Brasil e Argentina são últimos países da América Latina com novos projetos de usinas de carvão


O Brasil e a Argentina são os únicos países da América Latina que ainda possuem novos projetos de usinas de carvão aprovados ou em desenvolvimento, indo na contramão da tendência global e das recomendações da comunidade científica sobre a urgência da transição energética para longe dos combustíveis fósseis, a fim de frear as mudanças climáticas.

Apenas 1,4 gigawatts (GW) de capacidade de carvão permaneceram em “pré-construção” e construção em toda a América Latina até o final de 2023, representando uma queda de 19% em relação a 2022 e uma diminuição de 86% em relação aos 10,2 GW de capacidade de carvão em desenvolvimento em 2015, de acordo com a pesquisa anual do Monitor Global de Energia (Global Energy Monitor) sobre o panorama global de carvão.

As duas novas usinas a carvão autorizadas pela agência reguladora no Brasil e a única unidade a carvão em construção na Argentina são tudo o que resta dos projetos propostos na América Latina, os quais, se cancelados, eliminariam qualquer plano para ampliar o uso de carvão no continente.

No Brasil, as usinas de energia Nova Seival e Pedras Altas (ou “Ouro Negro”) tinham previsão de iniciar suas operações entre 2026 e 2027, mas após enfrentarem obstáculos financeiros e judiciais nas fases de desenvolvimento, nenhum dos projetos avançou em 2023. Ambos estão paralisados, mas ainda não foram oficialmente cancelados.

Aumento global

Dados do Global Coal Plant Tracker mostram que 69,5 GW de capacidade de energia a carvão entraram em operação em todo o mundo, enquanto 21,1 GW foram desativados em 2023, resultando em um aumento líquido anual de 48,4 GW para o ano e uma capacidade total global de 2.130 GW. Este é o maior aumento líquido na capacidade de carvão em operação desde 2016.

Uma onda de novas usinas de carvão entrando em operação na China impulsionou esse aumento – 47,4 GW, ou aproximadamente dois terços das adições globais – juntamente com novos projetos na Indonésia, Índia, Vietnã, Japão, Bangladesh, Paquistão, Coreia do Sul, Grécia e Zimbábue. No total, 22,1 GW entraram em operação e 17,4 GW foram desativados fora da China, resultando em um aumento líquido de 4,7 GW.

A redução das desativações nos Estados Unidos e na Europa contribuiu para o aumento da capacidade de carvão. Com 9,7 GW, os Estados Unidos contribuíram com quase metade da capacidade desativada em 2023, uma queda em relação aos 14,7 GW desativados no ano passado e seu recorde de 21,7 GW em 2015.

Os estados membros da União Europeia e o Reino Unido representaram aproximadamente um quarto das desativações, com o Reino Unido (3,1 GW), Itália (0,6 GW) e Polônia (0,5 GW) liderando as desativações da região no ano.

“É essencial para a descarbonização das economias que acabemos com o carvão novo; portanto, é uma boa notícia ver que esse setor vem perdendo terreno em muitos países no ano passado. No entanto, sabemos que há um enorme lobby do carvão no Brasil que tem sido influente na extensão de subsídios e contratos públicos para concessões de usinas de carvão e na flexibilização de leis para aumentar a produção de energia em usinas de combustíveis fósseis durante emergências climáticas. O Presidente Lula tem uma oportunidade única de transformar o Brasil em um líder climático que cumpre o que fala, anunciando que não haverá novos projetos de carvão antes da próxima COP”, diz Nicole Figueiredo de Oliveira, Diretora Executiva do Instituto Internacional Arayara

O relatório também mostra:

Países membros do G7 representam 15% (310 GW) da capacidade de carvão em operação no mundo, abaixo dos 23% (443 GW) em 2015. Com a conclusão de novas unidades no Japão em 2023, o G7 não possui mais nenhuma usina a carvão em construção, mas ainda abriga uma proposta no Japão e duas nos EUA.

O G20 é responsável por 92% da capacidade de carvão em operação no mundo (1.968 GW) e 88% da capacidade de carvão em pré-construção (336 GW).

A China e os dez países que a seguem respondem por 95% da capacidade de pré-construção global de carvão. Os 5% restantes estão distribuídos entre 21 países, onze dos quais têm apenas um projeto e estão prestes a alcançar o marco de “nenhum novo carvão”.

Em 2023, a diminuição das propostas de carvão fora da China foi amenizada por 20,9 GW de propostas inteiramente novas, lideradas pela Índia (11,4 GW), Cazaquistão (4,6 GW) e Indonésia (2,5 GW), bem como 4,1 GW de capacidade previamente arquivada ou cancelada considerada novamente proposta.

Além do Monitor Global de Energia, os coautores do relatório são o Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo, E3G, Reclaim Finance, Sierra Club, Solutions for Our Climate, Kiko Network, Grupos de Bangladesh, Trend Asia, Aliança pela Justiça Climática e Energia Limpa, Chile Sustentável, POLEN Transiciones Justas, Iniciativa Climática do México e Arayara.

Fonte: noticiasagricolas

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