“Foi um momento, nos quatro anos do anterior governo, em que tivemos um distanciamento quase que natural pela agenda internacional, pela falta de agenda internacional que o governo anterior teve […]. Então, se a gente não reposicionar o Brasil de forma objetiva, a gente não terá condição de reparar o dano ou recuperar o tempo que perdemos”, opinou.
“Quando você tem um hiato tão grande nas relações de um país importante como o Brasil com o continente com quem muitos querem falar, nós precisamos entender como é que o tempo vai ajudar a reparar. Enquanto nós falamos hoje, agora, neste momento, o governo chinês convidou mais uma vez os presidentes africanos para uma reunião governamental. E isso é feito ao longo dos últimos oito anos”, ponderou.
“O Brasil vem se relacionando com o continente africano desde o período nefasto da escravização, porém de maneira não muito sistemática e também descontinuada. E isso não ajuda a manter intercâmbios e manter relações efetivas, sejam culturais, acadêmicas, políticas. A coisa fica sempre começando. Então eu considero que é muito importante que tenham programas, ações planejadas para serem efetivas e continuadas. […] não são firmados acordos e projetos que tenham continuidade, eles são muito pontuais.”
“Fala-se pouco de África. De 20 anos para cá, fala-se um pouco mais, inclusive por força da Lei nº 10.639, que obriga o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira. Isso tem feito diferença no ensino em todos os níveis.”
Brasil e África: nem tudo é só lamento
“Não estamos parados, estáticos, no meio do apagamento histórico não. Existe uma mobilidade, existe uma busca. Minha crítica é apenas que essa busca já existente tem que ser mais célere e mais consciente, respaldada por leis e por ações políticas. É muito importante que ocorram atividades oficiais e, também, combinando com o processo de organização da sociedade civil”, frisou Matilde Ribeiro.
“A transferência de tecnologia pode acontecer de forma solidária, mas as empresas de um lado e outro precisam conversar para que no final quem produz aqui no Brasil possa eventualmente produzir no outro espaço africano, sozinho ou em parceria com nacionais desses países.”
Relações entre Brasil e União Africana
“Cada país africano, e os que estão fora da África, tem uma política própria de fazer as suas ações, de reparação, de entrega de ativos. Houve uma discussão interessante, acalorada até, como algumas nações. Por exemplo, nações europeias vão entregar para os Estados africanos bens que foram retirados, que foram usurpados ou foram roubados”, contou Monte. “Nessa reunião em Salvador houve uma série de recomendações para que esse passivo ou esses passivos possam ser, de uma forma mais simples, resolvidos.”
“No fazer da agenda da política pública brasileira, mesmo havendo a intenção de trazer a questão africana para o centro, isso acaba se perdendo diante do conjunto de demandas e de prioridades […]. Para fazer valer essas promessas mais e mais, tem que ter uma sociedade civil ativa, tem que ter um movimento social batendo na porta. E essa conferência ocorrida aqui em Salvador é um exemplo disso. Há muito tempo não encontrava pessoas e instituições favoráveis à agenda africana, favoráveis à política de aproximação Brasil-África”, comemorou ela.
Fonte: sputniknewsbrasil