Brasil supera estereótipo de “terceiro mundo” para virar mercado líder da New Holland


Até cinco anos atrás, cada vez que a New Holland fazia lançamento de uma máquina nova na Europa ou nos Estados Unidos, os executivos da empresa se viam cercados de perguntas de brasileiros: “Quando é que esse trator vai chegar ao Brasil?”.

O presidente mundial da marca italiana admite que essa curiosidade talvez não recebesse a atenção merecida. “Desculpe a expressão, a gente tratava o Brasil um pouco como agricultura de terceiro mundo. Mas se você me perguntar hoje onde a New Holland mais vendeu nos últimos dois anos, onde faturou mais, esse mercado foi o Brasil. Dos US$ 7 bilhões vendidos globalmente, US$ 1 bilhão veio do Brasil. Da produção mundial de tratores da New Holland, 10% é vendida no Brasil, e das colheitadeiras, 30%”, sublinha o executivo Carlo Lambro, que falou à Gazeta do Povo durante a feira Agrishow, em Ribeirão Preto.

A mudança de patamar da agricultura brasileira fica clara no lançamento de novas soluções globais. Se antes os brasileiros tinham que “esperar na fila”, agora eles recebem as novidades em primeira mão. Foi o caso do lançamento, na Agrishow, dos novos drones pulverizadores da New Holland, de 70 litros, e da plataforma de conectividade à internet em parceria com a Intelsat, que presta serviços de conexão ao exército americano e no segundo semestre deverá estar disponível para os produtores brasileiros.

Produtor brasileiro é jovem e ávido por novas tecnologias

Em termos de mercados regionais, a Europa, como bloco, continua a liderar o faturamento global da companhia italiana, seguida pela área Ásia-Pacífico. Mas quando o recorte é feito por mercados únicos, de países, a liderança é brasileira. Dentre os fatores que impulsionam esse desempenho, Lambro cita o peso econômico do setor para a balança comercial do país – bem maior do que nos Estados Unidos, França ou Alemanha – e as políticas consistentes de apoio por parte do governo, de instituições de pesquisa, universidades e do setor privado.

Um diferencial que se destaca, contudo, seria o perfil do agricultor. “O produtor brasileiro está crescendo agora, é jovem. O agricultor europeu é velho na mentalidade. Se você for à Europa, a idade dos agricultores é muito mais alta. A capacidade do produtor brasileiro de absorver novas tecnologias é maior do que em outras regiões. Ele tem vontade de inovar e de crescer”, sublinha o executivo.

Sobre a imagem da agricultura brasileira lá fora, Lambro assegura que as pessoas que conhecem o meio rural sabem que não se trata de uma atividade predatória do meio ambiente. “Para a gente que conhece a agricultura brasileira, não é essa a sensação. E nos últimos anos o Brasil tem explicado bem isso. Nunca eu tive um cliente que reclamou da forma como a agricultura é feita no Brasil”, afirmou Lambro.

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Corrida para garantir conectividade nas fazendas

Para superar o gargalo da conectividade das fazendas, o grupo Case New Holland acaba de anunciar parceria com a Intelsat, maior empresa global de satélites.

A conexão a ser oferecida aos agricultores a partir do segundo semestre usará o mesmo sistema de satélites que hoje atende aplicações industriais críticas, inclusive para uso militar e de companhias aéreas. “Para mim, o futuro da agricultura está aqui. Na área digital, o Brasil está mais à frente do que a Europa e os Estados Unidos. Não é por acaso que a gente lançou esta parceria aqui”, destaca Lambro.

A conectividade deve proporcionar um salto qualitativo nas operações das fazendas brasileiras já que, atualmente, segundo a Intelsat, menos de um quarto das terras agrícolas do país estão suficientemente perto de uma torre de celular para possibilitar o aproveitamento das ferramentas de agricultura de precisão e tecnologia embarcada nos maquinários.

Motores a combustão vão dominar por bom tempo

Em outra frente,
na corrida por soluções de combustíveis renováveis, a New Holland apresentou em
Ribeirão Preto o primeiro trator 100% elétrico. Antes, em 2018, a empresa já
havia lançado no Brasil o trator 100% movido a biometano, produzido a partir de
dejetos animais das propriedades.

Tratam-se de soluções de nicho, segundo Lambro, que devem crescer, mas ainda longe de ameaçar a prevalência dos motores a combustão. No caso dos tratores elétricos, o uso deve se concentrar em operações menos pesadas, como de hortigranjeiros, enquanto a máquina movida a biometano deve ocupar espaço em propriedades maiores, com potencial de gerar biogás em grande quantidade. “Vão ser sempre um nicho, talvez não um nicho pequeno. A previsão é de que esse mercado pode chegar a 15% ou 20%, mas com os 80% restantes continuando a ser um mercado de motores a combustão. Há ainda muitos estudos para melhorar o diesel, temos os combustíveis sintéticos, o hidrogênio e o etanol, com certeza”, sublinha.

*O jornalista viajou à Agrishow a convite do pool de expositores da feira.

Fonte: gazetadopovo

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