Brasil no olho do furacão: região Sul do país vive alarmante temporada de ciclones


Em entrevista ao podcast Jabuticaba Sem Caroço, da Sputnik Brasil, a professora e pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Desastres da Universidade Federal Fluminense (UFF) Márcia Motta, notou que esse número elevado de ciclones em um período tão curto é “um motivo de grande preocupação, visto que a região não parece estar adequadamente preparada para enfrentar os impactos desses fenômenos climáticos”.

Ela ressalta que os ciclones e inundações são fenômenos previsíveis, parte da natureza e da Terra, e que, apesar de ocorrerem em padrões periódicos, a região não está devidamente preparada.

Márcia explica que uma das principais causas identificadas é a ocupação desordenada de áreas vulneráveis, como encostas e margens de rios, e a devastação das matas ciliares.
Isso, juntamente com a mudança climática global, contribui para a intensificação dos impactos desses desastres naturais.
Jabuticaba Sem Caroço #232
Embora o Sul do Brasil tenha enfrentado desafios climáticos ao longo da história, a frequência e a gravidade desses eventos estão aumentando, chamando a atenção para a importância de se preparar para um futuro onde os desastres naturais podem se tornar mais comuns.
Márcia Motta traz um importante esclarecimento sobre o impacto dos ciclones no Sul do Brasil. Ela enfatiza que, embora esses ciclones sejam previsíveis e façam parte da natureza local, é essencial que haja um planejamento adequado para enfrentá-los.

”A transformação das cidades em locais resilientes é fundamental. Há a necessidade de adaptações e planejamento para suportar esses fenômenos extremos”, pontua a especialista.

A conscientização e a ação coordenada são imperativas para minimizar danos e proteger a vida das comunidades afetadas por esses eventos climáticos.
O debate reflete a urgência de investir em estratégias de mitigação de desastres e adaptação às mudanças climáticas, incluindo o ordenamento territorial e a educação pública sobre os riscos associados a esses fenômenos.
Caso contrário, o Sul do Brasil continuará enfrentando os impactos devastadores dos ciclones sem estar devidamente preparado para enfrentá-los.

Fenômenos climáticos e ciclones extratropicais

Ao podcast Jabuticaba Sem Caroço, da Sputnik Brasil, o professor Augusto José Pereira Filho, do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, esclarece a diferença entre fenômenos climáticos, ciclones extratropicais e sua intensidade em comparação com os furacões.
Ele explica que, embora ambos possam produzir ventos intensos e chuvas, os furacões são caracterizados por ventos extremamente fortes, acima de 200 quilômetros por hora, enquanto os ciclones extratropicais se destacam pela quantidade significativa de chuva que produzem.

”O ciclone extratropical é um fenômeno de baixa pressão. Onde a pressão baixa na superfície, isso significa que o mar está acendendo, ele está subindo naquela região. E, junto com essa sensação de variedade, isso produz chuva. Muita chuva. Agora, há outros fenômenos, como jatos de alto ruído, que produzem um fenômeno parecido, que é o de levantamento do ar, que leva junto a umidade do ar nessa ascensão, e produz também muita chuva. Há uma necessária distinção entre eles, por razão da intensidade, por razão da duração, e também as consequências. O furacão é um fenômeno que produz muita chuva, e também ventos que chegam a mais de 200 quilômetros por hora. Já esses ciclones extratropicais, eles produzem também ventos intensos, mas é um fenômeno que é mais significativo do ponto de vista da precipitação [de chuvas] em relação ao furacão”, detalha o especialista do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo.

A discussão sobre os recentes eventos no Sul do Brasil e em Santa Catarina revela que esses fenômenos são distintos, mas ambos têm impactos significativos.
Além dos fenômenos climáticos em si, a falta de preparação e planejamento das cidades, juntamente com o crescimento desordenado, agrava os danos materiais e as perdas de vidas humanas.
O professor destaca a associação desses eventos com frentes frias e áreas de levantamento, bem como a importância da região da Amazônia, que, devido à redução de chuvas, causa um aumento da evapotranspiração, contribuindo para chuvas intensas em outras regiões do Brasil.
Portanto, a compreensão desses fenômenos climáticos e a implementação de medidas de planejamento e resiliência são cruciais para enfrentar os desafios causados por eventos climáticos extremos, proteger as comunidades e minimizar os danos.

O clima se refere a médias de longo prazo, enquanto o tempo é a situação atual em um período mais curto. Marcely Sondermann, meteorologista da Climatempo, reforça que o aquecimento global tem contribuído para extremos climáticos mais frequentes e intensos.

Ela também mencionou que o El Niño, aquecimento anômalo das águas do Pacífico Equatorial, tem afetado a região sul do Brasil, causando chuvas intensas e favorecendo a formação de ciclones. Isso tem resultado em uma crescente frequência desses fenômenos na região, com ciclones mais intensos, como o ocorrido no início de setembro.
Para o futuro, estudos divergem quanto à frequência dos ciclones na região sul, mas é provável que sejam mais intensos.

”A gente tem observado, principalmente, um aquecimento em toda a região, em todo o planeta, inclusive aqui no Brasil, e que tem batido recordes de diversas formas. Temos visto esse aquecimento, esses recordes de temperatura. O planeta está aquecendo anormalmente. Esse aquecimento acaba dando mais combustível para a atmosfera gerar pontos mais extremos, mais intensos e mais frequentes. E, por exemplo, esses ciclones que a gente tem observado na região Sul, ao longo de todos esses últimos anos, dez ou 20 anos, observamos que esses fenômenos têm ficado, sim, um pouco mais intensos. Eles têm estado associados à chuva muito mais intensa, a uma rajada de vento também mais forte”, pontua Marcely.

El Niño e La Niña: entenda a diferença

El Niño e o La Niña são eventos atmosféricos que têm um impacto significativo nas condições climáticas.
O El Niño está relacionado ao aquecimento das águas do oceano Pacífico na sua porção equatorial, enquanto o La Niña está associado ao resfriamento dessas águas na mesma região.
Esses fenômenos atmosféricos têm consequências consideráveis nos padrões de temperatura e chuva em todo o mundo.
O El Niño resulta em secas severas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, ao passo que o La Niña contribui para um aumento das chuvas nessas áreas.
No Sul do Brasil, durante o El Niño, há um aumento significativo na quantidade de chuva, enquanto no período de ocorrência do La Niña, a região enfrenta níveis pluviométricos mais baixos.

Fonte: sputniknewsbrasil

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