A pluralidade de olhares de realizadores mato-grossenses sobre o Pantanal chega à cidade de Laz Paz, na Bolívia, pela Mostra Audiovisual Sentimento Pantaneiro, de 26 a 29 de setembro. Uma iniciativa do Sebrae Mato Grosso, Instituto Guimarães Rosa e da Embaixada do Brasil em La Paz, em parceria com o Cineclube Coxiponés da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) que, paralelamente, realiza a 22ª edição da Mostra de Audiovisual Universitário e Independente da América Latina (MAUAL) em Cuiabá. A renomada cineasta Glória Albues, que, à ocasião, exibe sua mais recente obra que retrata o bioma, estará presente no evento representando os conterrâneos.
A Mostra Audiovisual Sentimento Pantaneiro integra o projeto ‘Compassos Pantaneiros’, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), voltado à promoção das produções culturais e criativas de Mato Grosso, especialmente aquelas realizadas por pessoas que trabalham com a temática do Pantanal ou que vivem no bioma. Um primeiro movimento de internacionalização, que encontra a proposta de itinerância da 22ª MAUAL em sua programação expandida, realizada de 27 de setembro a 01 de outubro no Teatro da UFMT.
“A primeira incursão será na Bolívia, mas já prospectamos para 2024 ações também no Paraguai, outro país que compartilha o bioma”, revela o analista de Economia Criativa do Sebrae MT, Felipo Abreu. “Dentro desse projeto, são várias as atividades que vamos desenvolver nas áreas da música, das artes visuais, do artesanato… E a mostra vem como ocupação desse espaço pelo audiovisual. A ideia é começar uma abertura de mercado internacional para nossas produções, posicionando Mato Grosso dentro do processo de circulação de obras artísticas e criativas. Muito se produz no estado, mas ainda precisamos levar essas produções para fora e, assim, colocá-las em evidência”, complementa.
A Mostra Audiovisual Sentimento Pantaneiro convida o público boliviano a uma imersão no universo da maior planície alagável do mundo, a partir de seis filmes de curtas e médias durações de realizadores de Mato Grosso: ‘Itinerário de Cicatrizes (2022, 19′)’, de Glória Albues, ‘Dois Bois (2022, 23′)’, de Persel Azul, ‘Águas encantadas do Pantanal (2000, 42′)’, de Danielle Bertolini e Amilcar Oliveira, ‘O rosto do mascarado (2021, 25′)’, de ngela Coradini, Duflair Barradas e Felippy Damian, ‘O minhocão do Pari: a origem da lenda (2022, 18′)’, de Salles Fernandes, e ‘Céu e Água (2007, 52′)’, de João Carlos Bertoli.
Assinam a curadoria os produtores culturais da UFMT, Luzo Reis e Thelma Saddi, e a pesquisadora Letícia Capanema, supervisora do Cineclube Coxiponés. Segundo eles, o conjunto de filmes selecionados tecem uma miríade de imagens, sons e afetos sobre o Pantanal mato-grossense. “Na Mostra Audiovisual Sentimento Pantaneiro, propomos uma curadoria de documentários e ficções que apresentam um mundo de cores, texturas, paisagens e sonoridades do bioma pantaneiro, além de ritmos, fisionomias, sotaques, linguajares, lendas e costumes dos povos da região. São filmes que retratam o Pantanal não apenas como importante biodiversidade, mas também como espaço de imensurável riqueza humana e cultural”.
Reconhecido pela Unesco como Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da Biosfera Mundial, o Pantanal (ou chaco) é um bioma fronteiriço, que abrange a divisa dos estados brasileiros de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o leste da Bolívia e o norte do Paraguai. Sua importância para o mundo é inestimável. Embora seja relativamente pequeno em termos territoriais, o Pantanal é imensamente diverso em sua fauna e flora, com uma diversidade de peixes do Pantanal maior do que a presente na soma de todos os países europeus. É território de povos indígenas, ribeirinhos e tradicionais, com suas culturas e seus saberes ancestrais pautados pelo respeito e equilíbrio na relação com a natureza.
A Mostra Sentimento Pantaneiro integra uma ampla programação cultural promovida pelo ‘Compassos Pantaneiros’ na capital boliviana, com diversos artistas mato-grossenses. Além das exibições dos filmes, o evento terá exposição de artes visuais com a curadoria de Ruth Albernaz, show musical de Estela Ceregatti, que apresenta repertório pantaneiro de fronteira e oferta workshops de sonoridades do Pantanal, incluindo Cururu e Siriri. O artista visual Carlinhos Viana também irá ministrar uma oficina de pintura.
Os filmes
Ainda conforme os curadores, os seis filmes selecionados são exemplares da força do audiovisual mato-grossense em suas diversas formas de retratar e discutir as questões do Pantanal. “São obras que evocam sentidos e sentimentos múltiplos de deslumbramento, admiração, indignação, e sobretudo, um senso de urgência no cuidado e na preservação do bioma, das culturas e dos povos pantaneiros”, destacam.
O linguajar, os costumes e os modos de vida do povo pantaneiro são abordados no documentário “Céu e água”. Uma amostra do Pantanal como grande patrimônio cultural de um povo de vida simples e conectado com a natureza mutável da região.
Já “Itinerário de cicatrizes” é um impactante registro das marcas deixadas pelo mais devastador incêndio da história do Pantanal. As cicatrizes das queimadas de 2020 sobre a terra e a vida das pessoas surgem nas imagens, sonoridades e nas sábias reflexões de indígenas e pantaneiros sobre a inexorável conexão entre o ser humano e a natureza.
Os filmes “Águas encantadas do pantanal” e “O minhocão do Pari – a origem da lenda” introduzem ao público histórias fantásticas do imaginário pantaneiro. “Rosto do Mascarado”, por sua vez, apresenta a tradição da dança dos mascarados, típica da região de Poconé, cidade que dá acesso ao Pantanal mato-grossense.
Já o curta “Dois Bois” se inspira no conto homônimo de Pedro Leite para transcriar a história de uma jovem que volta à fazenda onde nasceu para vingar a morte da mãe, revelando resquícios de um coronelismo pantaneiro, marcado por abusos e violências perpetrados por poderosos pecuaristas da região.
Fonte: ufmt