nome para disputar o comando da Casa deverá ser amadurecida em agosto. Ele ainda lembrou que teve os votos dos três candidatos – Nascimento, Brito e Pereira – nas últimas duas eleições a que concorreu.

“É importante que todos tenham a oportunidade de discutir”, disse Lira, destacando que os candidatos estão no mesmo blocão partidário da Câmara, e que o novo presidente “certamente estará comprometido com o futuro do Brasil”.

Melhor candidato para suceder Lira será o que tiver menor rejeição, diz analista político

Na opinião do analista político Jorge Mizael, da Metopolítica Consultoria, o candidato com maiores chances para ocupar a cadeira de Arthur Lira, a partir de fevereiro de 2025, será aquele que tiver a menor rejeição.

“Em um cenário de consolidação da radicalização, a candidatura que não tiver alta rejeição terá fôlego para transitar entre os polos (PT-PL) e chegar com força para um eventual segundo turno”, afirmou.

Fonte: gazetadopovo

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