MATHEUS TEIXEIRA, MARIANNA HOLANDA E RENATO MACHADO
BRASÍLIA, DF – Derrotado na tentativa de ser eleito para um segundo mandato, Jair Bolsonaro (PL) deverá trabalhar a partir de agora para fidelizar sua base de apoio mais ideológica e radical e também para se manter como a principal liderança de direita no Brasil durante a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O presidente, no entanto, vai precisar superar algumas dificuldades fora do cargo, para seguir como o grande nome do campo conservador do país.
Uma delas é a falta de estrutura, apesar de ter negociado apoio do seu partido. A outra é a concorrência interna, com a ascensão de novos líderes, entre eles aliados e antigos desafetos.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil-PR), que se elegeu senador, são cotados para disputar o Palácio do Planalto em 2026.
Ambos se aproximaram de Bolsonaro no segundo turno da eleição, mas não pretendem ter uma atuação totalmente alinhada a ele nos próximos quatro anos.
Bolsonaro foi derrotado por Lula, com 49,1% dos votos, contra 50,9% do petista, sendo o primeiro presidente que não conseguiu ser reeleito.
O presidente levou 45 horas para reconhecer o resultado da eleição, ainda que de forma implícita, e falou em “indignação” e “sentimento de injustiça”.
À exceção dessa fala, Bolsonaro manteve um comportamento recluso, fechado no Palácio da Alvorada. Não usou redes sociais, não deu entrevistas nem realizou transmissões ao vivo na internet.
Enquanto isso, seus apoiadores mais radicais bloquearam rodovias e realizaram manifestações antidemocráticas em frente a quartéis militares, pedindo intervenção federal.
Bolsonaro apenas gravou um vídeo pedindo para que as estradas fossem liberadas e disse para seus apoiadores não pensarem “mal” dele por ter feito esse pedido.
Aliados dizem que o presidente ainda está processando a derrota e que tirou uns dias para isso. Mas apostam que o momento de baixa e reclusão vai logo ser superado e que ele retornará ao palco principal da política em breve.
O processo de fortalecimento do bolsonarismo vai passar justamente pela fidelização da base de apoio mais ideológica, que prega radicalismos como intervenção militar e o fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal).
Aliados consideram que a militância não entendeu o silêncio do chefe do Executivo como abandono, mas sim o de que ele estava impossibilitado de tomar outras medidas, reforçando a ideia, sem lastro na realidade, de que é o nome que enfrenta o sistema composto pela classe política e pelo tribunais superiores.
Bolsonaro ainda terá o apoio de aliados eleitos para o Congresso, para manter as pautas ideológicas em evidência. Um deles é o deputado eleito e campeão de votos Nikolas Ferreira (PL-MG), um dos responsáveis por ditar nas redes sociais o comportamento dos internautas bolsonaristas.
No Senado, também deverá ter destaque defendendo a pauta ideológica a ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves (Republicanos-DF) e o senador eleito Magno Malta (PL-ES), entre outros.
Interlocutores dizem que a grande dificuldade de Bolsonaro será a de se manter em destaque por quatro anos mesmo sem nenhum cargo eletivo. O chefe do Executivo, nesta semana, recebeu o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, para tratar de seu futuro.
No encontro, o presidente disse que pretende continuar na sigla, ter um papel importante e liderar a oposição. Ainda não foram discutidos detalhes, mas Valdemar disse que aceitaria.
Quando deixar o Palácio do Planalto, ele deve ocupar um papel de destaque na legenda, com direito a assento na Executiva Nacional e salário.
Em seu primeiro discurso concedido 45 horas após a proclamação da vitória de Lula, após a reunião com Valdemar, o chefe do Executivo expressou seu desejo de ser a liderança da direita.
“É uma honra ser o líder de milhões de brasileiros que, como eu, defendem a liberdade econômica, a liberdade religiosa, a liberdade de opinião, a honestidade e as cores verde e amarela da nossa bandeira”, disse.
Há uma avaliação de que, se o chefe do Executivo chegar a 2026 mais fraco eleitoralmente, abriria espaço para que um sucessor se lance à Presidência.
Além de Zema e Moro, há, entre outros, os nomes de Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador eleito de São Paulo e ex-ministro de Bolsonaro.
Tarcísio e Zema comandam os maiores colégios eleitorais do país. O governador eleito de São Paulo já é visto por uma ala do bolsonarismo como o nome natural à sucessão, mas outra busca afastá-lo do posto.
Já Zema também já expressou a interlocutores o interesse no cargo, mas dependeria da conjuntura, em especial porque está num partido pequeno.
Se quiser se lançar ao Planalto ele enfrentará um dilema: é candidato natural do Novo ao cargo, não terá resistência da legenda. Por outro lado, o partido não tem estrutura.
O Novo não conseguiu superar a cláusula de barreira neste ano e saiu da eleição com tamanho de nanico, tendo eleito apenas três deputados federais.
Integrantes do PL já demonstraram interesse em filiá-lo, mas não há nenhuma garantia para que consiga se cacifar em 2026, uma vez que Bolsonaro também está na sigla.
Publicamente, Zema não confirma a intenção de se candidatar a presidente em 2026, mas também não nega, afirmando que está, no momento, concentrado no segundo mandato como governador de Minas.