Nesta semana, ganharam fôlego em grupos bolsonaristas no WhatsApp e no Telegram mensagens incentivando doações de R$ 1 via Pix para a campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).
A iniciativa levou caos à campanha de reeleição, que terá que prestar contas dos baixos valores recebidos, e provocou confusão nos grupos bolsonaristas. Na segunda (12) e nesta terça-feira (13), diferentes usuários se manifestaram alertando que os repasses poderiam ser, na verdade, algum tipo de golpe.
Baseada em uma teoria da conspiração –de que os doadores mostrariam o número real de eleitores do presidente–, a campanha, curiosamente, também gerou teorias da conspiração nos grupos bolsonaristas: de que a iniciativa seria uma manobra da esquerda para impugnar a candidatura de Bolsonaro.
Em meio a um desencontro de mensagens, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou em uma rede social, nesta terça, que doações eram bem-vindas e que a campanha era espontânea. A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) também fez um vídeo para esclarecer que o Pix da campanha de fato existe.
A situação foi detectada pelo Observador Folha/Quaest, que monitora grupos públicos de Telegram e WhatsApp. Foram considerados 511 grupos bolsonaristas no Whatsapp e 176 no Telegram.
Muitos dos conteúdos postados nos grupos usam tom inflamado e justificam a doação como forma de impedir uma fraude eleitoral, já que os repasses mostrariam a quantidade de apoiadores do presidente.
“Vamos nos preparar… Vão tentar fraudar as eleições, mas o presidente não é besta. Lembrem-se que basta doar R$ 1, não mais que isso, a intenção é criar um dilúvio de doadores”, diz uma das mensagens.
“Vamos nos tornar estatística no TSE” e “uma campanha nacional para computar os apoiadores de Bolsonaro e servir de parâmetro para uma possível comparação com a quantidade de votos recebidos na eleição” são outras das frases que dão o tom à campanha nos grupos para incentivar as doações.
Por outro lado, posts também tentavam desmobilizar as transferências, sob o argumento de que os pedidos eram golpes –”Urgentíssimo!!! Pilantragem de pedido de Pix para o presidente”– ou até mesmo uma “manobra esquerdopática para impugnar a candidatura do presidente”.
Depois de circular a mensagem de que a iniciativa serviria para prejudicar Bolsonaro, um usuário chegou a sugerir que as doações fossem feitas à campanha do rival petista sem citar o nome de Lula. “Se é para fins de confusão e para tentar impugnar o nosso presidente, vamos fazer essa doação para o molusco.”
Também no Telegram, um usuário foi advertido por um moderador de que é proibido pedir dinheiro ou colher dados de integrantes do grupo. O usuário advertido critica: “Uma campanha nacional, e nós vamos ficar de fora? Achei que o grupo fosse de apoio a Bolsonaro… Trata-se de uma maneira de sabermos, até certo ponto, se houve fraude ou não nas urnas. Exemplo: se arrecadarem R$ 60 milhões e Bolsonaro só tiver 40 milhões de votos… Entendi ser uma boa maneira de desmascararmos uma fraude desse tipo”.
Na manhã de terça, um outro usuário alertava: “Dizem que não devem fazer este Pix… Problemas futuros na prestação de contas!!!!”, a que outro responde: “Não se preocupem, o governo já divulgou que pode!”.
Além de pedir as doações, Flávio Bolsonaro, coordenador da campanha do pai, destacou a necessidade das doações. “Qualquer valor é bem-vindo, desde que do coração. E, sim, estamos precisando.”
Uma postagem em um site simpático ao governo, com o título “Flávio Bolsonaro confirma que campanha de doação de R$ 1 para campanha de Bolsonaro é verdadeira e espontânea; ENTENDA”, já está entre as mais compartilhadas no WhatsApp sobre o assunto. O vídeo de Zambelli também passou a ser republicado para responder às mensagens que chamavam a campanha via Pix de falsa.
Com a legenda “é verdade, existe um Pix para ajudar na campanha do PR Bolsonaro”, a deputada federal rebate as acusações, dizendo que o objetivo não é saber quantas pessoas pretendem votar no presidente.
“Na verdade, não é nem por isso que a gente pede a sua doação. A gente pede para ajudar a campanha do presidente, porque é uma campanha cara. Vai ter gente que vai votar no presidente e não vai contribuir.”
O jornal Folha de S.Paulo mostrou que a movimentação gerou problemas burocráticos à campanha, dado que as doações têm que ser feitas individualmente e envolvem um trabalho detalhado de preenchimento de informações.
Ainda assim, Tarcísio Vieira de Carvalho Neto, advogado da campanha, diz que seria ruim desestimular a iniciativa e que de R$ 1 em R$ 1 é possível chegar a um valor que ajude financeiramente Bolsonaro na disputa eleitoral –caso uma solução contábil seja encontrada. O custo contábil envolvido na prestação de contas de cada doação, diz Neto, é maior do que o valor médio transferido até agora.
Os pedidos ocorrem em meio a um momento em que dirigentes partidários estão preocupados com a falta de recursos para a tentativa de reeleição. Recentemente, Flávio fez uma turnê por cidades do agronegócio em Mato Grosso para consolidar o apoio de ruralistas e impulsionar as doações para a candidatura.