Brasil deve temer força militar de Colômbia e EUA na Amazônia?


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Nesta segunda-feira (31), o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, conversou com o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sobre o futuro das relações bilaterais. Segundo o mandatário colombiano, os presidentes unirão esforços para a defesa da Amazônia.
“Conversei por telefone com o presidente Lula. Expressei minhas mais sinceras felicitações”, escreveu Petro. “‘As relações entre Colômbia e Brasil serão estreitas, porque ambos amamos a Amazônia’, Lula me disse. Assim será, presidente”.
Apesar das boas intenções, Petro aposta em uma aliança militar com os EUA para reforçar a vigilância na floresta. Em setembro, o mandatário colombiano recebeu a chefe do Comando Sul dos EUA, general Laura J. Richardson, em reunião a portas fechadas na capital, Bogotá. Após o encontro, Petro relatou ter proposto aos EUA a formação de uma força militar conjunta para atuar na Amazônia.
© AFP 2022 / Rodrigo Buendía General Laura Richardson, comandante do Comando do Sul dos EUA, durante visita à capital do Equador, Quito, 14 de setembro de 2022

General Laura Richardson, comandante do Comando do Sul dos EUA, durante visita à capital do Equador, Quito, 14 de setembro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 03.11.2022

General Laura Richardson, comandante do Comando do Sul dos EUA, durante visita à capital do Equador, Quito, 14 de setembro de 2022
“Propus para a general o estabelecimento de uma força militar, que segundo ela já tem um esboço no Brasil, com helicópteros e etecetera, destinada a apagar incêndios na selva amazônica, que é o principal problema de segurança da Humanidade hoje”, disse o presidente da Colômbia, conforme reportou o jornal El País.
Em 26 de outubro, o governo dos EUA confirmou a entrega de 12 helicópteros Sikorsky UH-60 Black Hawk à Colômbia, para atuar na Amazônia. Alguns helicópteros já foram entregues, e serão rebatizados por Gustavo Petro de “frota das araras”.
“Vamos chamá-los de ‘as araras’ e vamos pintá-los como araras. ‘A frota das araras’ é uma espécie de reivindicação humana do habitat das lindas araras que estão se extinguindo”, disse o presidente durante a cerimônia de entrega dos helicópteros Back Hawks.
© Foto / Lockheed MartinA aeronave opcionalmente pilotada Sikorsky UH-60A Black Hawk faz seu primeiro voo não tripulado no sábado, 5 de fevereiro de 2022

A aeronave opcionalmente pilotada Sikorsky UH-60A Black Hawk faz seu primeiro voo não tripulado no sábado, 5 de fevereiro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 03.11.2022

A aeronave opcionalmente pilotada Sikorsky UH-60A Black Hawk faz seu primeiro voo não tripulado no sábado, 5 de fevereiro de 2022
Durante a entrega, o embaixador dos EUA na Colômbia, Francisco Palmieri, declarou que essa é a primeira frota do mundo focada na proteção do meio ambiente, reportou o jornal El Colombiano.
O diretor da Polícia Nacional da Colômbia, Henry Sanabria, no entanto, revelou que a frota terá outras funções além da simples preservação ambiental, como evacuação de populações ribeirinhas em caso de necessidade, informou o braço informacional do Comando Militar do Sul dos EUA, o portal Diálogo Américas.

Preocupações no Brasil

A entrada de equipamentos e pessoal militar dos EUA preocupa diplomatas e analistas de defesa no Brasil. Em outubro passado, o embaixador aposentado Rubens Barbosa publicou um artigo no jornal Estado de São Paulo, denunciando a iniciativa colombiana como nociva aos interesses brasileiros.
“A iniciativa colombiana de chamar a OTAN e os EUA para ter presença na Amazônia deve ser vista com cautela, mas, do ponto de vista do Brasil, se confirmada, é de extrema gravidade por suas possíveis implicações estratégicas, ambientais, políticas e de defesa”, acredita Barbosa.
Segundo ele, a atitude colombiana pode tocar em dois temas sensíveis para as Forças Armadas e para o Itamaraty, a saber, “a internacionalização da Amazônia e a criação de bases militares de países de fora da região em países vizinhos”.
O embaixador ainda lembra que o contexto atual gera apreensão, uma vez que há intenção “dos EUA de retomar sua influência no Hemisfério Ocidental, ante a presença crescente da China e da Rússia na América do Sul, em uma espécie de ressurreição da Doutrina Monroe“.
© AP Photo / Eraldo PeresO presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, em frente a uma bandeira dos EUA durante entrevista coletiva com o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Robert O’Brien, no Palácio do Itamaraty em Brasília, Brasil, 20 de outubro de 2020

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, em frente a uma bandeira dos EUA durante entrevista coletiva com o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Robert O'Brien, no Palácio do Itamaraty em Brasília, Brasil, 20 de outubro de 2020 - Sputnik Brasil, 1920, 03.11.2022

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, em frente a uma bandeira dos EUA durante entrevista coletiva com o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Robert O’Brien, no Palácio do Itamaraty em Brasília, Brasil, 20 de outubro de 2020
Analistas ouvidos pela Sputnik Brasil, no entanto, não compartilham da preocupação de Barbosa. Para eles, a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva reforça a agenda de proteção amazônica, que pode ser um tema de interesse compartilhado entre Brasil, Colômbia e EUA.
“Acho que é uma grande possibilidade de o governo Lula e Petro serem bastante próximos em diversos temas, inclusive o da Amazônia. A partir deste alinhamento, [Lula e Petro podem] coordenar posições com [Joe] Biden”, disse o professor adjunto no Departamento de Relações Internacionais do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF), Thiago Rodrigues. “Eu acho que ali existe uma sintonia possível entre os três para tomar a Amazônia como um objeto de proteção.”
Para Rodrigues, tanto Lula quanto Petro acreditam que, apesar da responsabilidade primordial pela proteção do bioma ser dos países amazônicos, a cooperação com países extrarregionais é bem-vinda.
“Recursos financeiros de países europeus como a Noruega e Alemanha e de potências econômicas como os EUA contribuiriam para um esforço integrado e coordenado de preservação ambiental e de combates aos ilícitos transnacionais da região”, disse o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Thomas Ferdinand Heyes, à Sputnik Brasil.
Em função do seu tamanho e influência, o Brasil poderia ocupar um papel de liderança nesta coordenação com a Colômbia e os EUA. Para reforçar seu peso perante Washington, o governo Lula pode optar por restaurar organizações como o Conselho de Defesa Sul-Americano da UNASUL, sepultado pelos governos Temer e Bolsonaro.
© Foto / Divulgação / Ricardo StuckertO então candidato à presidência do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva recebe a vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez, em 26 de julho de 2022, em São Paulo

O então candidato à presidência do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva recebe a vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez, em 26 de julho de 2022, em São Paulo - Sputnik Brasil, 1920, 03.11.2022

O então candidato à presidência do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva recebe a vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez, em 26 de julho de 2022, em São Paulo
“Eu tenho a expectativa de que o Brasil de uma forma geral vai restabelecer um ativismo internacional que foi suprimido com Bolsonaro, e a UNASUL tem todas as condições de ser reavivada […] tendo como protagonistas Lula, Petro e [o presidente chileno Gabriel] Boric”, acredita Rodrigues.
A “liderança natural” do Brasil poderá ser um contrapeso necessário para a atuação dos EUA na Amazônia sob o guarda-chuva colombiano.
Nesta segunda-feira (31), o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, conversou com o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre a futura cooperação bilateral. Anteriormente, a Colômbia inaugurou Força Militar conjunta com os EUA para atuação na Amazônia.
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