Desde o início da operação militar especial da Rússia na Ucrânia, em fevereiro de 2022, a arquitetura política global passou a evidenciar suas falhas, é o que afirma o emissário sul-africano no BRICS (grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), Anil Sooklal, quando questionado sobre o que poderia motivar os novos interesses em relação ao bloco.
Para Sooklal, a nova onda de demanda surge a partir de Estados mais marginalizados, do Sul Global, que não são tratados com igualdade pelos países centrais, que trabalham apenas para a manutenção de sua hegemonia.
“[…] Acho que cada vez mais os países do Sul Global querem exercer sua independência, sua soberania e também ter suas vozes ouvidas no cenário global. E veem o BRICS como o fórum mais receptivo e mais alinhado às suas aspirações de criar uma comunidade global mais igualitária, inclusiva e justa”, afirma o emissário.
De acordo com o embaixador, a onda de países emergentes da América Latina, da África, Oriente Médio e Ásia, que desejam se tornar membros do BRICS, significa que a defesa da multipolaridade ainda é a maneira mais inclusiva de promover o desenvolvimento de suas economias na defesa por uma ordem mundial em que suas vozes podem ecoar para além do que acreditam os Estados hegemônicos.
“Isso é uma afirmação de que o BRICS tem sido um campeão do Sul Global ao abordar as questões em torno da arquitetura política global desigual, da arquitetura financeira e comercial globais, que favorecem o Norte Global. E é por isso que os países estão dizendo que precisamos de uma mudança nesta arquitetura global e o BRICS é defensor disso”, destacou.
De acordo com o especialista, somente na África, Argélia, Egito e Tunísia já se declararam especificamente interessados na adesão ao BRICS e que a expansão do bloco precisa começar a ser discutida.
O processo de expansão de um bloco de importância como o BRICS — que reúne os maiores mercados consumidores do mundo em termos reais quando observados população e espaço para investimentos — é complexo. Existem modalidades como membros observadores, membros plenos e países parceiros, mas a elaboração de como fazer essa importante expansão ainda está em desenvolvimento. Apesar disso, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) do BRICS, agora presidido pela ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff (2011-2016), está um pouco mais avançado nessa discussão.
“[…] Através do Novo Banco de Desenvolvimento, já admitimos novos sócios como membros do banco. Quatro países — Uruguai, Emirados Árabes Unidos, Egito e Bangladesh — foram admitidos como membros do BRICS no banco. Portanto, a expansão na instituição financeira do BRICS já ocorreu. Agora, o que se busca desses países é a associação política com o BRICS”, explica Sooklal.
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), os países do BRICS ultrapassaram a contribuição do G7 (grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) para o crescimento global já a partir de 2020, o que, na opinião do especialista significa um impacto relevante na economia mundial.
“Em termos de produto interno bruto [PIB] e paridade do poder de compra [PPC], o BRICS agora é maior que o G7. O BRICS representa 31,5% e o G7 30%. Mas se somarmos os quatro novos membros do NBD ao PIB do BRICS, sobe para 34,5%. Então você pode ver que o BRICS em sua forma atual está se tornando maior que o G7 e, está previsto que até 2030, o BRICS será responsável por 50% do PIB global. Portanto, uma adesão ampliada também aumentará a pegada econômica global do BRICS”, concluiu.
Fonte: sputniknewsbrasil