A assinatura do contrato com o Comando Logístico para a produção de um lote do MAX 1.2 AC aconteceu às margens do INDEX 2025, em acordo firmado pelo Exército Brasileiro e pela SIATT, empresa estratégica de defesa (EED) brasileira que conta com participação acionária do Grupo Edge, dos Emirados Arábes Unidos.
A aquisição desse míssil representa uma modernização do aparato de defesa brasileiro, que já possui armamentos anticarro, como é o caso dos canhões sem recuo, conhecidos como bazucas, lembra Marcos Barbieri, especialista em indústria aeroespacial e defesa e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A grande diferença entre os equipamentos é que, ao passo que as bazucas “têm um alcance de 600 metros no máximo e têm uma precisão relativamente não muito elevada”, os mísseis possuem “capacidade de atingir um alvo com uma grande precisão e um alcance maior“.
Outra vantagem que o armamento oferece é o custo-benefício em formas conjuntas que pode oferecer no campo de batalha.
Nesse caso, “veículos 4×4 armados com mísseis antitanque são mais baratos que blindados como o Leopard A2, da Alemanha, e oferecem uma letalidade comparável. Além de serem mais fáceis de operar, apresentam menos manutenção e podem ser deslocados por via aérea com mais facilidade“, explica Fabricio Avila, doutor em ciência política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e presidente do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE).
Apesar do novo contrato firmado, Barbieri ressalta que o desenvolvimento do armamento se arrasta há alguns anos no Brasil, já tendo inclusive passado por outras empresas, mas com participação direta do Centro de Tecnologia do Exército, o Cetex.
Segundo ele, o projeto estava a cargo da empresa Mectron, mas, com a crise financeira que atingiu a companhia e gerou o encerramento das atividades, em 2017, a SIATT, empresa brasileira “formada por pesquisadores e muitos […] dirigentes da Mectron”, assume o projeto do míssil anticarro. Inclusive o pesquisador ressalta que em todos os períodos a participação do Exército Brasileiro se deu de forma direta.
Produção fortalece indústria de defesa brasileira?
A produção interna desse tipo de armamento representa um ganho para o Exército, segundo José Augusto Zague, pesquisador do Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas e do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (Gedes), da Universidade Estadual Paulista (Unesp), uma vez que não depende mais de compras no exterior para suprir esse tipo de armamento.
Também conforme o especialista, a produção do MAX 1.2 AC no Brasil é mais uma demonstração da tendência de internalizar a produção na área de defesa, seguindo diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa (END).
“O Brasil vai fazer aquisições de armamentos, mas em troca ele quer o repasse da tecnologia, quer absorver a tecnologia. Isso vem sendo feito principalmente depois daquilo que a gente pode chamar de uma revitalização da indústria de defesa, que começa a partir de 2009, principalmente a partir do governo do presidente Lula, e tem continuidade no governo Dilma [Rousseff], com o Prosub [Programa de Desenvolvimento de Submarinos]”, explica.
Entretanto, no sentindo de internalizar tecnologia, o analista aponta um problema: as tecnologias incorporadas não são de grande intensidade tecnológica. Isso significa que, “quando você tem um armamento mais sofisticado, a nossa base industrial de defesa tem dificuldade para fornecer alguns desses componentes, principalmente aqueles mais críticos“.
Esse hiato faz com que o Brasil, portanto, ainda dependa da importação de vários componentes para a montagem dos seus principais armamentos, “seja o Astros, o KC-390, o Super Tucano… O Brasil tem um problema sistêmico com a questão do desenvolvimento de novas tecnologias”, acrescenta.
Barbieri recorda que recentemente o Brasil comprou um lote de mísseis Spike LR, fabricados em Israel, também altamente sofisticados, mas a vantagem do MAX 1.2 AC é justamente estimular a indústria nacional.
“Se, de um lado, é importante para as Forças Armadas brasileiras, para o Exército, para os fuzileiros navais terem um equipamento sofisticado, de grande importância tática em operações, […] por outro lado, é importante a produção desse míssil para que se possa desenvolver uma produção local, empresas locais, gerar renda no país, gerar emprego. E, mais que isso, essa produção permite que esse míssil ganhe uma escala, entre em produção e que, em um segundo momento, possa ser exportado“, analisa.
Outra vantagem da produção nacional, desta vez apontada por Ávila, é a possibilidade de os conflitos internacionais em andamento dificultarem a aquisição de armamentos e munições.
“Os tradicionais países fornecedores de armamentos, como Rússia, França e EUA, se encontram envolvidos nos conflitos na Ucrânia e em Israel”, pontua.
Para além disso, o presidente do ISAPE aponta a nacionalização dos armamentos e componentes como forma de escapar de possíveis embargos, caso um dia venham a ocorrer.
Fonte: sputniknewsbrasil