A 53ª edição do GP do Brasil, hoje conhecido como Grande Prêmio de São Paulo de Fórmula 1, terá um piloto local pela primeira vez em quase uma década. Isso porque Gabriel Bortoleto, da Sauber, participará do fim de semana em Interlagos e, muito provavelmente, alinhará no grid de largada no próximo domingo (9).
Desde 2017 um piloto brasileiro não participava de uma corrida em casa. Antes de Bortoleto, o último havia sido Felipe Massa, que, à época, corria pela Williams. Na ocasião, o paulistano terminou a prova na sétima posição e logo rumou para a aposentadoria.
No total, 27 brasileiros correram em casa na Fórmula 1. Destes, 19 não completaram a prova de estreia — entre eles os tricampeões mundiais Ayrton Senna e Nelson Piquet. Vale frisar, aliás, que o único a triunfar no debute foi Emerson Fittipaldi, que conquistou a sua primeira vitória em casa logo na primeira tentativa, em 1973, pela Lotus.
1973, inclusive, marcou o ano de estreia oficial do GP do Brasil no calendário da Fórmula 1 (a prova de 1972 foi realizada extracampeonato). Justamente por isso, lendas como Chico Landi não disputaram uma corrida em casa. Primeiro piloto do nosso país a correr na principal categoria do automobilismo mundial (entre 1951 e 1956) não teve, infelizmente, o gostinho.
No entanto, antes de olharmos para o que o piloto da Sauber (Audi a partir de 2026) fará na categoria, vamos rememorar alguns momentos felizes. Listamos abaixo os cinco pilotos brasileiros que representaram as cores do país e venceram em casa na Fórmula 1. Confira:
Emerson Fittipaldi conquistou sua primeira vitória no GP do Brasil de Fórmula 1 logo na estreia. “Emmo” largou em segundo, atrás do companheiro de Lotus, Ronnie Peterson. O sueco acabou tendo problemas logo no início da prova e viu seu colega de equipe vencer a prova. Com alguma tranquilidade, inclusive, colocando mais de 13 segundos em Jackie Stewart, então na Tyrrell.
O brasileiro venceria em Interlagos já no ano seguinte, mas agora pela McLaren. Emerson anotou pole e ainda foi dominante na prova, batendo com facilidade Clay Regazzoni, da Ferrari, e Jacky Ickx, seu substituto na Lotus.
O homem que dá nome ao autódromo de Interlagos venceu o GP do Brasil em 1975. José Carlos Pace conquistou sua primeira e única vitória na Fórmula 1 em casa, e caiu nos braços da torcida. Embora tenha largado em sexto, problemas com os líderes e um ritmo de corrida brilhante fizeram com que Pace conquistasse o topo do pódio.
Um detalhe: além da primeira e única vitória do piloto na categoria, esta foi a primeira dobradinha de brasileiros em Interlagos. Isso porque o bicampeão mundial Emerson Fittipaldi, da Mclaren, terminou a prova em segundo.
No ano do bicampeonato mundial, Nelson Piquet conquistou sua primeira vitória no GP do Brasil. Bem… Mais ou menos. No ano anterior o piloto também cruzou a bandeira quadriculada na liderança. No pódio, devido ao cansaço, chegou a ser amparado. Só que, no fim das contas, acabou desclassificado. Seu carro tinha galões d’água que resfriavam os freios, ilegais de acordo com o regulamento.
Mas em 1983 a vitória veio. A prova, realizada no saudoso autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, viu Piquet largar em quarto e se aproveitar do brutal motor BMW de seu Brabham para assumir a ponta e nunca mais sair de lá.
O tricampeão mundial repetiria o feito em 1986, agora pela Williams. Com carro dominante, Piquet sofreu investidas de Ayrton Senna, então na Lotus. Além disso, quase tomou um “nó tático” de Alain Prost, da McLaren. O francês trabalhou com uma parada e ameaçou a vitória do brasileiro. No entanto, seu motor Porsche não aguentou o calor carioca e deixou Piquet tranquilo para triunfar e fazer uma dobradinha com Ayrton Senna, o próximo da lista.
Ah, a mística. Tudo que permeia Ayrton Senna é digno de debates intermináveis. Veja sua primeira vitória no Brasil, por exemplo. Correndo pela McLaren, o tricampeão largou na pole position em Interlagos e abriu vantagem com tranquilidade para os rivais Mansell e Riccardo Patrese, da Williams.
No entanto, lá pela volta 60, o britânico começou a apertar o brasileiro, que enfrentava problemas na caixa de câmbio. Para a sorte de Senna, Mansell enfrentou questão similar e acabou abandonando a prova. Com poucas voltas para o fim da prova, o tricampeão perdeu quinta e terceira marchas (a quarta já tinha ido para as cucuias).
Depois disso, Senna teve de administrar a prova com maestria e o fez. Riccardo Patrese bem que tentou, mas ficou pouco menos de 3 segundos atrás do brasileiro, que, cansado e muito emocionado, celebrou sua primeira vitória no Brasil após várias tentativas frustradas em anos anteriores.
Dois anos mais tarde, mesmo correndo com um McLaren de motor Ford Cosworth V8 contra as quase imbatíveis Williams-Renault V10, Senna se aproveitou de uma chuva torrencial que caiu no meio da prova. O aguaceiro pegou Prost de surpresa e este bateu no S do Senna. Depois, o brasileiro fez uma antológica ultrapassagem sobre Damon Hill sobre pista úmida e venceu com autoridade.
A primeira vitória de Felipe Massa no Brasil, embora tenha tido presença de safety car na volta 2, até que foi tranquila. O piloto da Ferrari largou na pole e contornou bem todas as situações que poderiam ter lhe tirado o triunfo. Para variar, o time de Maranello também trabalhou muito bem, e garantiu ao paulistano uma bela conquista em frente aos fãs, que não viam um local no topo do pódio desde Ayrton Senna, em 1993.
Uma curiosidade é que, naquele fim de semana, Massa correu com um macacão especial nas cores verde, amarela e azul, algo raríssimo de ser autorizado por uma equipe tão tradicional e conservadora quanto a Ferrari. A vestimenta deu um colorido especial para a celebração.
Já a vitória de 2008 foi muito mais sofrida e dramática. Massa tinha chances de título se vencesse a prova e um tal jovem chamado Lewis Hamilton terminasse da sexta colocação para baixo. O brasileiro largou na pole e o britânico conquistou um tímido quarto lugar no grid. Assim, o domingo prometia.
Como em todo bom GP do Brasil, as incertezas meteorológicas mudavam na velocidade do rodar do pião da casa própria. Ao fim da corrida, as condições mudaram. Começou a cair aquela clássica “chuva da represa” de Interlagos. Com isso, todos os primeiros colocados resolveram trocar os pneus de secos para intermediários — à exceção de Timo Glock, da Toyota, que subiu para a quarta posição.
Hamilton foi ultrapassado por Sebastian Vettel, então piloto da Toro Rosso, no final da antepenúltima volta e caiu para sexto, configuração de resultado que dava o título ao líder Massa. Contudo, na última volta, o sobrenatural atacou. A chuva apertou e, com a pista mais molhada, os pneus de Glock não tracionavam como os dos rivais. Assim, na entrada da curva da Junção, logo antes da subida da reta dos boxes, Hamilton fez a ultrapassagem que assegurou o quinto lugar.
Como a ultrapassagem se deu no frigir dos ovos, arquibancada e box da Ferrari ainda comemoravam o hipotético titulo de Massa sem se dar conta de que Hamilton havia retomado o campeonato do brasileiro a poucos metros da linha de chegada. É… A vida tem dessas coisas.
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Fonte: direitonews






